Quando fazia graduação em Ciências Sociais na gloriosa Universidade Federal de Pernambuco, ouvia que o então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) era de direita. Muitos o condenavam. Como eu poderia condenar um presidente da República que debelou a inflação e trouxe os pobres para o consumo? Escutava também que FHC era neoliberal, já que fez, acertadamente, as privatizações e a reforma do Estado. Além de ter sancionado a Lei de Responsabilidade Fiscal. Quem criticava FHC era a esquerda, liderada pelo PT. O Lula, à época, sem a experiência de presidente da República, fazia críticas fortes ao Plano Real.
FHC foi um dos melhores presidentes da história. Se FHC não tivesse existido, o lulismo teria surgido? Não. Pois, certamente, o PT não teria feito, à época, as reformas que FHC realizou. Lula, maior líder popular da história do Brasil, sucede FHC. Ao assumir, Lula já tinha sido convencido de que não poderia acabar com as conquistas trazidas pelo fernandohenriquismo. Ele teria que seguir com elas. E assim fez. Por consequência, os feitos de FHC criaram as condições favoráveis para Lula realizar dois bons governos. O lulismo é produto do fernandohenriquismo. Sempre considerei descabidas as críticas de Lula e do PT ao PSDB, em particular, a figuras ícones da política brasileira: Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin.
FHC trouxe as agendas reforma do Estado, controle da inflação e equilíbrio fiscal. Elas seguem como prioridades. As eras Lula inseriram na opinião pública a importância e a extrema necessidade do combate à desigualdade social. FHC e Lula eram, portanto, dois atores políticos que poderiam estar juntos. PSDB e PT disputavam espaços eleitorais, mas tinham agendas complementares e benéficas ao Brasil.
Denúncias de corrupção vieram à tona nas eras FHC e Lula. A mais emblemática, na era Lula, foi o Mensalão (2005). Todas as denúncias possibilitaram o aperfeiçoamento das instituições brasileiras, em especial, as de controle. E não apequenam a importância de FHC e Lula para o Brasil. A Lava Jato surge em 2014 e em razão dela, o Brasil começa a mudar, após 16 anos de estabilidade democrática e política civilizada.
A Lava Jato revela o sistema produtivo da política. Variadas agremiações partidárias foram acusadas de corrupção. A Lava Jato teve mérito. Todavia, errou o tom. Desejou, rapidamente, mudar o sistema político que funcionava bem, pois tinha estabilidade e trouxe avanços econômicos, institucionais e sociais. Hoje, a Lava Jato sumiu. As instituições estão convencidas dos seus exageros.
Jair Bolsonaro é eleito presidente da República em 2018. Venceu porque era o antissistema e o antilulista. Com ele, o bolsonarismo. Muitos consideram Bolsonaro de direita. Ele não é de direita, pois o bolsonarismo não é democrático. O bolsonarismo não tem espaço na direita, no centro e nem na esquerda. A não ser que sofra processo de democratização.
Chegamos a 2024, com Lula na presidência da República e diante dos mesmos problemas que FHC encontrou em 1994: 1) Receio da volta da inflação; 2) Juros altos; 3) Forte desigualdade social; 4) Baixo crescimento econômico; 5) Necessidade do controle dos gastos públicos; 6) Demanda por uma reforma do Estado.
Os problemas do Brasil seguem sendo os mesmos. Sempre tenho a impressão de que o Brasil não avança. O tema golpe de Estado, após muito tempo, voltou à tona com o bolsonarismo e as instituições agiram. Espero que ele não volte mais, e que, o bolsonarismo, que é uma força não desprezível, seja democratizado. Lula pode ser candidato em 2026 contra uma direita autêntica, liberal, civilizada e não bolsonarista. O imponderável também pode acontecer: Lula e Bolsonaro disputando a eleição novamente.
Adriano Oliveira, Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa e Estratégias