Estudo feito com dados de 2021 em 65 países coloca o Brasil como o sexto pior do mundo em habilidades básicas de leitura. O resultado é ilustrativo do quanto a educação, que em outros lugares é caminho, aqui se tornou um obstáculo ao desenvolvimento, por falta de visão política que seja capaz de priorizar as condições elementares para a melhoria do processo educacional. Mais de um terço – 38% - dos alunos do 4º ano do ensino fundamental em nosso país não dominam a leitura, tendo comprometida a capacidade de compreensão, e portanto, também o aprendizado daí pra frente. Sem ler e compreender, as informações que deveriam ser apreendidas são perdidas, em diversos ramos do conhecimento.
Para se ter uma ideia da distância em relação a outros países, em 21 deles o percentual não passa de 5%. A leitura como meio de se aprender novos conhecimentos é tido como essencial. Aqui, pelo visto, não. Cabe ao poder público cuidar para que ao menos o elementar aconteça. E no tocante à leitura, a geração que estava no 4º ano em 2021 está fadada a uma vida difícil. Os números da pesquisa PIRLS, que mede a evolução internacional em progresso de leitura, revelam que somente 24% dos estudantes brasileiros detinham habilidades básicas para ler, e um percentual baixíssimo – só 13% - foi considerado proficiente na compreensão da leitura.
A colocação no ranking é vexatória e dramática, para uma nação com imensa dívida social e o desafio de inclusão de dezenas de milhões de cidadãos. O Brasil tem o mesmo nível de leitura do Irã e do Kosovo, e está na frente apenas da Jordânia, do Egito, do Marrocos e da África do Sul. Cabe destacar a ausência de outros integrantes do BRICS na lista dos piores: Rússia, China e Índia, de vastos territórios, apresentam perspectivas melhores para o futuro desenhado pela educação alicerçado na habilidade de leitura.
A situação detectada abrange quase 5 mil alunos da rede fundamental brasileira, em 143 municípios de 24 estados. Em mais de duas décadas de existência do estudo, é a primeira edição da PIRLS de que o Brasil participa. O que é bom, para quem sabe se começar a mudar o quadro evidenciado de dificuldades na educação que se encontram nos primeiros passos, desde a leitura. Algumas diferenças apareceram no detalhamento dos dados, como o fato de meninas lerem melhor que meninos, e a compreensão de estudantes pretos, pardos e indígenas estar mais comprometida – reflexo possível da desigualdade social perpetuada.
Educadores recordam um desafio subjacente ao gargalo apontado: a formação e ampliação do hábito da leitura entre os brasileiros. Para isso, iniciativas dos governos em todos os níveis, e da sociedade em geral, precisam estimular a necessidade e o prazer de ler, dentro e fora do ambiente escolar. O JC participa desse esforço. Além do trabalho jornalístico diário que já é tradição, lançamos, no Dia Mundial do Livro, em abril, uma coluna dedicada à literatura, a Literária, com notícias e enfoques para proporcionar opções diversificadas de leitura.