O investimento privado de 250 milhões de dólares dá uma ideia da importância da nova fábrica de recombinantes, a ser inaugurada em dezembro no complexo da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia – Hemobrás, estatal com sede em Goiana, na Mata Norte pernambucana. A unidade será apenas a quarta em todo o planeta a produzir o medicamento Hemo-8R, que será utilizado no tratamento da hemofilia A. Os recombinantes não são achados facilmente no mercado internacional, o que confere à produção da nova fábrica um enorme potencial comercial – que só será possível pelo fato de a substância não precisar do plasma sanguíneo em sua composição, permitindo a distribuição do excedente ao mercado.
Com a capacidade para produzir quase o dobro do que é consumido no Brasil, o excedente poderá gerar lucro para a Hemobrás. A estatal deve repassar para o Ministério da Saúde, a preço de custo, hemoderivados e recombinantes, proporcionando economia de centenas de milhões de reais gastos anualmente com essas substâncias, quando compradas no exterior. O início da operação no ano que vem é o resgate de uma história de quase 20 anos, desde a criação da Hemobrás, em 2005. Nesse período, desinteresse, guerras políticas, má gestão e corrupção atrasaram o cronograma de implantação. A expectativa é que, a partir de agora, com o aporte de recursos japoneses e o compromisso dos gestores em atividade, a estatal ganhe competitividade e relevância globais, inserindo Pernambuco no mapa da biotecnologia, um mercado indispensável, concorrido e de poucos participantes, no caso dos hemoderivados e recombinantes.
O investimento bilionário do governo federal na Hemobrás traduz a política estratégica de evitar a dependência do fornecimento externo, e fazer do Brasil um agente produtor, e não somente consumidor dessas substâncias. A fábrica de hemoderivados está prevista para ficar pronta em 2025, para entrar em operação no ano seguinte. A coleta de 500 mil litros de plasma poderá à demanda nacional de seis hemoderivados de alto consumo: albumina, imunoglobulina, complexo protombínico, Fatores VIII e IX, e fator de Von Willebrand. Com isso, o país será autossuficiente em hemoderivados, numa conquista esperada desde o planejamento da Hemobrás.
O horizonte da biotecnologia do sangue – com plasma ou sem – abre a perspectiva de intensificação da aplicação do conhecimento científico, explorando a vocação pernambucana de prestação de serviços relativos à saúde. Antes mesmo de surgir, e a poucos meses de se tornar, enfim, realidade, a Hemobrás resgata a visão original de sua concepção, com a promessa de colocar o estado e o país numa rede especial para a saúde humana. A missão dirigida ao mercado interno, por sua vez, não impede o acesso ao mercado internacional, desde que haja condições para a produção do excedente, após a garantia de atendimento à população brasileira.