Em Olinda, praias cheias de pessoas sem máscara e pouco distanciamento social

A prefeitura de Olinda admitiu que existiram irregularidades nas praias do município e se comprometeu a ajustar a fiscalização
Mayra Cavalcanti
Publicado em 31/08/2020 às 14:25
Em Bairro Novo, o cenário foi de desrespeito às normas, com falta de uso de máscara pelos banhistas, barracas próximas e muitas pessoas se aglomerando Foto: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM


Se o retorno do comércio nas praias do Recife foi tranquilo e, em sua maioria, com respeito às normas de distanciamento social, não se pode dizer o mesmo de Olinda, também na Região Metropolitana. Na manhã desta segunda-feira (31), primeiro dia após a autorização dada pelo Governo do Estado para a volta ao trabalho dos barraqueiros e ambulantes, o cenário na Praia do Quartel, em Bairro Novo, foi de desrespeito às normas, com falta de uso de máscara pelos banhistas, barracas próximas e muitas se aglomerando.

O movimento, inclusive, surpreendeu as pessoas que estavam na praia nesta manhã. O barraqueiro João Ferreira, de 59 anos, trabalha no local há 27 anos e estava há cinco meses parado por causa da pandemia do novo coronavírus. Devido ao período sem funcionar, perdeu diversos produtos que venceram, e ficou sem ter como pagar as contas. Mas, nesta segunda-feira (31), João conta que o movimento foi melhor do que o esperado. "Foi um prejuízo alto para nós nos últimos meses. Mas hoje está indo bem, coloquei as cadeiras distantes uma da outra. O pessoal fica querendo vir mais para perto, mas estamos controlando", relata o barraqueiro, que antes trabalhava com 25 guarda-sóis, e hoje está com 15.

Quem também se impressionou com o fluxo de pessoas foi a dona de casa Diane Késsia, de 33 anos. Ela conta que tem evitado sair, mas que nas segundas-feiras vai à praia com os filhos e o marido. Ela se impressionou com a quantidade de pessoas. "Eu concordo com a volta do comércio porque são trabalhadores que precisam levar alimento para casa. Mas não está organizado, poderia estar muito melhor. Eu vim hoje porque os meninos estão muito agitados, o tempo todo em casa. A gente se assustou com a quantidade de gente, tanto que ficamos distantes, nos revezando pra ir na areia. Geralmente dia de segunda não tem muita gente, por isso também que a gente vem", comenta.

O secretário de Segurança Urbana de Olinda, Coronel Pereira Neto, afirma que foi realizada uma fiscalização na Praia dos Milagres, na de Zé Pequeno e do Quartel na manhã desta segunda e foi constatado pelas equipes que existiam irregularidades. A ronda foi feita por funcionários da Guarda Municipal, da Secretaria de Controle Urbano e da Secretaria de Trânsito e Transporte de Olinda. "Vamos realizar uma reunião com as equipes do Controle Urbano e da Vigilância Sanitária para estabelecer ajustes na fiscalização", comenta.

Segundo ele, os funcionários da Prefeitura de Olinda observaram o que foi visto pela reportagem, como a falta do uso de máscaras, algumas aglomerações e o espaçamento entre os guarda-sóis menor do que o indicado no protocolo de retomada para o setor. "Nós não notificamos os barraqueiros, mas eles foram orientados. Precisamos chamar esses permissionários para explicar a importância do cumprimento do protocolo. Caso sigam descumprindo, serão notificados administrativamente", relata o secretário. Ao todo, a cidade conta com 63 barraqueiros cadastrados na prefeitura. 

Movimento tranquilo no Recife

Após cinco meses parados devido à pandemia da covid-19, barraqueiros e ambulantes estão, a partir desta segunda-feira (31), liberados a retornar às atividades. A conquista das categorias se deu após uma série de protestos e reivindicações, que levaram o Governo do Estado a antecipar a volta para a etapa 8 do Plano de Convivência com a Covid-19. Anteriormente, a liberação estava prevista apenas para a fase 10. Para o retorno, barraqueiros e banhistas devem cumprir as normas já divulgadas em um protocolo pelas autoridades.

