Polícia divulga vídeos do carro do policial da RP encontrado morto no Recife para reafirmar suicídio como causa da morte

Imagens mostram os momentos em que Igor estaciona o carro e em que é encontrado dez dias depois
JC
Publicado em 03/12/2020 às 13:45
Detalhes da investigação foram divulgados pela Polícia Civil na manhã desta quinta-feira (03) Foto: DIVULGAÇÃO/ PCPE


Atualizada às 15h45

A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) reafirmou, nesta quinta-feira (03), não ter dúvidas de que a morte do policial militar Igor Bernardo Gomes foi por “ação suicida”, um dia depois de anunciar o fim do inquérito. Ao comentar o caso, a corporação divulgou imagens da câmera de segurança que foram investigadas e que apontam que o soldado da Rádio Patrulha teria tirado a própria vida. Os vídeos mostram os momentos em que Igor estaciona seu carro, um Toyota Etios XLS Sedan cinza, na Rua Carlos Pereira Falcão, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, no fim da manhã do dia 24 de outubro, e em que o veículo é encontrado, no dia 2 de novembro.

O delegado Francisco Júnior, titular da Delegacia de Desaparecidos e Proteção à Pessoa (DDPP/DHPP) e responsável pela condução do caso, contou que o corpo foi localizado por conhecidos da namorada de Igor. “Ao reconhecer o veículo, eles informaram a namorada, que de imediato comunicou à família”, disse.

Assista:

O delegado classificou as imagens como esclarecedoras, mas falou que não é possível identificar o momento exato do disparo, que poderia provocar um clarão dentro do carro. “Um detalhe no veículo que dificultou esses fatos é que a película do vidro é muito, muito escura. Então nas imagens dá pra ver várias pessoas encostando no carro, estacionando ao lado”, falou.

Questionado sobre se o tiro não seria escutado por vizinhos, o investigador respondeu que a rua é bastante movimentada pelo fluxo de carros que estacionam no local. "Inclusive estava tendo uma obra da prefeitura, tem imagem de caminhões pesados no local. Isso pode ter dificultado”, ponderou.

Em entrevista à TV Jornal, o delegado disse que também levou em consideração que Igor já havia tentado tirar a própria vida outras três vezes, segundo relatos de amigos e vizinhos. "Temos depoimentos que deixam bem claro que foi uma ação suicida", concluiu.

Apesar de as imagens divulgadas terem cerca três minutos, a polícia informou que analisou gravação completa dos dez dias. Peritos de informática forense utilizaram softwares específicos para detectar se havia alguma edição nos dez dias de filmagem, de acordo com o perito criminal Diego Costa. "As imagens não têm nenhum tipo de corte, que é o que justifica e corrobora que, de fato, o carro chegou, estacionou, ninguém entrou e ninguém saiu."

Família vai contestar na Justiça

A família de Igor Bernardo, que não acredita que ele tenha cometido suicídio, deverá contestar a tese da polícia. Agora que o inquérito foi concluído, a peça será remetida ao Ministério Público para aprovação de um promotor de Justiça, que poderá concordar ou não com a conclusão, explicou o advogado criminalista Weryd Simões, que representa os parentes. "Vamos pedir novas perícias complementares", disse.

O defensor ainda criticou o fato de os familiares não terem recebido o vídeo divulgado nesta quinta, mesmo após sucessivos pedidos. "Estou sabendo das imagens porque você está me dizendo. Ontem, estive com o delegado e ele falou que elas não foram disponibilizadas ainda", revelou. "O delegado cede (os vídeos) em coletiva de imprensa para todos os meios de comunicação, mas falta informar a família, que é a mais interessada no caso", pontuou.

"O policial Igor Bernardo desapareceu dia 24 de outubro. No dia 11 de novembro, a família nos contratou, juntamos procuração e estamos habilitados no inquérito. Toda informação tinha que ser repassada à família", defendeu.

Veja o resultado dos exames de balística e para detectar pólvora 

Além dos vídeos, foram feitas perícias no veículo no local do crime, perícias adicionais no veículo, exame residuográfico, de balística e no IML. Ainda foram analisados 14 depoimentos colhidos, prontuário médico e documentos diversos, segundo a Polícia.

O perito Diego Costa comentou que a balística averiguou a arma usada e os elementos balísticos encontrados no corpo e no veículo. "Essas comparações deram positiva, ou seja, que a arma utilizada foi a do próprio Igor", disse. Já o residuográfico, que identifica vestígios de metais como chumbo, não encontrou amostras de pólvora. "O corpo passou por um processo de decomposição muito grande, e esse tipo de decomposição, além da própria característica dos exames residuográficos, deram a possibilidade de não se encontrar resíduo de disparo de arma de fogo, como chumbo", contou.

O estado de deterioração do corpo também dificultou que a polícia determinasse a data exata de morte da vítima. "As características da decomposição, e também levando em consideração o local em que o corpo estava, que era o carro, que gerava muito calor pela exposição ao sol e criava um ambiente de estufa, dão a precisão de entre 8 a 10 dias. Isso nos leva a acreditar que ele morreu assim que estacionou o veículo ou pouco depois", finalizou. 

Relembre o caso

Igor Bernado Santos Gomes desapareceu no dia 23 de outubro, após deixar a casa da namorada, Clara. De acordo com ela, o policial ele saiu por volta das 11h, dizendo que iria encontrar um corretor de imóveis, e teria enviado uma mensagem para a namorada dizendo que a amava. Depois disso, a família não teve mais contato. O rapaz foi achado dentro do próprio carro, no dia 2 de novembro, por moradores da região de Boa Viagem, por conta do forte odor que vinha do veículo, estacionado na Rua Carlos Pereira Falcão.

À época, a Polícia Civil informou que Igor estava com o banco reclinado e a chave do carro na ignição. Os peritos do Instituto de Criminalística (IC) falaram que o corpo apresentava uma perfuração de bala na testa, e, pelo estado avançado de decomposição, já estava morto há dias quando foi encontrado. Ao lado do corpo, foi achada uma pistola ponto 40, utilizada em serviço, com uma munição deflagrada.

As imagens de câmeras de segurança de um edifício, cedidas à TV Jornal, mostram o policial militar com tontura dentro de elevador em 23 de outubro, um dia antes de desaparecer. 

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