O lançamento de um indicador específico para a Economia da Cultura e Indústrias Criativas (ECIC), num país repleto de diversidade, pródigo em tradições e manifestações artísticas, representa um passo importante para o avanço das políticas públicas e do investimento privado no setor. Para se ter uma ideia da dimensão dessa participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, o PIB da ECIC foi maior do que o produzido pelo setor automotivo em 2020. O indicador criado pelo Observatório Itaú Cultural apontou que 3,1% das riquezas no Brasil naquele ano vieram de atividades relacionadas à cultura e à criatividade, o equivalente a mais de R$ 230 bilhões.
De 2012 a 2020, o segmento passou por uma expansão de quase 80%, segundo o levantamento realizado, enquanto a economia em geral cresceu 55% no período. Os números devem ser atualizados com informações da crise da pandemia, bem como dos cortes efetuados durante a presidência de Jair Bolsonaro. Estima-se que a queda nos últimos anos seja significativa. De qualquer modo, a plataforma se apresenta como base confiável para o planejamento cultural e a atração de investimentos para a economia criativa, seja no desenvolvimento de projetos de fomento, seja para o apoio à realização de eventos que congregam diversos profissionais e empreendimentos.
Com pouco mais de 4.300 empresas criativas, a participação da ECIC no PIB de Pernambuco ainda é baixa, em comparação com a proporção nacional. E poderia ser menor, se não fosse a participação de mais da metade desse valor pela indústria da moda no estado. Apenas 0,62% da riqueza pernambucana é proveniente da economia criativa.
Trata-se de um dado expressivo para a necessidade de ampliação dessa participação, bem como do potencial de contribuição maior da cultura na nossa economia. Com esse propósito, não é difícil fazer um mapeamento das principais oportunidades de projetos, impulsos e estímulos para um alcance de melhores resultados – ainda mais crucial se levada em conta a esperada queda desde 2021.
Se Pernambuco é um estado empobrecido nos últimos anos, perdendo posições para outros estados do Nordeste e vendo alargar o fosso da desigualdade social, a economia criativa aparece como perspectiva de transformação dessa realidade. A participação de menos de 1% no PIB não é compatível com a nossa história cultural, e muito menos com a vocação inovadora ligada à era do conhecimento. Há espaço e estrutura para elevar os R$ 7,3 bilhões de receitas em 2020, assim como os lucros de R$ 1,4 bilhão.
Para os 7% dos trabalhadores existentes em Pernambuco que se dedicam à indústria criativa, bem como para os que vierem a se ocupar disso, os resultados podem ser muito melhores.
O panorama encontrado aqui é semelhante à média nordestina, e equivalente à participação cultural e criativa no Ceará e na Bahia. No Sudeste, a participação chega a 3% do PIB regional. A partir do novo indicador, a ECIC passa a ser vista como uma componente essencial da economia, cuja relevância deve ser socialmente valorizada e economicamente vislumbrada, com repercussões coletivas de grande alcance.