Quem sobe o Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, para participar da festa em homenagem à padroeira do coração dos pernambucanos percebe muito antes da chegada ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição que não se trata de uma celebração como as tradicionais. Nada de interdições no trânsito ou ambulantes nas ruas, vendendo os mais variados tipos de produtos. No entorno do templo não existem barracas. Só estão autorizados a funcionar os fiteiros fixos, que vendem artigos religiosos durante o ano inteiro. Para quem dependia da renda da festa como um 13º salário, será um fim de ano difícil.
É o caso de Bárbara da Silva, 59 anos. Há 42, ela vende artigos religiosos na Festa do Morro. Sem o cadastramento da prefeitura, ela foi obrigada a montar sua barraquinha por trás da grade de isolamento colocada pela Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife (Dircon) para evitar que comerciantes se instalassem no entorno do santuário.
"Tinha como cadastrar a gente, pelo menos quem vive no Morro, e colocar as barracas separadas", argumenta. Bárbara, que ainda vende mercadorias compradas para a edição de 2019, lamenta a perda da renda. "Sobrou muita coisa, porque o movimento foi ruim ano passado. A esperança era conseguir vender tudo este ano, mas nessa situação é complicado. É difícil, porque esse dinheiro era o que eu usava para comprar roupas, sapatos e outras coisas para os meninos, para os netos. Vai ser muito complicado este ano", afirma.
Além das grades colocadas pela Dircon, uma tenda do órgão foi instalada ao lado do templo, para facilitar a fiscalização. Ainda assim, é possível encontrar quem utilize o portão de casa para vender produtos. Muitos comerciantes se adiantaram para vender antes da festa começar, se antecipando à decisão da prefeitura de proibir o comércio de ambulantes. Nesse segundo grupo está Joice de Sousa, 42. No fim da semana passada, ela foi às ruas para tentar vender produtos como fitas, calendários e máscaras com temas religiosos.
"Como não vai ter barraca este ano, resolvi vir antes. Esse é um dinheiro que nos ajuda a comprar roupas e poder ter uma ceia de Natal e Ano Novo. A falta dele vai afetar não só a minha família, mas muitas outras, tanto do Morro da Conceição quanto de bairros vizinhos, já que muita gente vinha aqui montar seu estande", lamenta a comerciante.
A situação não está fácil nem mesmo para quem tem autorização para abrir o comércio. "O fluxo de pessoas tem sido muito pequeno, então as vendas acabam não sendo boas. Tem um ou outro fiel que vem até aqui, mas está fraco. Eu já esperava, mas não é fácil, porque a gente precisa trabalhar", defende Elizabete Freitas, 47 anos, que há 20 mantem comércio no entorno do santuário.
Sem a variedade de produtos pelas ruas, a opção para muitos fiéis tem sido a lojinha do próprio santuário. Por lá é possível encontrar escapulários (de R$ 5 a R$ 15), chaveiros (de R$ 3 a R$ 19), terços (de R$ 3 a R$ 249, em uma versão com cristais italianos), imagens (de R$ 19,90 a R$ 390) e camisetas. A oficial custa R$ 28 e, se vier acompanhada da máscara, R$ 35. Já a extraoficial custa R$ 65 sozinha e R$ 75 com a máscara). "Ficamos de março a julho com a loja fechada. Agora as vendas estão melhorando. Toda a renda da loja é revertida para o santuário, então quem levar uma lembrança vai estar ajudando", explica Djhonnyson Gomes, vendedor da loja.
A 116ª edição da festa em homenagem à Nossa Senhora da Conceição começou em 28 de novembro e segue até o dia 8 de dezembro, dia dedicado à santa. Até o dia 7 de dezembro, as celebrações acontecem às 6h, 9h, 12h, 14h e 16h, com novenário sempre às 19h. No dia 8, as celebrações estão marcadas para 0h, 2h, 4h, 6h, 9h, 12h, 14h e 16h. A Missa de encerramento, que será presidida pelo arcebispo de Olinda e Recife dom Fernando Saburido será às 19h. Toda programação é transmitida ao vivo através do canal do Santuário de Nossa Senhora da Conceição no YouTube.