'Daqui para frente é outra vida', relata um dos feridos em ação da Polícia Militar no Recife
O adesivador Daniel Campelo da Silva perdeu a visão do olho esquerdo
com informações da repórter Juliana Oliveira, da TV Jornal
atualizada às 17h09
Nove dias após ser atingido por um disparo de bala de borracha em uma manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Centro do Recife, o adesivador Daniel Campelo da Silva, 51 anos, relatou que sua vida mudou completamente. A vítima foi um dos feridos na ação da Polícia Militar, que resultou na exoneração do então comandante geral da corporação, Vanildo Maranhão, e do secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, e perdeu a visão do olho esquerdo.
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"A minha rotina está difícil. A minha rotina mudou totalmente. Daqui para frente é outra vida", contou Daniel durante entrevista à TV Jornal na tarde desta segunda-feira (7).
O adesivador recebeu alta na semana passada e, desde então, se recupera em casa, num imóvel localizado no bairro dos Torrões, Zona Oeste da capital pernambucana. Nesta segunda, Daniel passou por uma avaliação na Fundação Altino Ventura (FAV). Segundo ele, uma nova consulta deve ser realizada na próxima semana para saber se será submetido a uma nova cirurgia.
A vítima disse, ainda, que além dos olhos, sente dores em todo o corpo. "Pelo impacto da bala de borracha, que é muito forte, o meu corpo está todo dolorido. Sem contar que estou arranhado e estou com outra marca de bala de borracha nas costas", afirmou.
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Ao lembrar do dia em que foi atingido pelo tiro, Daniel afirma: "como eu estava indo trabalhar, eu não imaginava uma reação da Polícia Militar daquela situação. Porque se tivesse uma agressão, se as pessoas estivessem em cima, mas não teve nada disso. Aí você fica sem ação. O porquê disso. Novamente eu digo: com as mãos levantadas para cima, em sinal de rendimento. Você já está com as mãos levantadas para evitar uma situação de reação". A vítima não participava da manifestação assim como o arrumador de contêiner Jonas Correia de França, 29, que também perdeu a visão de um dos olhos.
De acordo com Fábio Ramos, um dos advogados da vítima, a primeira parcela do auxílio autorizado pelo Governo de Pernambuco, que será pago às vítimas, ainda não foi paga.
Por meio de nota, o Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, responsável pelo pagamento, informou que a quantia foi liberada no dia 4 de junho e que, até o final desta terça-feira (8), estará disponível, após a ativação das contas repassadas pelas vítimas e compensação bancária.
A nota diz ainda que a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) está dando continuidade às reformas e melhoras nas residências dos feridos, mais especificamente nos quartos, para ajustar os espaços às atuais necessidades deles e melhor adequar os ambientes.
Jonas, que se recusou a voltar para casa, alegando não haver estrutura adequada para recebê-lo, foi encaminhado pela SJDH para um hotel, na Região Metropolitana do Recife (RMR), onde ficará hospedado temporariamente.
"No local, Jonas está acompanhado de um familiar, com a garantia de todas as refeições diárias para ambos, sob o apoio permanente de profissionais da Secretaria, em plantões de 24h. Todas as medicações prescritas em sua alta hospitalar e materiais de curativos também já foram fornecidos ao arrumador", informou.
Leia a íntegra
"O Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, informa que já foi realizado o pagamento da primeira parcela do benefício eventual ao adesivador Daniel Campelo e ao arrumador Jonas Correia de França, feridos durante manifestação no último dia 29. A quantia de R$ 2.200,00 para cada um deles foi liberada ainda na sexta-feira, dia 04. Jonas e Daniel estarão com o auxílio já nesta terça-feira (08), até o final do dia, após ativação das contas repassadas pelas vítimas e compensação bancária.
O benefício eventual, previsto em Lei Estadual para situações excepcionais, como de violência, é o teto tanto para o valor quanto para o número de parcelas. A quantia será paga durante três meses enquanto o processo indenizatório está em andamento.
