Recife autoriza eventos no modo drive-in para evitar aglomerações; veja regras

Drive-ins, que foram sucesso nas décadas de 50 e 60, passaram a ser adotados por alguns países durante a pandemia do novo coronavírus
JC
Publicado em 30/06/2020 às 14:34
Cine Drive-in, em Brasília Foto: Evaristo Sá/AFP


Sucesso nas décadas de 50 e 60, os drive-ins, que são os serviços oferecidos aos clientes sem que seja necessário sair do carro, passaram a ser uma opção em vários países durante a pandemia do novo coronavírus para evitar aglomerações, possibilitar o distanciamento social e permitir entretenimento e lazer. No Recife, a novidade foi anunciada pela prefeitura na tarde desta terça-feira (30).

» Cinemas drive-in reaquecem no mundo e têm sua história no Recife

"Recife está seguindo uma tendência mundial, com muita segurança, seguindo todos os protocolos e cuidados. Esta é mais uma ação para promover o entretenimento e o lazer para as famílias recifenses", comentou a secretária de Turismo, Esportes e Lazer do município, Ana Paula Vilaça. Para que o evento drive-in seja realizado,é necessário que haja uma autorização das secretarias de Turismo, Esportes e Lazer do Recife, além da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano.

De acordo com a Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer, algumas empresas já manifestaram interesse para a realização de eventos do tipo e já têm planos para o mês de julho. Os eventos serão realizados em áreas estratégicas em que será possível garantir o controle de veículos e a segurança. Os interessados na modalidade, devem solicitar um alvará de localização e funcionamento no site de Licenciamento Urbano da Semoc. 

Drive-in no Brasil

No Brasil, o tradicional Cine Drive-in, inaugurado em agosto de 1975 em Brasília, chegou a ser fechado no começo da pandemia, mas reabriu em meados de abril, reduzindo a quantidade de vagas pela metade e tomando outras medidas de segurança como, por exemplo, o fechamento da lanchonete. O Cine Drive-In possui um transmissor de FM para transmitir o áudio do filme no rádio dos carros e, para os que não possuem som interno, é indicado acender o farolete e solicitar orientação do atendente. Atualmente, estão em cartaz os filmes Angry Birds - O Filme, Shazam e The Invisible Man.

Além de cinema, também há shows em formato drive-in. No último sábado (27), a banda Jota Quest se apresentou no palco do Arena Sessions, do Allianz Parque, em São Paulo. O Arena Sessions promove vários eventos no formato drive-in em São Paulo e a programação pode ser conferida no site.

História do cinema drive-in no Recife

O Recife também teve seus momentos de cinema ao ar livre, com um parabrisa entre a tela e o espectador. Por aqui, eles foram batizados de auto cine, se estabelecendo nos anos 1970 e prosseguindo até meados da década seguinte. O primeiro e o mais popular certamente é o Auto Cine Aeroclube, no Pina, considerado o primeiro drive-in do Nordeste. Sua inauguração foi em 12 de fevereiro de 1977, exibindo ironicamente Tubarão, um dos pais do cinema blockbuster, tão perto da Praia de Boa Viagem. Segundo os relatos da imprensa da época, o Auto Cine era instalado em uma área de 10 mil metros, com capacidade para 320 carros. Eram realizadas duas sessões durante a semana, uma infantil às 19h e outra às 21h. Finais de semana e feriados contavam com três, às 18h, 20h e 22h.

Para acompanhar os filmes, o público sintonizava uma certa frequência no rádio que transmitia o som da obra. Mas, relatos de pessoas que frequentaram o espaço na época relatam que o filme em si era secundário na diversão, com o descampado carregando uma atmosfera de socialização e romance. O professor de filosofia Anastácio Borges é um desses visitantes e relembra do período. "O filme ficava um pouco distante, era o que menos importava (risos). Dentro do carro era um ambiente de conversa e relação, muitas vezes a gente ia namorar", explica.

