Vandalismo em Brasília deve ser investigado como ato antidemocrático

A convocação de simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro à luta armada para impedir a diplomação motivou a decretação de prisão temporária de José Acácio Serere Xavante, indígena bolsonarista acusado não apenas disso, mas de promover atos antidemocráticos em vários pontos do Distrito Federal, inclusive o hotel em que Lula e Alckmin se encontram hospedados
JC
Publicado em 14/12/2022 às 5:00
Ônibus e carros foram queimados em Brasília durante manifestação de bolsonaristas, também houve tentativa de invadir a sede da PF Foto: Evaristo Sá/AFP


Depois de cruzarem há muito tempo as fronteiras da liberdade democrática para atacar a democracia, manifestantes bolsonaristas em Brasília ultrapassaram os limites do vandalismo, na segunda-feira. No mesmo dia da diplomação de Lula e Geraldo Alckmin pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), carros e ônibus foram incendiados, na tentativa de invasão da sede da Polícia Federal.

A convocação de simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro à luta armada para impedir a diplomação motivou a decretação de prisão temporária de José Acácio Serere Xavante, indígena bolsonarista acusado não apenas disso, mas de promover atos antidemocráticos em vários pontos do Distrito Federal, inclusive o hotel em que Lula e Alckmin se encontram hospedados. O vandalismo começou, supostamente, após a prisão, mas a balbúrdia pode ter sido orquestrada antes.

O governo do Distrito Federal, a Polícia Federal e o Ministério Público qualificaram o vandalismo como ato antidemocrático, em claro objetivo de tumultuar a cerimônia de diplomação. E é assim que deve ser investigado, como crime antidemocrático, bem como devidamente punidos os seus participantes. A violência empregada – em nome de deturpado conceito de liberdade de expressão – pede a resposta à altura das instituições que defendem a democracia brasileira.

Observadores internacionais, incluindo representantes diplomáticos e chefes de Estado, demonstraram preocupação, após explícita manifestação golpista que terminou em vandalismo. A mobilização externa pode ganhar ainda mais representatividade, em defesa da normalidade democrática, com a presença maciça de delegações estrangeiras na posse de Lula e Alckmin, em 1º de janeiro. Será uma forma de referendar a legalidade e rechaçar o golpismo que persiste em grupos minoritários de apoiadores do atual presidente da República. Por sinal, apesar da gravidade do ocorrido em plena capital federal, Jair Bolsonaro manteve o silêncio da omissão, visto por muitos como incentivo aos golpistas.

O presidente ainda no exercício do mandato deveria ser o primeiro a se postar alinhado com as instituições e a democracia. Infelizmente não é que se vê, com um comportamento ambíguo e, na maioria das vezes, omisso mesmo, transmitindo a mensagem de concordância velada com os golpistas. O ápice do golpismo no presidente se deu num 7 de setembro de triste memória, quando Bolsonaro inflamou plateias pregando contra a Justiça e o Congresso Nacional. Sem a adesão que esperava, especialmente nas Forças Armadas, o chefe do Executivo baixou o tom, desconversou e aceitou participar do processo eleitoral que culminou com a sua derrota nas urnas.

A semelhança com atos terroristas impõe menos condescendência das autoridades com os manifestantes que pregam o golpe de Estado abertamente. A responsabilização dos participantes, de patrocinadores identificados e até de integrantes do atual governo federal precisa acontecer, traçando a linha da legalidade sobre o ímpeto dos detratores da democracia.

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