Além disso, por meio da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH), também estão em andamento reformas e melhorias nas residências dos feridos, mais especificamente nos quartos, para ajustar os espaços às atuais necessidades deles e melhor adequar os ambientes. Jonas, que se recusou a voltar para casa, alegando não haver estrutura adequada para recebê-lo, foi encaminhado pela SJDH para um hotel, na Região Metropolitana do Recife (RMR), onde ficará hospedado temporariamente.
No local, Jonas está acompanhado de um familiar, com a garantia de todas as refeições diárias para ambos, sob o apoio permanente de profissionais da Secretaria, em plantões de 24h. Todas as medicações prescritas em sua alta hospitalar e materiais de curativos também já foram fornecidos ao arrumador.
As mesmas condições de hospedagem foram disponibilizadas ao adesivador Daniel, que dará a resposta até esta terça-feira (08). Inclusive, uma equipe esteve na residência dele, para prestar atendimento pelo Centro Estadual de Apoio às Vítimas de Violência (CEAV). Foram levantadas as necessidades da família, como agendamento de vacinas, intermediação de liberação de leite para o filho, entre outras providências. Contatos de plantonistas da SJDH foram disponibilizados às famílias para qualquer intercorrência de urgência. Motoristas também foram colocados à disposição das famílias para ajudar nas questões de deslocamento dos feridos para a realização de exames e para a substituição de acompanhantes.
Cestas de alimentos vêm sendo entregues para as duas famílias desde a última semana, a fim de colaborar com as despesas e com os insumos neste momento de afastamento dos profissionais de suas atividades. Por meio do CEAV, os familiares de Daniel e Jonas também vêm recebendo atendimento psicológico e socioassistencial.
Na última sexta-feira, quando foi anunciado o valor do benefício eventual, houve uma reunião, na Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco (PGE-PE), entre os familiares das vítimas, que estavam acompanhados de advogados e defensores públicos, e o procurador-geral de Pernambuco, Ernani Medicis, o procurador Antiógenes Viana e o secretário executivo de Direitos Humanos, Diego Barbosa. No encontro, foram iniciadas as tratativas acerca das indenizações às vítimas por danos morais e materiais."
Auxílio de R$ 2.200 durante três meses
Após reunião realizada na sede da Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco (PGE-PE) nesta sexta-feira (4), o Governo de Pernambuco autorizou o pagamento de um auxílio de R$ 2.200 a Daniel Campelo da Silva e ao arrumador de contêiner Jonas Correia de França, que perderam a visão do olho esquerdo e direito, respectivamente, durante três meses.
A reunião foi realizada pelo procurador-geral de Pernambuco, Ernani Medicis, o procurador Antiógenes Viana e o secretário executivo de Direitos Humanos, Diego Barbosa, com os familiares das vítimas, advogados e defensores públicos. O benefício foi autorizado enquanto o processo indenizatório está em andamento.
O valor definido está no limite do previsto na Lei Estadual para situações excepcionais tanto no valor quanto para o número de parcelas do benefício eventual.
"A equipe da Secretaria Executiva de Assistência Social do Estado fez visita técnica ao endereço de ambos para conhecer e caracterizar a realidade e seu o contexto familiar, identificando, assim, a situação social e de instabilidade financeira, já que os dois trabalham de maneira informal e a renda deles era o que garantia a sobrevivência da família. Por isso, a quantia definida foi a mais alta da modalidade. Além disso, foi solicitado o acompanhamento socioassistencial à Secretaria de Assistência Social da Prefeitura do Recife, como a consequente vinculação a serviços, programas e benefícios disponíveis as famílias", disse o secretário de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ), Sileno Guedes.
Cestas de alimentos foram entregues pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) aos familiares dos feridos e o acompanhamento psicossocial está sendo realizado por profissionais do Centro de Atendimento às Vítimas de Violência (CEAV), da SJDH. O órgão está promovendo, ainda, reparos na residência dos dois feridos, mais especificamente nos quartos onde irão se recuperar.