Em sua memória, ele lembra como a ideia do drive-in já era bem fincada antes mesmo da cidade receber um. No seu caso, suas lembranças são da abertura da animação Os Flinstones, mostrando Fred Flinstone levando a família para um auto cine pré-histórico. Fora das sessões infantis, a juventude dominava o espaço que carregava até uma certa aura de rebeldia. "Era aquela fase de transitar da adolescência para o mundo adulto. Aquele momento que a gente já roubava o carro do pai, muitas vezes sem carteira. Eu acho que os pais viam com certa reserva o local, tinha uma similaridade com a questão da sexualidade, dos moteis, um lugar de privacidade de noite. Não acho eram todas as moças que iam ao drive-in (risos) ", conta.

A arte educadora Rosana Bezerra compartilha essa memória sobre como o espaço era observado pelos olhares mais conservadores da sociedade. “Eu ia ou com meu namorado, ou com um casal de amigos. E o pai dessa minha amiga que também ia só autorizava se fosse comigo ou com alguma irmã. Lembro também de ter amigas que só iam escondido. O povo dizia que era uma lugar de safadeza e tinha gente que tinha receio de ser vista lá. Eu não tive esse problema porque minha família era mais 'vanguardista’ nesse sentido", relata.

Das sessões marcantes, lembra de assistir Tom e Jerry, satisfazendo seu apreço por filmes infantis, mas também tem boas memórias das sessões de Xica da Silva, de Cacá Diegues e Grease: Nos Tempos da Brilhantina. Rosana lembra do serviço de lanches, realizado por funcionários de patins que deslizavam entre os veículos e serviam os clientes pela janela. “A necessidade de ter um carro era realmente um fator determinante para estar lá, mas havia também o hábito de pegar arrego no carro dos outros e ir escondido. Via também frequentemente uns meninos que entravam de bicicleta, provavelmente escondidos”, conta.

Muito da experiência era pela novidade, tanto é que a iniciativa não sobreviveu por muito tempo. Ele chegou até ter um concorrente. No começo de 1983, o Auto Cine Joana Bezerra foi inaugurado em um estacionamento da Prefeitura do Recife, mas os tempos começavam a mudar e o entusiasmo já não era o mesmo. A chefe de cozinha e arquiteta Madalena Albuquerque acredita que um outro cenário em relação a violência urbana tornava a experiência mais possível, mas também lembra que não era algo totalmente confortável.

"Naquela época, a gente nem conhecia carro com ar-condicionado, então era sempre tinha calorzinho, às vezes um ventinho bom e impraticável quando chovia”, conta. E naquele descampado, a gente também era alvo frequente das picadas de mosquito", recorda. Ela se recorda de duas idas ao auto cine, com os primos quando veio de Nazaré da Mata passar um tempo com os primos no Recife e outra com o atual marido, então amigo na época. Um Dia de Sol foi o filme que lhe marcou dessa experiência, lembrando das lágrimas ao final da sessão e de como a trilha sonora acabou virando seu tema.

O drive-in à pernambucana realmente não chegou perto da força cultural do seu primo ianque. O professor e cineasta Alexandre Figueirôa lembra de ter ido umas duas vezes ao auto cine, mas não conseguiu sentir muita empolgação com a experiência, diferente do que sentia com o circuito de cinemas de rua que frequentava em Casa Amarela, como o Coliseu e Albatroz. “Eu confesso que não tive muito tesão, fui mais pela novidade, da coisa que a gente via nos filmes americanos. Lembro de ter ido com um amigo e a gente mais conversou e tomou cerveja do que viu o filme. Era meio que uma cópia daqueles drive-ins que eram super charmosos e tinham toda uma mística, mas aqui não consegui entrar nessa sintonia”, relata.

*Trecho da reportagem de Rostand Tiago. Leia a matéria completa. 

Reabertura de praias, parques e calçadões

No dia 19 de junho, a Prefeitura do Recife anunciou a reabertura de parques, praias e calçadões para a prática de atividades físicas individuais. Esses locais estavam fechados para evitar aglomerações e foram reabertos no dia 20 de junho. A reabertura foi parcial, e ainda está proibido o banho de mar e os esportes coletivos praticados na areia da praia.