Nesta segunda-feira (31), a manhã foi de tranquilidade na praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Apesar do movimento bom para uma segunda-feira, muitos clientes não usavam máscaras. Respeitando o distancimento entre os guarda-sóis, os barraqueiros, por outro lado, pareciam cumprir a orientação contida no protocolo. Equipes da Prefeitura do Recife estiveram na orla orientando a população e vistoriando o cumprimento das normas do protocolo de convivência.

Cerca de 120 profissionais das secretarias de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc), Turismo, Esportes e Lazer (Seturel), Procon Recife, Brigada Ambiental, Guarda Civil Municipal do Recife (GCMR), Vigilância Sanitária e Polícia Militar realizam rondas ao longo dos oito quilômetros de praia. Segundo a gestão municipal, também é feita a distribuição de mais de mil máscaras.

A fiscalização engloba tanto os 1.165 trabalhadores da faixa de areia cadastrados na Prefeitura, quanto os clientes, segundo a secretária de Turismo e Lazer do Recife, Ana Paula Vilaça. "O comércio de ambulantes e barraqueiros na faixa de areia pode retornar às atividades a partir de hoje. Eles têm que respeitar o espaço que é chamado de box, uma área de 4x4 metros. Em cada espaço desse, poderá haver um guarda-sol com até quatro cadeiras, no máximo. O distanciamento entre as hastes do guarda-sol é de 4 metros. A gente pede que os mesmos protocolos de uso da máscara, distanciamento entre as pessoas, evitar aglomeração sejam respeitados. É importante demais o envolvimento da população", afirmou.

A secretária explicou que essa semana toda é de orientação e que, por isso, ainda não foram registradas notificações, mas, posteriormente, os barraqueiros do Recife que não cumprirem as regras podem até perder a licença. "Começamos com uma orientação, explicação, o objetivo do trabalho é esse, explicar as regras do protocolo. Mas caso as pessoas sigam descumprindo, pode haver a suspensão do funcionamento da atividade. Nosso objetivo, no entanto, é muito mais o trabalho de conscientização", disse Vilaça.

Regras

O uso de máscaras, para funcionários e clientes, é obrigatório, assim como o distanciamento mínimo de 1,5m entre as barracas, segundo o texto. Além disso, cada "box" só poderá comportar até 10 clientes de um mesmo grupo, e deverá ser disponibilizado pelos comerciantes álcool 70% para higienização das mãos.

Parâmetros

Ocupação

  • A ocupação deverá respeitar o distanciamento, devendo os permissionários dimensionar para cada grupo um box com área mínima de 4m x 4m;
  • A quantidade total de guarda-sol (ou ombrelone) e cadeiras por permissionário ficará limitada à quantidade de boxes de 4m x 4m que couber na área total de ocupação autorizada pelas prefeituras a cada permissionário, nas seguintes proporções:
  1. Um guarda-sol (ou ombrelone) por box;
  2. Quatro cadeiras e uma mesa por box; 
  3. O guarda-sol (ou ombrelone) não pode ser removido de um box para outro em nenhum caso; 
  4. Será permitido um máximo de 10 pessoas, de um mesmo grupo, por box;

Distanciamento social

  • Fica proibida a realização de eventos públicos tipo shows, apresentações e similares, que possam gerar aglomeração de pessoas nas praias;
  • Respeitar o distanciamento mínimo de 1,5m entre as pessoas de boxes diferentes;
  • Respeitar o distanciamento mínimo de 4m entre as hastes dos guarda-sóis (ou ombrelones), devendo este estar no centro do box.

Higiene

  • Todos os funcionários, prestadores de serviço e clientes, deverão utilizar máscaras;
  • Apenas poderão acessar o serviço os clientes que estiverem fazendo uso de máscaras;
  • Para o cliente, o uso de máscara será obrigatório, exceto quando os clientes estiverem se alimentando ou ingerindo líquidos, após a ingestão retornar ao uso de máscaras;
  • Organizar os cardápios de forma a serem plastifi cados ou impressos em material que possibilite a higienização após cada novo atendimento;
  • Quando oferecer temperos como sal e pimenta, além de itens como palitos de dente e adoçantes, priorizar o formato de sachês individuais;
  • Reforçar a limpeza e desinfecção das superfícies mais tocadas (cadeiras, mesas/apoio, guarda-sol e bandejas) e qualquer outro material de trabalho, após o uso de cada cliente. Desinfetar com produtos à base de cloro, álcool, fenóis, quartenário de amônia, álcool a 70% líquido.
  • Deve ser disponibilizado a funcionários e clientes, álcool 70% líquido ou gel para higienização das mãos;
  • Reforçar boas práticas no lugar onde os alimentos serão preparados e reservar espaço para a higienização dos alimentos de acordo com o Programa Alimento Seguro (PAS) ou outro protocolo similar;
  • Devem ser oferecidos talheres, pratos, copos e utensílios devidamente higienizados e preferencialmente em embalagens individuais (ou descartáveis);

