Num planeta em mudança climática e de biodiversidade em declínio, a explosão populacional de uma espécie pode ser um risco – para todas as espécies num habitat global em crise. Esta semana, segundo as estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), a China deve perder o topo da quantidade de habitantes na Terra para a Índia. Com a substituição, uma vez que os chineses representam a ideia de superpopulação há décadas, está de volta o debate sobre os efeitos do crescimento populacional sem controle, num mundo em que o desequilíbrio demográfico tem cobrado seu preço, elevando a miséria e a degradação ambiental, especialmente nos países mais pobres, com menores condições de atingir um equilíbrio no aumento populacional.
O Brasil integra a lista dos dez mais populosos, ao lado dos Estados Unidos, da Rússia, e do México, entre outros. Seja pela dimensão territorial, seja pelas aflições sociais que fazem parte do cotidiano de milhões de brasileiros que passam fome, sede, frio e todo tipo de privação, a discussão deveria nos interessar.
Mas, ou se tornou um tabu do politicamente incorreto, ou não parece interessar aos gestores públicos que lidam com os problemas acoplados a grandes populações. Quanto mais gente sofrendo, quanto mais demandas, mas difíceis se tornam as soluções, que precisam ser aplicadas em escala compatível com a sua origem.
Enquanto a Índia se encaminha para 1,5 bilhão de pessoas em seus limites, a China vem reduzindo a população, com a estimativa de 1,4 bilhão de indivíduos em processo de redução, com mais mortes do que nascimentos. As informações são incertas, e a ONU trabalha com aproximações da realidade – há mais de dez anos a Índia não realiza um Censo populacional. A economia indiana ganha cada vez mais relevância no plano global, fortalecida pela migração de empresas que buscam escapar da dependência chinesa. Os desafios, no entanto, crescem na mesma proporção que a demografia, sem que se vislumbre um futuro tranquilo para a geração atual e seus descendentes diretos.
Cerca de 80% dos trabalhadores são informais. Há muitas dúvidas sobre o modelo de desenvolvimento que pode pautar a Índia, e mesmo a reprise do modelo chinês, com a facilidade de mão de obra barata, encontra-se em xeque diante do avanço da tecnologia, entre outros fatores.
A educação de crianças e jovens para o trabalho, em paralelo à abertura de empregos em quantidade suficiente para acolher a multidão que entra em idade ativa, não são questões restritas às nações com mais de 1 bilhão de habitantes. Assim como a observação da demografia para a redução da miséria e a melhoria da qualidade de vida, inclusive levando em consideração a pressão contínua sobre o meio ambiente, cada vez mais atacado pelo consumo humano. E não se trata de restaurar polêmicas teóricas sobre a superpopulação e a capacidade do planeta, e sim, de buscar compreender o que atravessamos numa ótica realista, sem preconceitos ou negacionismos diante de um evidente problema.