MEIO AMBIENTE

Igrejinha de Piedade: entenda o porquê dela ser o ponto mais crítico de incidentes com tubarões em Pernambuco

Do total de 66 incidentes que aconteceram no Estado, 12 foram na altura da Igrejinha da Praia de Piedade. Entenda o que facilita os ataques

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Katarina Moraes

Publicado em 10/07/2021 às 17:03 | Atualizado em 10/07/2021 às 22:43
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Placas na altura da Igrejinha de Piedade já anunciam: evite o banho de mar. O ponto, na Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, é considerado o mais crítico de Pernambuco, por nele terem acontecido 19,35% do total de ataques no continente - 12 incidentes entre 1992 e 2018, segundo o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit). O número crescerá neste sábado (10), após um banhista ter vindo a óbito após ter sido mordido pelo animal no local.

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Segundo a especialista em tubarões, oceanóloga e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco Rosângela Lessa, existe uma "situação favorável" que explica a recorrência de ataques na região. "Ali há uma abertura nos arrecifes que faz com que as águas do raso e das áreas mais fundas se relacionem. Então, se o tubarão tiver por ali, vai ter acesso às áreas mais rasas". Além disso, há também o fato de haver uma aprofundação da costa no local.

A vítima, um auxiliar de serviços gerais, inclusive, estava na área rasa da praia quando foi mordida, segundo o Corpo de Bombeiros. "Ele estava em uma confraternização, jogando futebol, e, depois, ele, sozinho, entrou [no mar] e ficou com a água abaixo da linha da cintura, não estava no fundo. Quando foi mordido, ele mesmo gritou informando que estava sofrendo um ataque de tubarão. Foi quando os salva-vidas do posto 10 desceram, o retiraram da água e fizeram um primeiro atendimento", relatou.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, o incidente aconteceu nas proximidades do posto 4 da corporação. O tubarão chegou a amputar a mão direita da vítima e a causar um ferimento profundo em sua na coxa direita. Ao chegar no hospital, a vítima teria sofrido uma parada cardiorrespiratória e falecido. "Como [o tubarão] pegou na parte posterior da coxa, foi feita a contenção da hemorragia com atadura e gaze. Ele foi retirado do mar e entregue no HR com vida. Saiu [da praia] com saturação 88, mas chegou lá com saturação 75, e não resistiu", narrou.

Próximo ao local do incidente, há placas e bandeiras que indicam o perigo. Para Rosângela, a saída para evitar acidentes é a conscientização. "Esse não é um problema que é resolvido. Não tem como prever e nem como garantir que os incidentes não ocorram mais nas áreas onde já ocorreram. É um problema de educação, mais do que qualquer coisa, porque as recomendações não são seguidas. Acredito que não importa o quanto se faça de pesquisa, se os humanos não se derem conta e sigam as instruções", alertou.

Na Igrejinha, a última vítima foi José Ernesto Ferreira da Silva, de apenas 18 anos, em junho de 2018. Ele teve parte da perna e da genitália arrancados em uma mordida de tubarão. Menos de 12h depois, o jovem faleceu no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife. No dia 15 de abril, no mesmo local, o potiguar Pablo Diego Inácio de Melo, de 30 anos, também foi atacado. Este, por sua vez, teve mais sorte e sobreviveu. Ainda assim, Pablo Diego perdeu parte do braço direito e teve a perna direita amputada.

Antes do início da contabilização dos incidentes, houve outros casos de ataque no local. Em 1947, por exemplo, o padre Serafim de Oliveira morreu, aos 25 anos, após ser mordido por um tubarão também em frente à Igrejinha. Depois do acontecimento, o local ficou conhecido como "Convento Maldito".

Incidentes em Pernambuco

Até hoje, foram registrados 62 ataques no continente, sendo 27 no Recife, 23 em Jaboatão dos Guararapes, seis no Cabo de Santo Agostinho, quatro em Olinda, um em Paulista e outro em Goiana. Em Fernando de Noronha, quatro pessoas foram vítimas dos tubarões. Há, ainda, dois casos em análise pelo Cemit em Noronha, que ainda não foram oficialmente incluídos no relatório.

Do total de vítimas, 25 não resistiram aos ferimentos, e 41 sobreviveram - muitas sofreram amputações. Além da Igreja de Piedade (19,35%), o ponto onde mais foram registrados incidentes no continente foi no Acaiaca (11,29%), na Praia de Boa Viagem. Em Fernando de Noronha, cada um dos quatro ataques aconteceu em localidades diferentes.

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