Katalin Karikó e Drew Weissman. Ela, bioquímica nascida na Hungria. Ele, imunologista dos Estados Unidos. A ambos a humanidade agradece pelo trabalho reconhecido, ontem, com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina. As descobertas deles, que vieram da ciência básica, possibilitaram o desenvolvimento de vacinas contra a maior ameaça à vida humana em quase um século: a pandemia de Covid, que matou quase 7 milhões de pessoas, mais de 700 mil somente no Brasil. O compartilhamento da premiação do prestigioso Nobel representa o esforço conjunto que não foi apenas desses dois grandes cientistas, expoentes em suas áreas, mas de toda a comunidade científica, unida no propósito de evitar o prolongamento da dor e a multiplicação dos óbitos.
A tecnologia de imunização de mRNA foi a salvação contra a ampliação dos males causados pelo coronavírus no planeta. O material genético produzido em laboratório consegue provocar a proteção de anticorpos a partir de instruções que criam a proteína do vírus, levando o sistema imunológico a entrar em ação. Os resultados dos estudos foram publicados em 2005, quando o pesadelo da pandemia não era realidade. Em 2010, a tecnologia foi adotada por empresas que se destacaram, mais tarde, na produção de vacinas contra a Covid, a BioNTech e Moderna. Combater o coronavírus dessa forma foi arriscado e pioneiro, mas além da eficácia obtida, a nova tecnologia já é cogitada para vacinas para alguns tipos de câncer, e outras doenças. Com persistência e inovação, coragem e foco, caminha a ciência, sem espaço para negacionismos e as mentiras disseminadas por fake news durante a crise pandêmica, que até hoje afetam as coberturas vacinais em diversos países.
Katalin e Drew trabalham na Universidade da Pensilvânia (EUA). Todos os anos, o alto valor em dinheiro e a fama proporcionada pelo Nobel também valoriza a pesquisa acadêmica, mostrando que os caminhos do avanço científico dependem de bases sólidas em pesquisa e evolução do conhecimento – muitas vezes passando por erros e correções do que se sabia antes. Na guerra da ciência contra a Covid-19, o medo era que não houvesse tempo para frear a dizimação em curso. Graças a pesquisas de base, no entanto, e à confiança na nova tecnologia, depositada por empresas de biotecnologia anos antes da pandemia acontecer, milhões de vidas puderam ser salvas – depois de quase 7 milhões de vidas perdidas.
É importante que o Nobel de Medicina de 2023 não apenas ressalte a necessidade da atividade científica desde a pesquisa básica, mas também difunda a mensagem de que a busca da saúde é um dos objetivos primordiais das faculdades permitidas ao ser humano. A premiação aos pesquisadores que, de modo antecipado, venceram o coronavírus, deve ser vista como um plural e uníssono “muito obrigado” de uma espécie que, nem sempre, põe a vida em primeiro lugar, como fazem os grandes cientistas.