INVESTIGAÇÃO

PM não se pronuncia sobre documento que detalha de quem teria partido ordem para reprimir protesto no Recife

Comunicação interna da Polícia Militar revela nomes dos oficiais que teriam dado as ordens durante o protesto realizado no Recife, no fim de maio, e que deixou dois homens cegos

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Margarida Azevedo

Publicado em 06/06/2021 às 17:22 | Atualizado em 06/06/2021 às 18:03
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A Polícia Militar de Pernambuco preferiu não se pronunciar sobre o teor de uma comunicação interna da corporação, obtida com exclusividade pela coluna Ronda JC, em que um oficial detalha quem deu as ordens e como foi a sequência de ações do Batalhão de Choque contra manifestantes que participavam de um protesto no Centro do Recife. Durante a repressão da PM, dois trabalhadores foram baleados no rosto e ficaram cegos de um olho.

A manifestação ocorreu no último dia 29 de maio e chamou a atenção, nacionalmente, pela ação violenta da PM, que usou balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogênio. O ato pacífico era contra o governo Bolsonaro e a favor da vacinação em massa da população contra a covid-19. Reivindicava também auxílio emergencial para as pessoas afetadas pela pandemia.

Em nota neste domingo (6), a Secretaria de Defesa Social (SDS) informa que "a Policia Militar de Pernambuco já remeteu todos os documentos e demais objetos de investigação relacionados ao episódio do sábado, 29 de maio, no Centro do Recife, à Corregedoria-Geral da Secretaria de Defesa Social. Tais elementos de prova fazem parte do procedimento instaurado para apurar as responsabilidades e a PMPE não vai se pronunciar sobre supostos vazamentos", informa a SDS.

A secretaria ressalta também que até agora oito policiais militares, sendo três oficiais e cinco praças (incluindo o que teria atirado no rosto de Jonas Correia de França, 29 anos, um dos feridos que perdeu uma visão) foram afastados e estão sendo investigados. Ainda não há identificação do PM que atirou no outro ferido, Daniel Campelo, 51. Ambos não participavam do protesto. Jonas havia ido comprar carne no Centro e Daniel, material para seu trabalho.

A SDS encerra a nota dizendo que "desde o dia 1° de junho, a Polícia Militar tem um novo comando, assim como a própria SDS que passou a ser conduzida pelo delegado federal Humberto Freire na última sexta-feira, 4 de junho".

Humberto era secretário executivo de Antônio de Pádua, que colocou o cargo à disposição e o governador Paulo Câmara aceitou. Pádua completaria quatros anos no comando da SDS no início de julho.

O coronel da PM Vanildo Maranhão pediu exoneração do cargo de comandante geral no dia 1º. Foi substituído pelo coronel José Roberto de Santana, que antes de assumir o mais alto posto da PM exercia o cargo de diretor de Planejamento Operacional da corporação.

DETALHES

O ato teve concentração na Praça do Derby, bairro de mesmo nome, na área central do Recife. De lá os manifestantes seguiram pela Avenida Conde da Boa Vista. Organizadores do movimento disseram que pretendiam encerrá-lo nesta via. Mas na saída do protesto, ainda no Derby, foram impedidos pela PM de usarem dois carros de som.

Por isso, a coordenação do ato não teve como controlar o local do fim da passeata. Quando a manifestação estava perto de acabar, policiais do Batalhão de Choque se alinharam no cruzamento da Rua do Sol com a Ponte Duarte Coelho, onde teve início a repressão e que se estendeu pela Rua da Aurora e Ponte Princesa Isabel.

O documento, assinado por um oficial da PM, cuja identidade está sendo preservada, foi destinado ao subcomandante do Batalhão de Choque, major Valdênio Corrêa Gondim Silva, e tem a mesma data do protesto. O texto discorre, passo a passo, tudo que foi feito pela PM e de quem partiu cada ordem.

 

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