Com os trabalhos adiantados durante o período da pandemia do novo coronavírus (covid-19), um dos principais corredores da capital pernambucana está de cara nova. Em obras desde abril do ano passado, a Avenida Conde da Boa Vista, no Centro do Recife, está com a parte estrutural pronta. De acordo com a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), alguns detalhes de sinalização e ajustes no plano de circulação estão sendo feitos, mas a entrega deve ser realizada nos próximos dias.
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Foram pouco mais de 15 meses de obras para requalificar 1,6 quilômetro da via, quase cinco a menos do que a data estipulada pela gestão, que chegou a calcular que as intervenções, realizadas em seis etapas, durariam 20 meses. Ao longo desse tempo, foram investidos R$ 15 milhões dos cofres municipais para a recuperação de calçadas, construção de 14 travessias elevadas para pedestres, modernização de 20 paradas de ônibus, instalação de 50 quiosques para ambulantes, construção de duas estações de BRT, além de instalação de 70 lixeiras, 271 luminárias em LED, plantio de árvores e recuperação de 700 metros de rede de drenagem, com 86 novos pontos de captação.
Secretário de Infraestrutura do Recife, Roberto Gusmão afirmou que a gestão continuou os trabalhos em meio à pandemia. "Aproveitamos para adiantar os serviços que precisavam ser feitos, principalmente na Gervásio Pires, nas imediações do Shopping Boa Vista, onde poderiam demorar mais em decorrência da concentração de comerciantes", argumentou.
A aposentada Maria do Socorro de Lima, de 65 anos, aprovou as mudanças. "É a primeira vez que saio de casa desde que a pandemia começou e estou surpresa com a avenida, principalmente com as paradas de ônibus, que melhoraram muito. A organização do comércio também ficou muito boa, porque as barracas atrapalhavam a passagem dos pedestres", elogiou. A opinião é compartilhada pela também aposentada Maria do Bom Parto, 60. "Antes a avenida era muito feia, muito abandonada. Hoje está organizada. Espero que não vandalizem", pontuou.
As estações de BRT, localizadas nas imediações das Ruas da Soledade e do Hospício, já estão em funcionamento. Quatro linhas de BRT circulam pelo corredor, além das 49 de ônibus convencionais, que agora param somente do lado direito da via. É através dessas duas modalidades de transporte público que metade das pessoas que circulam pela avenida acessam o local.
Além do transporte público, a nova Conde da Boa Vista tem como foco a prioridade para o pedestre. Os passeios foram alargados e as calçadas passaram a somar 2 mil metros quadrados de área destinada a quem anda pelo local. A distribuição dos pontos elevados também foi pensada para que os pedestres não precisem andar mais do que 75 metros para realizar as travessias. A entrega da obra segue sem data, mas é esperada para a próxima semana.
Cada um dos 50 quiosques tem vaga para dois ambulantes, somando 100 trabalhadores informais contemplados pela requalificação. Segundo Roberto Gusmão, a negociação foi feita junto ao sindicato da categoria. Apesar do projeto prever apenas esses fiteiros na avenida, a reportagem flagrou pessoas comercializando produtos fora dessas estruturas nesta quarta-feira (8).
A comerciante Andrea Lima, 43 anos, foi uma das contempladas com o fiteiro. Ela, que trabalha desde 2011 na via, já teve diversas vezes produtos apreendidos pela prefeitura. "Era muito difícil. A gente não sabia se iria chegar para trabalhar e ser proibido ou ter mercadoria tomada", lembra ela, que retomou o trabalho há exatamente uma semana. "Estou muito satisfeita com a mudança. O fiteiro é nosso, só precisamos colocar mesmo energia. É uma outra Boa Vista", completa.
Segundo ela, os mais de 200 comerciantes que não conseguiram um quiosque estão trabalhando em ruas próximas. "A fiscalização está em cima, por enquanto está organizado", afirmou.
Apesar do testemunho da comerciante, a reportagem flagrou trabalhadores informais vendendo produtos ao longo da via, ainda que sem barraquinhas ou outras estruturas. Procurada, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano se manifestou por nota e afirmou que só será permitida a atuação de vendedores nos 100 fiteiros instalados durante a qualificação, conforme discutido com o sindicato da categoria. "A fiscalização já está sendo reforçada pela secretaria", diz a pasta em um trecho do comunicado.