A facilidade com que organizações criminosas mandam e desmandam no Brasil tem se favorecido da falta de estrutura das forças de segurança, no combate à articulação e ao poder de fogo das facções. Por isso, é importante registrar o avanço que se tem visto em Pernambuco, com a realização de operações, nos últimos meses, que têm como alvo a identificação e a prisão de integrantes do crime organizado, bem como a redução efetiva das atividades que molestam e agridem a população. Com inteligência, paciência e o uso regulado da repressão contra os criminosos e suas redes, a polícia pode ser capaz de iniciar um processo consistente de reversão das altas taxas de criminalidade em nosso estado, que se refletem no elevado nível de medo que faz parte do cotidiano dos pernambucanos.
Uma operação, há poucos dias, prendeu 24 integrantes de uma facção, Trem Bala, que torturava as vítimas, matava e enterrava em cemitérios clandestinos. A operação aconteceu nas cidades do Recife, Limoeiro, Ipojuca, Igarassu, Abreu e Lima e Palmares. O grupo tem atuação, sobretudo, na praia de Porto de Galinhas, que ganhou o noticiário nacional também pela violência, além da beleza que encanta os turistas de todo o país e do exterior. A insegurança no polo turístico afeta a vida de quem mora lá, e pode afastar os visitantes, prejudicando a economia local e estadual. Assim, o investimento na segurança se mostra como essencial para a preservação, também, da imagem do destino.
A facção mantém ligações com o PCC e o Comando Vermelho, do Sudeste, e comete crimes como tráfico de drogas, venda ilegal de armas e lavagem de dinheiro, além da tortura e assassinato. As investigações da Polícia Civil indicam uma estrutura organizacional que vai de vendedores e gerentes do tráfico até laranjas que emprestam contas bancárias para a lavagem de dinheiro. Sua área de atuação inclui as cidades de Ipojuca, Sirinhaém, Cabo de Santo Agostinho, Itamaracá, Escada e Jaboatão dos Guararapes. Vê-se como as populações desses municípios são ameaçadas pela criminalidade.
Como o JC informou na edição de ontem, o grupo movimentou pelo menos R$ 10 milhões, na estimativa da polícia, entre 2021 e 2022. O poder de fogo se revela no gasto de R$ 300 mil em armas e R$ 114 mil em munições e coletes à prova de bala. É contra esse tipo de bandido que a segurança em Pernambuco, e no Brasil inteiro, precisa lidar. A desarticulação do crime organizado e a prisão dos seus líderes – quando já não estiverem presos, pois alguns dão ordens de dentro dos presídios – deve ser prioridade conjunta da segurança pública nacional e estadual.
A operação que se noticiou esta semana vem de investigações feitas desde 2018. A coleta de indícios e de provas é fundamental para que se chegue ao objetivo de barrar as atividades criminosas financiadas por muito dinheiro e incríveis estruturas. Acelerar as investigações, aprimorar a inteligência, aparelhar a polícia e promover operações que não ofereçam riscos para a população, são desafios incontornáveis para que a segurança pública cumpra sua função de proteger o cidadão e garantir o bem-estar da coletividade.