Meteorologia

Deve chover menos em Pernambuco no primeiro trimestre de 2021; saiba o motivo

A provável redução no acumulado das chuvas deverá atingir, sobretudo, o Agreste, Zona da Mata e Região Metropolitana do Recife (RMR)

JC
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Publicado em 04/01/2021 às 17:46
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
No Grande Recife, temperatura deve variar entre 23°C e 32°C - FOTO: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
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Os três primeiros meses do ano deverão registrar precipitações abaixo da média em Pernambuco. A previsão da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) indica que os acumulados do primeiro trimestre serão inferiores à média dos último 30 anos, sobretudo no Agreste, Zona da Mata e Região Metropolitana do Recife (RMR). O período chuvoso nessas regiões acontece apenas entre os meses de abril e julho. Enquanto isso, o Sertão, onde costumeiramente chove mais de janeiro a abril, deverá ficar mais próximo à média climatológica.

Segundo a estimativa, divulgada nesta segunda-feira (4), é provável que chova menos que 187 milímetros no Agreste, 288 milímetros na Zona da Mata e 436 milímetros na RMR entre janeiro e março. Enquanto isso, o Sertão deverá acumular até 314 milímetros. Esses valores correspondem à soma da média climatológica dos três meses.

A diferença na duração dos períodos chuvosos nas regiões é explicada pelos diferentes sistemas que influem sobre Pernambuco. O Sertão, em particular, possui a maior porção de terra, abrangendo quase 80% da área do Estado. Por isso, as chuvas variam bastante ao longo dos municípios.

O sistema de maior influência sobre a região é a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), uma banda de nebulosidade que se forma no Equador e tem movimento de norte para sul. "Ela chega mais a sul em março, e é esse sistema que faz com que as chuvas ocorram no sertão”, explicou o meteorologista Roberto Pereira, da Apac.

Já o Agreste, a Zona da Mata e o litoral têm dois principais sistemas: o vórtice ciclônico de alto nível (VCAN) e o distúrbio ondulatório de leste (DOL). "São ondas na atmosfera que vem do oceano de leste a oeste e atingem a parte leste do estado”, relatou.

O provável tempo mais seco nos primeiros meses de 2021 sucede um 2020 com chuvas acima do esperado na maior parte do interior de Pernambuco. Mesmo a Zona da Mata e RMR, que ficaram abaixo da média, estiveram próximo da normalidade. "Isso significa que teve um bom abastecimento dos reservatório", completou o especialista.

De janeiro a novembro de 2020, choveu 857 milímetros no Sertão, 51% a mais que a média climatológica da região do período (566 milímetros), segundo relatório da Apac. No mesmo período, o Agreste registrou um acumulado de 886 milímetros, quando a climatologia desse período é de 741 milímetros, correspondendo a um excedente de 20%.

Grandes volumes de água inundaram cidades de Pernambuco no último ano, como Sanharó, no Agreste, onde 1.200 pessoas ficaram desalojadas em novembro por conta de fortes chuvas. No mesmo mês, um inesperado tempo chuvoso também assustou a população de Serra Talhada, no Sertão. 

Já a Zona da Mata teve um acumulado abaixo da média de 1.283 milímetros. Foram 1.140 milímetros de chuva, ou seja, uma diferença de -11%. A RMR também ficou deficitária. Entre os meses, choveu 1.458 milímetros, desvio de -27% sobre a média de 1.998 milímetros.

Por causa das previsões climatológicas, a população deverá esperar mudanças no abastecimento. Por nota, a Compesa respondeu à reportagem que vem monitorando o volume dos seus mananciais, “realizando cálculos e simulações para a definição do melhor modelo de distribuição no período escasso”.

“Da mesma forma, diante da probabilidade de chuvas abaixo da média para o Estado neste primeiro trimestre do ano, particularmente para a Região Metropolitana do Recife (RMR), a Companhia vem reavaliando o esquema de distribuição de água e até o fim deste mês definirá os ajustes necessários aos sistemas”. (Leia a nota completa no fim do texto).

Mas por que vai chover menos neste trimestre?

O motivo da redução é que as águas do mar que banham o litoral brasileiro não estão tão quentes quanto o esperado neste janeiro, explicou Roberto Pereira. 

"A gente está em um ano em que a gente tem atuação do fenômeno La Niña”, disse, citando o fenômeno que deveria aumentar a temperatura do Oceano Atlântico Sul à medida que diminui as temperaturas do Oceano Pacífico Equatorial, do outro lado do continente sul-americano. “No entanto, o Oceano Atlântico está mais frio que o normal. Para termos mais chuva, ele deveria estar mais quente”, resumiu.

Isso porque a temperatura mais baixa inibe a evaporação das águas para a atmosfera, onde são formadas as precipitações. Dessa forma, não há tanta umidade para chover de forma mais considerável.

A razão para o fenômeno estar se comportando de maneira diferente é desconhecida. “Tem algumas teorias que tentam explicar o aquecimento dos oceanos. Podem ser cadeia de vulcões no fundo do oceano que regulam as temperatura; outros falam do ciclo solar, de ter menos ou mais radiações chegando. Mas ainda não conseguem explicar totalmente a ocorrência desses fenômenos na Terra”, comentou.

Além de Pernambuco, outros estados do Nordeste deverão ter chuvas abaixo da climatologia. O alerta vale para o extremo sul do Maranhão, centro-sul do Piauí, sul do Ceará e maior parte da Bahia.

A estimativa foi baseada nos resultados de modelos numéricos de previsão climática e análises dos campos globais da atmosfera e dos oceanos Pacífico Equatorial e Atlântico Tropical, com a participação dos Centros Estaduais de Meteorologia do Nordeste, do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) e CPTEC (Centro de Previsão e Estudos Climáticos).

Leia a nota da Compesa da íntegra

"A Compesa vem atuando junto a Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac) no acompanhamento hidrometeorológico para os primeiros meses de 2021 em Pernambuco. Com base no balanço da situação hídrica de Pernambuco apresentado pela agência em dezembro a partir da análise das chuvas ocorridas no período de janeiro a novembro de 2020, que destaca que a precipitação na RMR permaneceu deficitária em todo ano, a Companhia vem monitorando sistematicamente o volume dos seus mananciais, realizando cálculos e simulações para a definição do melhor modelo de distribuição no período escasso, levando-se em consideração a complexidade da operação de sistemas integrados de abastecimento de água na RMR. Da mesma forma, diante da probabilidade de chuvas abaixo da média para o Estado neste primeiro trimestre do ano, particularmente para a Região Metropolitana do Recife (RMR), a Companhia vem reavaliando o esquema de distribuição de água e até o fim deste mês definirá os ajustes necessários aos sistemas. Paralelamente, a Compesa intensifica o acompanhamento do comportamento de consumo nesta época de altas temperaturas, iniciativa imprescindível para subsidiar a tomada de decisões, e conta, ainda, com a compreensão e o apoio da população para o uso racional de água com pequenas atitudes para evitar o desperdício que podem ser tomadas diariamente para que o volume disponível nos mananciais consiga chegar até o próximo ciclo de chuvas na RMR, previsto para abril."

 

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