BRASIL

País rico de população pobre

Apesar de ganhar posições no ranking e se tornar a nona economia do mundo, o Brasil não escapa da desigualdade que deixa a maioria do povo na miséria ou na pobreza

Cadastrado por

JC

Publicado em 21/12/2023 às 0:00
Reforma tributária é promulgada no Congresso Nacional
Reforma tributária é promulgada no Congresso Nacional - Thiago Lucas

Mesmo com a previsão de crescimento não tão extraordinário em 2023, de cerca de 3%, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou relatório segundo a qual o Brasil deve se tornar a nona economia do planeta este ano, com Produto Interno Bruto de 2,13 trilhões de dólares. O resultado ultrapassa a estimativa para o Canadá, que é de 2,12 trilhões de dólares. A diferença, claro, entre outras coisas, está na quantidade de gente – enquanto as fronteiras canadenses abrigam pouco menos de 40 milhões de pessoas, muitas das quais imigrantes, somos mais de 200 milhões de brasileiros. O que sobraria para cada indivíduo já seria menos, mais ainda é pior, por conta de grave desigualdade que marca a divisão das riquezas por aqui.
A tendência, de acordo com o FMI, é que o Brasil volte a ser a oitava economia do mundo em 2026. Entre 2010 e 2014, o país chegou a ser a sétima. O desafio é duplo, vislumbrado nesse desempenho: continuar crescendo para assegurar uma base econômica que dê suporte a uma melhor distribuição de renda, mas sobretudo, conseguir efetuar a repartição da riqueza produzida de modo a superar desigualdades. E ao mesmo tempo, buscando destravar gargalos que têm perpetuado a injustiça social ao longo dos séculos, a exemplo dos problemas estruturais na educação e na saúde, pondo para baixo o desenvolvimento humano e a qualidade de vida da maioria da população.
A má notícia do FMI é que o Brasil deve crescer apenas 1,5% em 2024, o que retoma a necessidade de aceleração do crescimento – muito além do alcance real, nos últimos anos, do programa oficial que leva este nome. Não é apenas sobre destravar obras paralisadas ou atrasadas, e sim, imprimir um ritmo de dinamismo que se reflita em maior aproveitamento dos potenciais criativos dos brasileiros, individual e coletivamente, bem como gerar um ambiente de negócios que resulte em maior competividade para as empresas e para o país. Pelo que se vê nas últimas décadas, isso não é simples, nem fácil. E enquanto não formos por tais caminhos, a recuperação econômica no ranking dos maiores de pouco serve, na prática, para uma população pobre.
A celebração pela subida no ranking é legítima, mas não deve ser exagerada. O Brasil continua sendo uma nação em desenvolvimento com inúmeros desafios pela frente, como o demonstram milhares de cidadãos pedindo comida nas ruas. A violência urbana é outro sintoma da desigualdade que não pode ser minimizado, ou mesmo empurrado de lá para cá entre as esferas de governo. Cuidar da desigualdade nos municípios, por exemplo, é uma forma de prevenir escaladas de violência e o aumento da fome entre os habitantes. Nenhum agente público deve se eximir de fazer a sua parte na construção de um país melhor, começando pela realidade local – afinal, o bem coletivo é o propósito de qualquer governo.

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