Fragmentos de óleo voltaram a aparecer em praias de Pernambuco e Alagoas, na última sexta-feira (19). Os vestígios são parte da pior tragédia ambiental que já aconteceu no litoral brasileiro, registrada entre setembro e outubro de 2019. Nesta quinta (25), a Marinha informou que o material avistado foi removido, analisado e confirmou que, sim, os vestígios encontrados desta vez são semelhantes ao que apareceu em grandes quantidades no segundo semestre do ano passado em todo o litoral nordestino.
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Segundo o Comando do 3º Distrito Naval, os fragmentos coletados foram enviados ao Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM). Em nota, a Marinha informou que o aparecimento da substância em quantidades pequenas pode continuar acontecendo. "Apresentaram perfis químicos compatíveis com o material que atingiu a costa brasileira, sobretudo no Nordeste, em 2019. E com base no exame realizado, a chegada desse material deve consistir na reincidência de segmentos oleosos que não tinham sido anteriormente identificados durante as ações de resposta".
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A mesma nota explica ainda que o reaparecimento do óleo é devido, possivelmente, a fatores meteorológicos, como alterações no regime de ventos e marés, que mexem em sedimentos e possibilitam o ressurgimento dos fragmentos, como ocorreu no fim de semana passado.
A Marinha afirma que desde o dia 2 de setembro, quando registrou-se pela primeira vez a presença de óleo em praias do Nordeste, realiza ações de contenção e neutralização dos danos causados à natureza e que mantem monitoramento de rotina nas praias.
A orientação para pessoas que encontrarem óleo nas praias é ligar para o 185 e acionar as equipes competentes.
Navio Bouboulina apontado como responsável
Em novembro de 2019, investigações apontaram que o navio grego Bouboulina como o responsável pelo derramamento de óleo no Nordeste. A embarcação, de propriedade da empresa Delta Tankers LTD, atracou na Venezuela no dia 15 de julho e o derramamento do petróleo cru teria ocorrido a 700 quilômetros da costa brasileira, como apontaram os pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) entre os dias 28 e 29 de julho.
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A embarcação ficou detida nos Estados Unidos por quatro dias, segundo informações da Marinha. O documento enviado à Polícia Federal aponta que a detenção se deu por "incorreções de procedimentos operacionais no sistema de separação de água e óleo de descarga no mar".
O navio Bouboulina foi construído em 2006 e seu nome é em homenagem a Laskarina Bouboulina, heroína na Guerra da Independência Grega. Ele possui 276 metros de comprimento e tem capacidade para carregar até 164 mil toneladas (somando a carga, passageiros, águas, combustível e etc).
CPI do óleo
Por causa da pandemia, foi decretado que todas as comissões do parlamento estão com seus trabalhos suspensos temporariamente, mas isso não impede a ação parlamentar de um deputado em virtude dos acontecimentos que pedem atuações emergenciais e precisas. Além disso, com a reativação das comissões, a CPI do Óleo trabalhará pela conclusão do relatório acerca do vazamento ocorrido no segundo semestre de 2019.
Óleo no Nordeste
Os primeiros registros das manchas no Nordeste foi em 30 de agosto, na Paraíba, nos municípios de Conde e Pitumbu, segundo o Ibama. Chegaram a Pernambuco em 2 de setembro, nas praias de Itamaracá, Maria Farinha, Janga, Pau Amarelo, Suape e Porto de Galinhas, atingindo Boa Viagem, Candeias, Piedade e Carneiros no dia 3. O Instituto relatou que o pico seria em 21 de outubro, quando o óleo já estendia uma faixa de mais de dois mil quilômetros da costa.
Em 26 de setembro, o óleo já atingia 105 praias de 48 municípios em oito, dos nove estados do Nordeste. Sem o conhecimento da causa das manchas, o turismo local e o Ibama estavam em alerta. No começo de outubro, o material completou os nove estados do Nordeste, chegando à Bahia, quando o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, veio para a região informar que já haviam sido recolhidas mais de 100 toneladas do óleo.
As manchas não apareceram no Estado desde 25 de setembro, voltando a contaminar as praias do Litoral Sul no dia 17 de outubro, na praia de São José da Coroa Grande, exigindo a atenção dos governos municipais, federais e estaduais, mesmo após membros da CPRH terem realizado um sobrevoo no litoral sem encontrar nenhum indício das manchas. Com isso, vários grupos de organizações não governamentais (ONG's) e voluntários se organizaram para impedir maiores danos no Estado e retirar os óleos com as próprias mãos. No dia seguinte, Pernambuco já registrava o recolhimento de vinte toneladas de óleo desde a sua chegada no Estado.
No sábado, 26 de outubro, quando o governo já registrava 249 locais afetados e mais de 1 mil toneladas de resíduos recolhidos, em coletiva de imprensa, a Marinha informou que as praias pernambucanas já não apresentavam mais óleo do vazamento, apenas "pelotas" de petróleo que poderiam ser recolhidas quando chegassem às praias. No dia seguinte, o governo informou que novas manchas não foram encontradas no litoral nordestino.
As orientações da CPRH eram que nas praias onde houvesse a "detecção visual de óleo" tivessem banhos evitados. No entanto, o governo do Estado pediu que a população tivesse o bom senso na hora de decidir entrar no mar das praias atingidas pelo petróleo.
Segundo dados do último relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de 27 de dezembro, foram encontrados vestígios de óleo em 21 áreas do Estado. Sendo 18 locais no Litoral Sul e três no Litoral Norte. No total, os vestígios foram encontrados em 15 praias. Paiva, Ilha do Francês, Suape, Muro Alto, Cupe, Gamboa, Barra de Sirinhaém, Carneiros, Boca da Barra, Tamandaré, Abreu do Una e São José da Coroa Grande. Foi encontrado ainda indício de óleo no mar, em uma área entre a Ilha de Santo Aleixo, Praia da Pedra, em Sirinhaém, Pau Amarelo, Janga e Gaibu.
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