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Flávio Brayner: Centro de Educação da UFPE completa 50 anos

Desejo ao Centro de Educação da UFPE, uma longa e profícua existência institucional, mas também que jamais ceda às tentações das modas pedagógicas

Por FLÁVIO BRAYNER Publicado em 11/03/2025 às 0:00

O Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco comemora, nesta semana, 50 anos de existência.

Na verdade, ele já existia, não como "Centro", mas como curso de Pedagogia pertencendo à antiga Faculdade de Filosofia de Pernambuco (FAFIPE), ali na Rua Nunes Machado (Soledade), onde funcionava também o antigo Ginásio de Aplicação, fundado em 1958, ligados à antiga Universidade do Recife, à época do Reitor Marcionilo Lins.

A formação do Centro de Educação e sua importância

Em 1975, Colégio de Aplicação e Curso de Pedagogia formaram o Centro de Educação da UFPE, localizado na Cidade Universitária. O projeto arquitetônico foi de Alexandre Borromeu, à época já professor de Arquitetura da UFPE.

Fui aluno do antigo Ginásio de Aplicação entre 1968 e 1974, e só conheci o atual Centro de Educação (CE) em 1979, quando estava fazendo minha Licenciatura em História.

Hoje, o CE atende a dezenove Licenciaturas de toda a Universidade, isso quer dizer que, depois de ter cursado as disciplinas fundamentais de seus cursos originais (Física, Química, História...) os candidatos à profissão de professor do ensino Fundamental e Médio passam pelas chamadas "disciplinas didáticas".

Isso quer dizer, com muita simplicidade, que não é porque eu sei muita Matemática, que eu serei um bom PROFESSOR DE MATEMÁTICA. Uma coisa é conhecer, outra, muito diferente, é ensinar aquilo que se conhece!

Mais do que isso, o CE prepara professores para o Ensino Fundamental. Coisa complicada! Por que, aqui, eu (professor) preciso saber o que se passa na cabeça de uma criança quando ela está "aprendendo".

Ou vocês acham que basta "ensinar" para que haja "aprendizagem"? Essa formação do professor passa pelas disciplinas da Psicologia da Aprendizagem, das Técnicas de Ensino, das estruturas Administrativas e Normativas da educação nacional e dos Fundamentos Filosóficos da educação: são os quatro núcleos formativos que compõem aquele Centro.

Produção acadêmica e impacto na educação

Mas, pra além da formação do professor, dispomos também de três Pós-Graduações (PPGEDU, EDUMATEC, MPEB), dois chamados de "acadêmicos" e um chamado de "profissional", em que os candidatos já exercem a profissão e realizarão pesquisa ligada diretamente à sua prática cotidiana nas escolas.

Isso significa que aquele CENTRO produz uma massa crítica voltada para a compreensão de nossos principais problemas e gargalos pedagógicos, institucionais e sociais, e seus pesquisadores e professores publicam regularmente em Revistas nacionais e estrangeiras de alto nível, além de participarem de Comitês Científicos de diversas entidades nacionais.

Com mais de 4.000 alunos (contando a Graduação, Licenciatura e as Pós Graduações), nossos egressos ocupam cargos de professores e gestores nas redes públicas e privadas de todo o estado, e muitos já atuam nas Universidades (públicas e privadas).

Colégio de Aplicação e o legado do CE

Não me cansarei nunca de reafirmar que minha grande paixão acadêmica foi e continuará sendo o Colégio de Aplicação, de onde sai no ano de 1974, portanto antes da transferência para a Cidade Universitária.

Pensado como campo de estágio na formação do professor, o CAp foi criado em 1958 e teve como sua primeira Diretora a professora Maria Antônia McDowell (cuja presença física era uma antecipação do Juízo Final!).

Ali, eu não tive apenas uma experiência escolar: eu tive um mundo intelectual, político e moral que se abriu diante de mim e, declaro sem qualquer exagero, que nenhuma outra instituição ou nível de formação (UFPE, Sorbonne, Doutorado, Pós Doutorado) tiveram efeito tão profundo e tão existencialmente decisivo, como ter estado naquele Colégio, naquele tempo e com aquelas pessoas! Fica registrado, mais uma vez - e sempre!-

Minha mais profunda gratidão a professores como Myrtha Carvalho, Socorro Ferraz, Antônio Montenegro, Edson Bandeira, Élcio Mattos, Denis Bernardes, em relação a quem permanecerei até o último de meus dias um... inadimplente: nunca poderei "retribuir" ou "pagar" pelo que eles fizeram de mim e por mim!

Transformações na educação

Em 1975, era Diretor do Centro de Educação o professor Itamar Vasconcelos, de quem fui aluno. Penso que aquele Centro experimentou, desde então, em suas disputas ideológicas e pedagógicas internas, os grandes conflitos intelectuais que marcaram aqueles anos 70 em diante.

Ali, disputavam "tecnicistas", "escolanovistas", "gramscianos", "psicologistas", "cognitivistas", "paulofreireanos"..., todos querendo capturar a alma de nossos formandos e fazer deles "cidadãos ativos, conscientes e intervenientes". Se conseguimos, é outra história!

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Parabéns ao Centro de Educação da UFPE

Aquele Centro forneceu ideias, projetos e resultados de pesquisa para as instituições educativas locais, e muitos de seus professores e pesquisadores assumiram, em um ou outro momento, cargos na administração da educação estadual ou municipais.

Lembro os nome de Edla Soares, João Francisco de Souza, Carol Perucci, José Batista Neto, eu mesmo(!), Alfredo Gomes, Eliana Mattos..., para lembrar alguns. Isso, numa época em que havia uma mais estreita relação entre os centros de pesquisa e ensino e o fornecimento de quadros gestores para a administração pública da educação.

Essa época passou, e a nossa substituiu a formação do cidadão pelo "empreendedor"; a educação integral pelo "problema de gestão"!

No aniversário de seus 50 anos, eu desejo ao Centro de Educação da UFPE, não apenas uma longa e profícua existência institucional, mas também que jamais ceda às tentações das modas pedagógicas efêmeras e que, na verdade, têm muito pouco a ver com a ideia de FORMAÇÃO, que é muito mais do que a simples "profissionalização"! Fica aqui minha ingênua esperança e, claro, meus "Parabéns"!

Flávio Brayner, professor Emérito da UFPE

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