Além dos parques, calçadões e praias, a Ciclofaixa de Turismo e Lazer, que estava suspensa desde o dia 19 de março, voltou a funcionar aos domingos. Apesar da liberação, há restrições para as práticas esportivas. "Continua sendo muito importante o uso da máscara, as medidas de higiene e o distanciamento físico. Todo mundo deve manter os cuidados para que a gente possa garantir que essas conquistas permaneçam em nossa cidade", comentou o prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), ao fazer o anúncio.

Reabertura gradual em Pernambuco

No dia 22 de junho, mais atividades foram liberadas em Pernambuco depois de serem suspensas em razão da pandemia do novo coronavírus. Passaram a funcionar lojas de com mais 200 metros quadrados, shopping centers e templos religiosos em 100 dos 185 municípios pernambucanos, incluindo o Recife, e o segmento da construção civil, que funcionava com capacidade em 50%, passou a operar em 100%.

O que está funcionando?

  • Desde o início da pandemia, o governo classificou várias atividades como essenciais, como por exemplo, supermercados, padarias e postos de gasolina. Estes serviços não deixaram de funcionar, mas adotaram uma série de medidas, como o uso obrigatório de máscaras para cliente e funcionários e restrição de 50% da capacidade. Confira aqui todas as atividades essenciais.
  • Já no dia 1° de junho, data considerada a primeira etapa do plano gradual, puderam reabrir as portas as lojas de materiais de construção e delivery de comércio não essencial, seguindo novos protocolos de atendimento. Além disso, puderam retomar as atividades, exclusivamente por delivery, as unidades de varejo de bairro e do Centro, assim como shoppings centers e o comércio atacadista.
  • No último dia 8, houve a segunda etapa do cronograma. Além da reabertura do comércio atacadista, a construção civil pôde retornar às atividades com 50% do seu efetivo e em horário livre. Inicialmente, havia sido determinado o horário de funcionamento das 9h às 18h para este setor. Os shoppings centers também voltaram a receber clientes, mas através de drive thru nos estacionamentos. O cronograma para os shoppings foi adiantado em uma semana.
  • Dois dias depois, na quarta-feira (10), clínicas e consultórios médicos, odontológicos e veterinários, óticas, clínicas de fisioterapia e de psicologia foram autorizados a abrirem as portas, mas seguindo protocolos gerais e específicos.
  • No dia 15, foram liberados: lojas de varejo com até 200 metros quadrados; serviços de venda, locação e vistoria de veículos com 50% dos funcionários; salões de beleza e serviços de estética e treinos de futebol profissional. Medidas são válidas em 100 dos 185 municípios pernambucanos.
  • No dia 22, foi a vez das lojas de varejo com mais 200 metros quadrados, shopping centers, templos religiosos, e a construção civil com 100% da capacidade. Medidas são válidas em 100 dos 185 municípios pernambucanos.

Próximas fases

As próximas fases de reabertura do comércio ainda não possuem data definida pelo governo. Seguem sem previsão de retorno:

  • Feira e Polo de Confecção;
  • Eventos esportivos;
  • Serviço público;
  • Serviço de escritório;
  • Academias de ginástica e similares;
  • Museus, cinemas e teatro;
  • Bares e restaurantes.

Além do plano de reabertura econômica, haverá um plano de retomada específico para o setor educacional de Pernambuco. De acordo com o secretário estadual de Educação, Fred Amâncio, o plano deverá seguir os três eixos gerais do plano de atividades econômicas: distanciamento social, higiene, e monitoramento e comunicação. Entre as medidas que deverão ser tomadas nas faculdades e escolas está a demarcação de espaços no chão, uso de máscaras e distância mínima dos alunos. Por conta da pandemia, as escolas, faculdades e universidades estão fechadas desde o dia 18 de março.

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