Comunicação e monitoramento

  • Utilizar intensivamente os meios de comunicação disponíveis para informar aos clientes sobre as medidas adotadas de higiene e precaução;
  • Utilizar todos os meios de mídia interna, assim como, as redes sociais, para divulgar as campanhas e informações sobre a prevenção do contágio e sobre as atitudes individuais necessárias neste momento;
  • Acompanhar diariamente o estado de saúde dos seus funcionários e afastá-los por dez dias, quando apresentarem qualquer sintoma sugestivo de Covid-19. Mediante resultado negativo de teste apropriado, voltar de imediato ao trabalho;
  • Orientar os trabalhadores que apresentarem sintomas gripais, e os seus contatos domiciliares, a acessarem o aplicativo “Atende em Casa” (www.atendeemcasa.pe.gov.br). Durante o acesso, serão orientados sobre como proceder com os cuidados, inclusive sobre a necessidade de procurar um serviço de saúde;

Linha de crédito

Na reunião dos representantes da categoria com o governo do Estado na quinta, barraqueiros também receberam a promessa de que terão até R$ 3 mil em crédito com os menores juros do mercado para reabrir seus negócios.

Segundo o secretário de Trabalho, Emprego e Qualificação, Alberes Lopes, haverá uma carência de três meses para os trabalhadores que buscarem a linha de crédito. "Por determinação do governador Paulo Câmara, estamos abrindo uma linha de crédito de até R$ 3 mil, para os comerciantes da faixa de areia, iniciando por aqueles que trabalham em Boa Viagem [na Zona Sul do Recife]. O crédito será com 1,49% de juros ao mês, com pagamento em até 15 vezes, com três meses de carência", afirmou o secretário.

Atividades já retomadas

Apesar de continuar na etapa 7 do Plano de Convivência com a Covid-19, algumas atividades foram liberadas nessa segunda-feira (24) em Pernambuco. Está permitido nas cidades da Região Metropolitana do Recife (RMR) e da Zona da Mata o treinamento de modalidades coletivas como basquete, vôlei, handebol e futsal. Também nesta segunda, cursos livres poderão funcionar com 50% da capacidade, com alunos a partir dos 15 anos. No Sertão de Pernambuco, em municípios como Salgueiro e Petrolina, que passaram para a etapa 6 do plano, restaurantes e demais serviços de alimentação estão liberados das 6h às 20h, assim como academias de ginástica e similares.

As regras para o retorno dos treinamentos de modalidades coletivas é de que os atletas sejam federados e maiores de 12 anos de idade. Por isto, ainda não são permitidas escolinhas esportivas, nem atividades esportivas de lazer. Ainda na RMR e Zona da Mata, os cursos livres, como aulas de idioma, de qualificação e formação profissional e cursos das autoescolas avançaram mais um passo no plano de retomada, podendo funcionar com até 50% da capacidade. A retomada dos setores é feita a partir de protocolos divulgados pelo Governo de Pernambuco para que as atividades possam funcionar de forma a minimizar os riscos de transmissão da doença.

Na próxima segunda-feira (31), terceira etapa para retorno do setor, será possível funcionar com até 75% da capacidade e com alunos a partir de 11 anos. No dia 8 de setembro, poderá ser feito o retorno total das atividades. Enquanto a macrorregião I, que compreende a RMR e Zona da Mata, está na etapa 7 do Plano de Convivência com a Covid-19, as macrorregiões 2 e 3, que compreendem o Agreste e parte do Sertão de Pernambuco, estão na etapa 6. A macrorregião 4, onde ficam o Vale de São Francisco e o Sertão do Araripe, também está na etapa 6.

Coronavírus em Pernambuco

TAGS
pernambuco olinda Coronavírus
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory