O roteiro parecia definido após a ratificação dos dois principais candidatos à presidência, para as eleições marcadas para novembro. De um lado, o democrata Joe Biden tentaria a reeleição, depois de ter seu nome referendado pelo partido, com essa missão. Do outro, o ex-presidente Donald Trump, antecessor de Biden, que no último pleito lhe tirou a reeleição. Biden fragilizado pela idade e pela saúde, enquanto Trump em candidatura turbinada pela sobrevivência a um atentado onde a bala passou raspando em sua orelha. Mas a quatro meses da votação, o cenário de campanha ganha uma reviravolta: a desist&eci rc;ncia do presidente para continuar na Casa Branca surge como resposta às pressões internas e externas ao partido governista, mostrando como a vitalidade da democracia é capaz de se renovar – mesmo que se mantenham dúvidas sobre os efeitos da mudança, ou continue imprevisível o desfecho eleitoral.
A revelação da desistência ganhou forma e repercussão pela publicação de textos assinados pelo próprio Biden, pela vice, Kamala Harris, apontada por Biden como sucessora na disputa, e pelo ex-presidente Barack Obama, que não menciona Harris e sugere um processo aberto de escolha até a convenção dos democratas, em agosto. O tom de agradecimento que o partido deve preservar em referência ao atual presidente norte-americano enfatiza o seu papel histórico, com a saída da corrida eleitoral. Mas a recomendação de que Kamala Harris tome o seu lugar na campanha pode não ser imediatamente atendida, até para demonstrar cuidado e compro misso democrático na escolha do novo nome.
Antes dos debates se intensificarem a respeito de temas como a imigração, a guerra na Ucrânia e a destruição de Gaza, a confirmação do nome do ou da concorrente de Trump vai dominar o noticiário político nos Estados Unidos, com destaque inegável na cobertura internacional. Caso seja de fato uma mulher – ou até duas na mesma chapa, como se deu para o governo de Pernambuco – a perspectiva histórica se acentua, pois jamais uma mulher foi eleita para a Casa Branca. Além disso, a campanha democrata se reanimaria duplamente, pela conhecida aversão de Donald Trump às mulheres, com evidências de misoginia. < /span>
Ao colocar o interesse do país acima de sua vontade explícita de permanecer na disputa, Joe Biden se despede da presidência em alto estilo, atendendo a apelos contra o retorno de Trump ao cargo. A democracia também se expressa por renúncias, formais ou simbólicas. Se Donald Trump é visto por muitos, dentro e fora dos EUA, como uma ameaça à democracia, a desistência de Biden sela um fato novo que pode ser capaz de barrar a ascensão da extrema direita, mais uma vez, ao comando de um dos países mais violentos da civilização contemporânea. O discurso xenófobo e radical do republicano que galvaniza multidões pela intolerância, ao se repetir e se insinuar como vitorioso, foi o motivo para a mobilização política e econômica que retira Biden em busca de competitividade. A disputa está aberta – o que é bom para a democracia.