O final da tarde deste domingo (22) mostrou que a maioria dos recifenses aderiu a determinação de ficar em casa para evitar o pior. Entre a Zona Norte e o Bairro do Recife, algumas ruas vazias, muito pouco trânsito (a maior parte da carros de transporte por aplicativos e entregadores de comida), alguns ciclistas e poucos e modestos comerciantes ambulantes, insistindo em vender para quem insistiu em sair de casa. E algumas pessoas insistiram. Por necessidade ou apenas vontade.
O aposentado Edson José Ataíde, de 60 anos, era uma das poucas pessoas circulando pelo Recife Antigo, no final da tarde deste domingo. Ele conta que saiu do bairro de Rio Doce, em Olinda, pegou um ônibus e veio caminhar no Marco Zero para “espairecer um pouco”. “Moro sozinho em um apartamento. Já fico o dia todo em casa”, justificou. Sobre a recomendação para os idosos não se exporem na rua por fazerem parte do grupo de risco, ele desconversa, parecendo desconhecer a gravidade da pandemia. “Estou muito bem de saúde. Não pego nada, graças a Deus”.
O jovem João Alexandre, de 23 anos, veio da cidade de Paulista, onde mora, até o Bairro do Recife, pedalando, como faz todo os domingos. “A cidade fica até melhor assim, sem ninguém”, disse o rapaz que afirmou ainda fazer uns bicos durante a semana como forma de sustento. João Alexandre diz que não segue a recomendação de se isolar como forma de prevenir a contaminação pelo coronavírus. “Esse negócio de ficar em casa é para quem tem dinheiro. Quem não tem vai fazer como? roubar? tem que sair para se virar”, alegou.
Já o administrador de empresas Helber Lyra, 36 anos, aproveitou o final da tarde de domingo para praticar exercícios. Ele correu no total 8 km desde o Bairro do Espinheiro, na Zona Norte do Recife, até o Marco Zero e de lá de volta para casa. Helber diz que enquanto não for decretada oficialmente a quarentena para a cidade toda, vai continuar se exercitando ao ar livre. Helber acredita que com tão pouca gente nas ruas não há risco nenhum de aglomeração, o que, para ele, reduz o risco de contaminação. Helber também alega tomar seus cuidados. “Desde que eu saio de casa não toco em nada. Até para apertar o botão do elevador eu uso a chave de casa. Quando retorno, já deixo toda a roupa e o tênis na área de serviço para lavar”, diz o administrador crente de que todos os cuidados são suficientes.
No Parque da Jaqueira, o movimento durante a tarde de domingo era basicamente de alguns corredores. Nada de crianças e nem de idosos. Entre os que se exercitavam estava a médica Fernanda De La Santa, na companhia da sobrinha de 12 anos. “Viemos só para uma caminhada rápida, de meia hora”, alegou Fernanda justificando que era preciso se exercitar.
Quem lamentava o pouco movimento era o vendedor de água mineral Severino Gilberto da Silva, de 53 anos. Morador do bairro do Bairro do Arruda, ele chegou ao Parque da Jaqueira às 7 h da manhã, como faz todos os dias. Vender garrafinhas de água mineral a R$ 1 é a sua única forma de sustento. “Vendo água aqui no portão da Jaqueira desde 2008, e nunca vi nada parecido”, diz ele. Antes do surgimento do coronavírus, e da orientação das autoridades para que todo mundo ficasse em casa, o comerciante diz que chegava a vender 120 garrafinhas de água em um domingo. “Agora, cinco horas da tarde, e só vendi 24 garrafas”, lamentou. Severino se diz preocupado em relação a possibilidade de as autoridades fecharem os parques públicos para restringir ainda mais a circulação das pessoas pela cidade. “Vou ter que ir vender na rua. Mas, para quem?” indaga.