REPERCUSSÃO

PM que atirou no olho de homem em protesto no Recife é afastado, diz secretário da SDS

Até agora, oito militares que teriam participado da repressão ao ato foram afastados. Ainda não se sabe quem foi o responsável por atirar contra o adesivador Daniel Campelo da Silva, de 51 anos

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Katarina Moraes

Publicado em 03/06/2021 às 13:31 | Atualizado em 03/06/2021 às 19:01
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O policial militar que teria efetuado o disparo com bala de borracha que atingiu o olho do arrumador de contêiner Jonas Correia de França, de 29 anos, durante manifestação que acontecia no Centro do Recife no último sábado (29) foi identificado e afastado de suas funções na noite dessa quarta-feira (2). A informação foi revelada pelo secretário de Defesa Social de Pernambuco, Antônio de Pádua, durante entrevista ao programa Por Dentro, da TV Jornal, na tarde desta quinta-feira (3).

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Até agora, foram afastados oito militares que participavam da ação. Ainda não se sabe quem foi o responsável por atirar contra o adesivador Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, segundo o secretário. As duas vítimas que perderam a visão nos olhos atingidos sequer participavam do ato contra o governo Bolsonaro, que acontecia em diversas cidades do país. No Recife, a passeata acontecia pacificamente entre a Praça do Derby até a Avenida Conde da Boa Vista, até forças policiais agirem com truculência contra os manifestantes.

Três dias após o episódio, o Governo de Pernambuco exonerou o coronel Vanildo Maranhão, comandante geral da Polícia Militar desde fevereiro de 2017, que entregou o cargo. Ele será substituído por José Roberto Santana, que exercia até então a posição de diretor de Planejamento Operacional da PMPE. Ele toma posse às 8h desta sexta-feira (4) no Quartel do Derby, segundo a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE).

Mas a pergunta de "quem deu a ordem" para que o Batalhão de Choque e a Radiopatrulha reprimissem os manifestantes com balas de borracha e bombas de efeito moral ainda ronda o Estado. Sobre isso, o chefe da SDS-PE respondeu que há hipótese de que a autorização "teria partido inicialmente do oficial que estava na coordenação da tropa de choque", mas que investigações ainda precisam ser feitas. "Nossa missão agora é encontrar e finalizar todas as investigações e procedimentos instaurados para dar essa resposta completa à nossa sociedade", disse Pádua.

"Temos seis procedimentos disciplinares instaurados até então na Corregedoria da SDS, um inquérito instaurado na Polícia Civil de Pernambuco para investigar as lesões corporais contra Jonas, Daniel e mais quatro vítimas que apareceram na delegacia para prestar esclarecimentos, um inquérito policial militar que está sendo processado, além de um estudo de caso para a gente entender se os protocolos da polícia precisam ser modificados, tendo em vista as decisões [que foram] tomadas em campo", explicou o secretário.

Pádua também afirmou que faz parte do protocolo de segurança do Estado a Polícia Militar estar presente em toda e qualquer manifestação, mas com o objetivo principal de garantir a segurança dos manifestantes. "O Choque está presente, mas isso não quer dizer que tem autorização para atuar, usar armas menos letais ou lançar granadas; somente se houvesse uma situação que permitisse que isso acontecesse. A polícia, de forma geral, só pode agir dentro da proporcionalidade, legalidade e da necessidade", esclareceu.

Um vídeo publicado no Instagram oficial da SDS no sábado (29) mostrava o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Antônio de Pádua, e o executivo, Humberto Freire, no Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR) com comandantes da Polícia Militar no momento em que a manifestação acontecia. As imagens ainda traziam a cúpula reunida em frente a um telão que transmitia em tempo real os principais pontos da cidade.

O chefe da SDS admitiu que estava no local, mas que não estava presente quando as forças policiais iniciaram a ação contra o ato. Minha ida ao centro não foi para fazer monitoramento de câmeras. No final da manhã do sábado, fui acompanhar as operações do dia anterior que tinham ocorrido e fazer uma entrevista ao vivo. Somente depois foi que pude observar e ter conhecimento do que estava acontecendo no Centro do Recife. Depois disso, determinei o imediato encerramento da ação da polícia como um todo naquela região."

Em contato ao vivo com a irmã de Daniel, Inês Campelo, Pádua declarou que trabalha para "identificar o justamente o policial que agrediu" o adesivador. "Lamentamos muito e quero me solidarizar com seu irmão, Daniel. As cenas que assistimos sábado são injustificáveis, repudiamos qualquer tipo de violência. A PM trabalha para proteger o cidadão e queremos garantir nesse momento que estamos fazendo uma série de investigações necessárias com maior transparência para darmos a resposta a senhora e a Daniel de quem foram os responsáveis por essa ação contra ele."

Daniel recebeu alta na tarde da terça-feira (1º). Já Jonas segue internado no Hospital da Restauração (HR), sendo acompanhado por oftalmologistas da Fundação Altino Ventura (FAV). Nesta quinta, ele passa por ressonâncias e exames que devem determinar se haverá possibilidade de manter o globo ocular, mas a visão já foi perdida, segundo a esposa dele, Daniela Barreto.

Por fim, Antônio de Pádua garantiu que a ofensiva contra a manifestação "não representa a PMPE, que respeita os direitos humanos e a integridade das pessoas. Há mais de um ano a polícia vem fazendo trabalho de fiscalização das medidas sanitárias que é bastante complicado do ponto de vista policial, e sem que houvesse nenhum problema registrado desde então. Vamos trabalhar para que isso jamais se repita em território pernambucano."

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