Opinião

O difícil ato de viver

A memória se exalta no ato da recordação. Gosto de reter os detalhes do passado

Cadastrado por

FÁTIMA QUINTAS

Publicado em 01/05/2024 às 15:29
Viver é o que há de fundamental no cotidiano - RELAX| A prática da Yoga possibilita benefícios e qualidade de vida

Há sempre o que repensar. A memória se exalta no ato da recordação. Gosto de reter os detalhes do passado. Nada me cansa ao seguir a cadência da retrovisão. Afinal, viver é o que há de fundamental no cotidiano. A cada momento, os elos vão se agrupando na tentativa de construir o pensamento. Urge acreditar nas minúcias; assim, vou acumulando detalhes cronológicos. Mora no Eu uma saudade que cresce a cada dia. Estou sempre disposta a abraçar os desígnios atemporais. Não sei quem sou, mas acredito na veracidade do instante. Afinal, viver é ultrapassar o calendário da existência. Guardo-me para dentro e reservo-me o direito de acolhero infinito. A cada segundo a vida se renova. Faço questão de acreditar na passagem dos dias. Afinal, tudo parece um acúmulo de singelezas.

Olhar para traz revigora a memória. Não adianta desprezar a passagem dos momentos. Afinal a estrada continua em um ritmo todo seu. A lembrança representa um valor especial em cada um. Hoje, de um jeito; amanhã, de outro. Sinto-me feliz em abraçar o calendário que me escapa, representativo, todavia, da própria dinâmica de cada um. Jamais serei oculta nos enigmas que se acumulam. Urge agregá-los no exato momento, então, a caminhada se processa com especial relevo. Gosto de entender o impossível, tão exuberante na sua enigmática sequência. Não nego a infinitude dos detalhes. Hei de decifrá-los nos minutos que se seguem. E a trajetória se processa para além de mim. A alma de todos é imensa e sabe nortear as iniciativas. Vou e volto em um ritmo pré-determinado. Jamais desejo ocultar-me das nuances. Urge aceitar a ciranda dos enigmas. Estarei sempre pronta para adivinhar o amanhã. Quantas perspectivas cada um carrega dentro de si! Difícil enumerá-las, mas existem, sem a menor dúvida. Que direi ao longo da jornada? Melhor emudecer e deixar que a escuta se processe. Saberei redimensionar as ilusões.

E a timidez me invade em momentos de argúcia. Não faz mal. Que os passos sigam a estrada que se apresenta. Importa uma longa trajetória, disposta a redesenhar os instantes vividos. Penso e repenso a cada minuto, como se tudo se apresentasse ao mesmo tempo. Será que não se apresenta? Vale entender o termômetro da sensibilidade. Estarei atenta aos momentos que se acumulam. Quantas vezes mudo de rumo? Não faz mal, independe da capacidade de escolha. Somos únicos na jornada. Há tantos mistérios que jamais conseguirei aplaudi-los. O importante é ter plena consciência da harmonia dos contrários. Quantas vezes os segmentos fogem ao alcance? Cabe contornar as alternativas com o intuito de entendê-las com assiduidade. Estarei negando alguma coisa? Não. Aceito os enigmas para, então, decifrá-los. Alguma contradição? Nenhuma. Basta a batalha dos dias com a intenção de definir o oculto. Acredito em todas as coisas e, ao mesmo tempo, desacredito. Então, erguerei o meu ego com a alegria de viver. Nada mais será dito a não ser Amém.

Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras

Tags

Autor

Veja também

Webstories

últimas

VER MAIS