O incentivo do alistamento eleitoral para a parcela da juventude que não precisa votar, mas pode fazê-lo, caso queira, é um chamado institucional à participação na vida coletiva. Para que seja eficaz, a campanha da Justiça Eleitoral, lançada esta semana, com esse propósito, deve chamar a atenção dos adolescentes para as demandas da sociedade, e para a importância da contribuição de cada indivíduo no atendimento de tais demandas. Afinal, na democracia, a política não tem um lado só – de quem recebe a responsabilidade de tomar as decisões e ordenar despesas, cuidado diretamente dos problemas da população. Os políticos representam a vontade soberana do povo que os elegem, e cada eleição se apresenta como oportunidade para confirmar ou refutar a confiança nos eleitos e eleitas designados para cumprirem o mandato determinado pelas urnas.
Mas ao redor do chamamento à juventude está uma questão que não se pode desprezar. No Brasil, a qualidade da política, há anos, deixa muito a desejar. Tanto que nem mesmo os adultos mais velhos demonstram grande interesse em se envolver com a missão política. Não por acaso, a maioria dos eleitores não se recorda dos votos concedidos nas últimas eleições. E um número crescente vai até a urna eletrônica para expressar sua indignação, votando em branco ou nulo para um ou mais cargos em disputa, por não encontrar candidatura digna de escolha.
O ciclo vicioso que alimenta a crise nas democracias contemporâneas tem pelo menos três fatores que se complementam: o mau exemplo de políticos eleitos que se importam menos com os dramas coletivos do que em tirar proveito do poder de que dispõem; a ojeriza que repetidas promessas não cumpridas causam, na população, em relação aos políticos; e o desinteresse pela agenda política, cujos efeitos incluem um vácuo de renovação dos quadros partidários, a ausência de líderes com experiência de gestão pública, e o risco de deterioração das instituições, agravado quando as disputas eleitorais alijam o centro, formador de consensos, sendo decididas pelos extremos.
A campanha deste ano – que terá eleições para prefeituras e câmaras de vereadores – será reforçada nas redes sociais de maior audiência dessa faixa etária, buscando atrair com linguagem acessível, no lugar virtual de grande frequência, cativando o interesse pelo valor do voto. Os jovens podem tirar o título de eleitor até 8 de maio, para teclar seus votos nas urnas eletrônicas em outubro. Quanto mais for bem-sucedida a campanha pela participação da juventude, maior a expectativa de engajamento, também, nos debates políticos que definem os rumos do país. O pior cenário para a democracia é a apatia, que pode se deixar levar por aventureiros e discursos golpistas, como tem se visto no mundo inteiro. A solução não é reduzir a democracia, mas reforçá-la, com mais gente participando e se candidatando, para que daí surjam e se consolidem líderes que possam dar bons exemplos para o eleitorado.