ATAQUE A ISRAEL

Desafio diplomático é maior

Para reduzir o ímpeto de revide, inibir novos ataques terroristas e limitar o diâmetro da guerra, a diplomacia busca reconquistar protagonismo num mundo em campo minado

Cadastrado por

JC

Publicado em 09/10/2023 às 0:00
Diplomacia e guerra - Thiago Lucas

Às vésperas do que seria um acordo entre a Arábia Saudita e Israel, as investidas do Hamas em solo israelense usam práticas terroristas para criar uma zona de guerra que ameaça se estender a outros países, inclusive com participantes distantes envolvidos, numa escalada bélica imprevisível. O discurso do presidente dos EUA, Joe Biden, logo após os primeiros ataques, ao manifestar um aviso para que outros grupos terroristas não aproveitassem a ocasião, parece ter sido a senha na direção contrária, animando disposições que a esta altura não se sabe se já estavam programadas. Europeus e norte-americanos compartilham o medo de ações terroristas em alvos judaicos, enquanto os governos prometem ampliar a segurança para proteger sua população.
A tensão no Oriente Médio se espalha em rápida velocidade, na medida em que a reação israelense, como esperado, se materializa no rumo de bombardeios extensos e, segundo se cogita, da reocupação da Faixa de Gaza, na tentativa de expulsar o Hamas, que controla a região palestina há mais de uma década. No meio do fogo-cruzado, a diplomacia internacional corre atrás do atraso, em uma situação não resolvida por décadas – a soberania territorial requerida pelos palestinos. O problema é que os líderes são escassos, a conjuntura bélica global, em especial na Ucrânia, favorece a inércia da violência, e os terroristas de vários grupos enxergam na ousadia do Hamas uma oportunidade para explorar a sede de sangue de suas fileiras radicais.
Do Conselho de Segurança das Nações Unidas à Liga Árabe, passando pelo Papa Francisco e o presidente da França, Emmanuel Macron, duas vozes que ainda podem ter alguma influência para construir um consenso depois das mortes e das ruínas que se acumulam, o desafio diplomático é frear o revide israelense, sem comprometer a inibição de novos ataques terroristas em Israel ou em qualquer país. E ainda, restringir o diâmetro da guerra à conturbada história do conflito com os palestinos, sem a expansão temida fora das bordas de Gaza. Não vai ser fácil, pois é como atravessar um campo minado que toma a dimensão do planeta. Para trazer a guerra de volta à retórica, às disputas de narrativas do fórum diplomático, será preciso recuperar o protagonismo perdido em muitos anos de vácuo de lideranças e de crise na representação política, onde a costura da diplomacia se insere.
O equilíbrio do consenso está distante, no momento em que o céu é riscado pelo rastro de mísseis que desabam sobre inocentes, dos dois lados. Mas a diplomacia não pode desistir. O trabalho, persistente, vai continuar. A humanidade anseia pelo fim das guerras para enfrentar diversos problemas, com que os governos e as facções terroristas não sabem como lidar sem o ensurdecedor recurso da escolha de um inimigo para eliminar.

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