Como uma forma de tentar reforçar os cuidados contra o novo coronavírus, e evitar a aglomeração de passageiros, o Grande Recife Consórcio de Transporte passou a delimitar, a partir de pinturas no chão de alguns Terminais Integrados, o espaço entre os usuários. Na manhã desta sexta-feira (3), no TI PE-15, em Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR), foi possível ver a delimitação sendo feita. De acordo com o órgão, a medida será tomada também nos TIs da Macaxeira, Joana Bezerra e Barro, nas linhas mais movimentadas.
Na manhã desta sexta-feira (3), a reportagem esteve nos TIs da Macaxeira, na Zona Norte do Recife, e no Barro, na Zona Oeste. Nos dois equipamentos, o fluxo de passageiros estava bem menor do que em dias anteriores à pandemia. No entanto, em algumas linhas, as filas estavam grandes e, os ônibus, lotados, como foi o caso da fila das linhas 641 - TI Macaxeira/Encruzilhada e 645 - TI Macaxeira (Av. Norte), além da linha 108 - Barro/Ceasa. Também foi possível ver, nos dois terminais, profissionais de limpeza fazendo a higienização dos coletivos após o desembarque dos passageiros, como foi anunciado no último dia 16 de março.
A delimitação dos espaços entre os passageiros acontece ao mesmo tempo em que houve uma redução de 45% no número de viagens e de 47% na frota, a partir desta sexta-feira (3), "sendo mantida a disponibilização de veículos extras nos terminais integrados de maior movimentação com o objetivo de evitar o acúmulo de passageiros nas filas", segundo nota enviada pelo Grande Recife. O órgão recomenda que os usuários evitem utilizar o transporte público, principalmente nos horários de pico, como das 5h às 8h e das 17h às 20h.
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Porém, esta não é a realidade de muitos passageiros, que precisam dos ônibus para se locomover para o trabalho ou para compromissos. É o caso do desempregado Lucas Oliveira, de 25 anos, que precisa fazer uso do TI Macaxeira duas vezes na semana. "Eu estou achando que tem menos ônibus. Assim, na hora de vir principalmente. Tem muita gente nos ônibus e, por isso, tenho medo. Mas tenho cuidado em não tocar nos ferros e boto bastante álcool em gel", comenta.
O barbeiro Ivan Felipe, de 24 anos, devido à pandemia do novo coronavírus, passou a atender os clientes em casa, e precisa fazer uso de ônibus e de aplicativos de transporte individual de passageiros para se deslocar. Para ele, todo dia está parecendo domingo, em relação aos ônibus. "Está esquema de domingo. Pego mais ônibus no Pelópidas, porque sou de Paulista. No domingo, lá, uso o Paratibe/Arthur Lundgren e agora está todo dia esta linha", afirma. Ele diz que é contra a demissão dos motoristas e cobradores de ônibus.
"Eu acho um absurdo. Podia tirar de outros meios. Eu sei, sou pai de família e isso está tirando o ganha pão do pai de família. Tudo errado no Brasil", declara Ivan. Já no terminal do Barro, na Zona Oeste, a técnica de enfermagem Larissa Silva, de 22 anos, explica que o ônibus que ela utiliza diariamente está demorando 1h30 para passar. "E sempre lotado, porque, querendo ou não, esse ônibus é o que leva as meninas lá para o Complexo, aí, geralmente, vai lotado", comenta Larissa, que se desloca do trabalho, em Cajueiro Seco, em Jaboatão dos Guararapes, para casa, no bairro de Coqueiral, Zona Norte da capital.
O porteiro Antônio Silva, de 57 anos, reclama que os coletivos estão cheios e, com isso, não tem como cumprir a distância segura entre as pessoas. "Os ônibus, em alguns horários, estão lotados. Não pode. Colocam uma lei e não tem como cumprir, porque vim agora no Joana Bezerra/Boa Viagem lotado. E eu tenho aquelas recomendações. Sou hipertenso, diabético, de risco. Quando o ônibus está lotado, sinto medo, mas a gente tem que procurar se prevenir", acrescenta.
Em nota, o Grande Recife atribui a redução da frota e das viagens à redução na quantidade de passageiros. "O Grande Recife informa que vem acompanhando de perto a operação do Sistema de Transporte Público de Passageiros e fazendo ajustes diários, de forma a adequar o serviço prestado para evitar aglomerações conforme preconizam as autoridades de saúde. A redução do número de veículos está sendo gradativa, mas sempre inferior à queda na demanda de passageiros, que na última semana alcançou 74% de diminuição", diz a nota.
Demissão em massa
Demissões em massa estão sendo efetuadas em pelo menos dez das onze empresas que operam o transporte por ônibus na RMR. De acordo com a colunista Roberta Soares, do JC, informações não-oficiais dão conta que duzentos profissionais foram dispensados somente na empresa Transcol, que opera na Zona Norte. A empresa Vera Cruz, que atende a Zona Sul, teria demitido 230 profissionais.
A Caxangá, que roda na Zona Norte e em Olinda, teria afastado outros 270 motoristas, cobradores, fiscais e mecânicos. A empresa Metropolitana, do mesmo grupo da Caxangá, teria promovido outras 250 demissões. Além delas, a Globo, Itamaracá, Borborema, Rodotur, Cidade Alta e Pedrosa - esta última do mesmo grupo da Transcol - também demitiram.
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