Em Tamandaré, no Litoral Sul pernambucano, a crise do coronavírus paralisou o turismo e evidenciou uma das piores mazelas da humanidade: a fome. O padre Arlindo de Matos Júnior, pároco da cidade, relatou que os moradores do município têm chegado a sua porta para pedir comida - realidade que o leva as lágrimas por não poder ajudar. As doações que a Igreja costumava receber para a campanha ‘A fome não para’ também ficaram escassas, de maneira que o padre não consegue mais dar conta dos famintos. Para intensificar as arrecadações, a Paróquia abriu uma vaquinha online. Em 2019, primeiro ano da iniciativa, 80 toneladas de alimento foram entregues para 2500 famílias.
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Segundo Arlindo, a realidade nesta fase do ano já é normalmente difícil para os cerca de oito mil habitantes da zona rural do município, população mais desassistida a quem os projetos sociais da Igreja costumam se direcionar. “No período entressafra, as usinas param. Quem vendia uma fruta na beira da estrada já não tem mais o que vender”, explicou.
Agora, o fechamento temporário dos negócios no centro comercial da cidade, onde vivem 15 mil pessoas, tem afetado também o rendimento desta parcela. “Desse número, 56% ganha menos de meio salário mínimo. E, agora, quem vende camarão, amendoim, quem puxa carroça, está dentro de casa”, afirmou.
As doações que recebia dos três principais times pernambucanos, Sport, Náutico e Santa Cruz, através do Ingresso Solidário também foram suspensas, já que não tem mais jogo de futebol. A situação emociona o católico, que não tem conseguido ajudar os que pedem por comida. "Sensação de impotência. Não posso parar se não as lágrimas caem."
Nesta fase da campanha, o valor será destinado para a compra de alimentos, cestas básicas e para a manutenção mínima da Paróquia e seus programas sociais.
“Toda vaquinha vai ser pra ajudar a realidade da Igreja, que não é o templo, é o povo, que está em casa. A Igreja agora está trabalhando voltando às origens da Igreja primitiva, a Igreja doméstica, que é a família. Essa igreja está com fome. E é muito mais importante que o templo”, declarou.
No final de 2019, o JC viajou até Tamandaré para conhecer os trabalhos sociais conduzidos pelo religioso. Às vésperas do Natal, a reportagem visitou o Centro de Solidariedade Padre Enzo, reconhecida pelo Instituto Doar como uma das cem melhores ONGs do Brasil, entre mais de 300 mil. A creche atende mais de 500 crianças e adolescentes com um orçamento anual de R$ 2 milhões. O montante é constituído por repasse federal de R$ 500 mil do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), mais R$ 450 mil da ONG italiana Gisal. O resto é pago com doações;
Às vésperas do Natal, o jornal mostrou a história de vida do padre, que também padeceu com a fome. “Para quem catou lixo para comer (…) a gente não vê o limite. O limite está dentro de nós. E quando a gente dá o primeiro passo, o milagre acontece", relatou, à época.