Avanço da covid-19 no Agreste e Sertão pode provocar busca por leitos no Recife

Com número menor de leitos e respiradores no interior, pesquisadores preveem volta da sobrecarga no sistema de saúde do estado
Luisa Farias
Paulo Veras
Publicado em 22/06/2020 às 21:58
COVID Ação do MPF pedia mais clareza sobre recursos usados na construção dos hospitais de campanha Foto: ANDRÉA RÊGO BARROS/ARQUIVO PCR/DIVULGAÇÃO


Com o avanço da pandemia da covid-19 no Agreste e no Sertão, pesquisadores temem que o aumento de caso nessas regiões voltem a pressionar o sistema de saúde em Pernambuco. Como há menos leitos e menos respiradores no interior, especialistas prevêem uma dinâmica em que pacientes dessas regiões podem buscar hospitalização no Recife. Nesta segunda-feira (22), pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e do Lika-UFPE apontavam que o Estado tem apenas uma cidade onde não há confirmação de casos do novo coronavírus.

Hoje, na capital pernambucana, há 971 leitos municipais (que são administrados pela Prefeitura do Recife) em funcionamento, sendo 289 de UTI e 682 de enfermaria. Além desses, ainda há os leitos gerenciados pelo Estado.

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“Pelo que a gente tem acompanhado, o vírus está disseminado pelo Sertão e pelo Agreste. A doença entrou claramente pelo Sertão. Na Região Metropolitana, onde nós fizemos aquele período de quarentena rígida, nós estamos vivendo o crédito da abertura de leitos pelo governo. Isso evitou o colapso do sistema. As pessoas não estão morrendo por falta de respirador. Como o número de leitos está muito grande, nós temos uma certa estabilidade. Mas, no interior, muitos desses municípios não têm leito. Então, o que acontecer lá dentro, vai escoar para cá”, afirma Jones Albuquerque, pesquisador do Lika.

Em 12 de abril, um mês após o registro do primeiro caso em Pernambuco, a doença havia atingido 54 municípios. Esse número saltou para 156 no dia 12 de maio. E no dia 12 de junho já havia pelo menos um caso em 183 cidades.

Com base nos dados da Secretaria Estadual de Saúde, o site do Instituto para a Redução do Risco de Desastres (IRRD), que têm participação do Lika, aponta a cidade de Mirandiba como a única de Pernambuco sem casos confirmados da doença. “Eu fecharia o interior, deixaria mais restrito. E tentaria evitar a circulação entre municípios e dentro da própria cidade. Quanto mais as pessoas circulam, mais o vírus se espalha. Se elas estiverem paradas, o vírus não vai se espalhar na mesma velocidade”, argumenta.

Para Nielson Freire, coordenador do Centro Integrado de Estudos Georreferenciados para Pesquisa Social (CIEG) da Fundaj, é preciso pensar uma estratégia que considere que a pandemia ocorre de forma não linear, com picos que vão variar de uma cidade para a outra. “Por um lado preocupa bastante porque a gente não sabe como a pandemia vai se comportar nesses pequenos municípios, com precária infraestrutura de saúde. Os pacientes podem ter que ser transportados para outras cidades. Por outro lado, se você considera, como mencionou o prefeito do Recife (Geraldo Julio), que há uma disponibilidade maior de leitos na Capital, você pode retardar o surgimento de casos graves no Sertão para dar tempo de desafogar os leitos da Capital e ela atender esses pacientes. No entanto, me parece que a estratégia do governo é deslocar esses pacientes para centros regionais, como Caruaru e Petrolina. Até porque nós estamos falando de grandes distâncias, de 400 ou 500 quilômetros”, lembra.

Rastreamento

A Fundaj acompanha o boletim epidemiológico do Estado, que reporta apenas os casos graves da Covid19. Com base nisso, os pesquisadores procuraram as 12 cidades que ainda não apresentaram nenhum caso grave e descobriram que, segundo as informações epidemiológicas dos municípios, apenas uma delas não têm casos confirmados: Manari. “Em Mirandiba teve o caso de uma senhora que não pode se tratar lá. Ela foi transferida para Afogados da Ingazeira e, depois, para o Recife, onde veio a óbito. Mas a cidade natal desse caso era Mirandiba”, afirma.

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