Pesquisa nacional coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), no Rio Grande do Sul, aponta que o número de infectados pelo novo coronavírus pode ser bem maior no Recife. Segundo o estudo, que foi financiado pelo Ministério da Saúde, 3,2% da população da capital pernambucana já contraiu o vírus, o que, levando em conta os 1.6 milhão de habitantes da cidade, pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), daria cerca de 52 mil pessoas infectadas. O número é bem acima dos dados apontados pelo último boletim da Secretaria de Saúde do Recife, que contabilizou 13.549 casos da covid-19 na capital pernambucana até esse domingo (24).
O estudo, intitulado de EPICOVID19-BR, foi realizado entre os dias 14 e 21 de maio por meio de uma coleta de dados em 133 cidades espalhadas por todos os estados do Brasil. Pesquisadores concluíram 25.025 entrevistas e testes para o coronavírus. Em 90 cidades do Brasil, incluindo 21 das 27 capitais, foi possível testar pelo menos 200 pessoas selecionadas por sorteio, segundo a Ufpel. No Recife, foram realizadas 240 entrevistas e sete pessoas testaram positivo.
Os dados estimam que para cada caso confirmado de coronavírus nessas 90 cidades, incluindo Recife, existem 7 casos reais na população. Isto porque no dia 13 de maio, véspera do início da pesquisa, estes municípios somadas contabilizavam 104.782 casos confirmados e 7.640 mortes. Sobre esses resultados, os pesquisadores comentam: “Os casos confirmados, que aparecem nas estatísticas oficiais, representam apenas a ponta visível de um iceberg cuja maior parte está submersa. Para conhecer a magnitude real do coronavírus, é obrigatória a realização de pesquisas populacionais”.
O secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, explica que é esperado que o número de casos detectados de pessoas com anticorpos seja maior do que o número de casos confirmados. "O percentual de casos confirmados é de cerca de 20% das pessoas que entraram em contato com o vírus e desenvolveram algum tipo de sintoma". O gestor da pasta afirma que, internamente, a estimativa da secretaria é de que os números de infectados no Recife tenha sido, inclusive, superior a 3,2%, como dito pela pesquisa. "A nossa estimativa interna é que esses números podem ser superiores a 3%, dentro da faixa entre 3% e 10%, de pessoas que tiveram contato com o vírus no Recife".
Ele alerta, também, que para um estudo específico sobre o Recife, seria necessário uma amostragem maior do que a apresentada pela pesquisa. "[O estudo] tem um poder estatístico para estimar as prevalências nos municípios, mas tem uma razoável margem de erro, o que é aceitável, já que é um panorama nacional. Para fazer um estudo desse, especificamente com a população do Recife, precisávamos de um tamanho amostral maior, para identificarmos com maior precisão o número de pessoas que tiveram contato com o vírus. Por fim, defendeu que estratégia de testagem influencia no número de casos confirmados. "Aqui em Pernambuco seguimos a risca o protocolo que busca investigar prioritariamente o espectro mais grave da doença: pessoas que foram a óbito e com síndrome respiratória aguda grave".
O estudo conclui que no conjunto dessas 90 cidades, a proporção de pessoas com anticorpos, que significa que já tiveram ou têm o coronavírus, foi estimada em 1,4%, podendo variar de 1,3% a 1,6% pela margem de erro da pesquisa. Esses dados já levam em consideração o tamanho da população de cada cidade e a validade do teste rápido utilizado. Essas 90 cidades correspondem a 25,6% da população nacional, totalizando 54,2 milhões de pessoas, entre as quais 760 mil (margem de erro de 705 a 867 mil) estariam infectadas.
Especialistas afirmam, no entanto, que os resultados dessas 90 cidades não devem ser extrapolados para todo o país, nem usados para estimar o número absoluto de casos no Brasil, pois são cidades populosas, com circulação intensa de pessoas e que concentram serviços de saúde. A dinâmica da pandemia, portanto, pode ser distinta da observada em cidades pequenas ou em áreas rurais. Mesmo com esses cuidados a equipe científica da pesquisa comenta que: “O mais importante é saber que a contagem de casos de infecção por coronavírus no Brasil agora deve ser feita em milhões, e não mais em milhares”.
Também foi avaliado o grau de cumprimento da população com as medidas de distanciamento social. Em Pernambuco, 64,5% dos entrevistados relataram ficar em casa o tempo todo ou sair somente para as atividades essenciais. O Estado ficou em 4º lugar neste índice, dentre os 26 estados e o Distrito Federal. Os dados são referentes ao período de coleta dos dados (14 a 21 de maio) e foram obtidos diretamente por meio das respostas dos participantes ao questionário aplicado pelos pesquisadores.
Apenas 63% dos testes previstos foram realizados no Nordeste, tendo menor percentual entre as cinco regiões do Brasil. Em Pernambuco, apenas 39% dos testes previstos foram feitos, ficando em terceiro lugar entre os estados que tiveram mais entrevistas frustradas. Segundo o grupo de pesquisadores, os principais motivos pelos quais não foi possível completar as 200 entrevistas previstas em 43 das 133 cidades de todas as regiões do Brasil incluíram medidas de lockdown que restringiram a circulação dos pesquisadores, fake news sobre os objetivos da pesquisa, e dificuldades na coordenação e comunicação entre autoridades federais, estaduais e municipais.
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Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.