GRANDE RECIFE

Após ataques de tubarão, Praia de Piedade tem primeiro final de semana com proibição de banho de mar

A decisão tomada pela Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes entrou em vigor na última terça-feira (27) após mais dois incidentes terem sido registrados na Igrejinha de Piedade neste mês de julho

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Katarina Moraes

Publicado em 30/07/2021 às 10:13 | Atualizado em 01/08/2022 às 12:06
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A Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, terá neste sábado (31) e domingo (1º) o primeiro final de semana de proibição de banho de mar, após mais dois ataques de tubarão terem sido registrados na altura da Igrejinha neste mês de julho, local que já contabiliza 14 incidentes. Em decisão inédita em Pernambuco, um trecho do litoral foi interditado para banho de mar pela Prefeitura de Jaboatão, pelo alto índice de ataques. A proibição entrou em vigor na última terça-feira (27) e se estende por 2,2 quilômetros, até o Barramares Hotel.

A gestão municipal e a Secretaria de Defesa Social garantiram que 80 fiscais da prefeitura estarão no local para orientar os banhistas, além de apoio do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar. Caso eles se recusem a sair do mar, serão conduzidos por policiais até a delegacia mais próxima e poderão responder por desacato policial - medida autorizada desde 2014 por decreto estadual. A caminhada pela areia e o comércio de praia continuam liberados.

Como parte da ação, dez banheiros químicos e dez chuveiros foram instalados no trecho, para atender a demanda da área. A ideia é justamente tentar evitar que os banhistas entrem no mar e se arrisquem. Isso porque verificou-se que nos últimos ataques ocorridos naquela área, as vítimas entraram na água para urinar ou para tirar a areia do corpo.

Os detalhes foram definidos em reunião na sede da Secretaria de Defesa Social do Estado, na última segunda-feira (26), e a interdição do trecho perigoso leva em consideração a recomendação feita pelo pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco e especialista no assunto, Jonas Rodrigues, em laudo técnico entregue ao Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit). A recomendação foi publicada em primeira mão pela coluna Ronda JC.

"Eu tinha enviado a recomendação e o Cemit, junto à prefeitura, acatou. Foi uma decisão em conjunto. É uma medida emergencial, mas sabemos que há pontos mais críticos, como a Igrejinha e o Acaiaca (no Recife), onde a gente pode tomar medidas mais duras para evitar casos", disse Jonas à reportagem do JC. Paralela à ação, técnicos da prefeitura e pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) realizam estudos na área para tentar encontrar uma solução e mitigar o problema.

Ali, há uma geografia favorável às investidas dos animais, explicada pela oceanóloga e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Rosângela Lessa. "Naquele ponto há uma abertura nos arrecifes que faz com que as águas do raso e das áreas mais fundas se relacionem. Se o tubarão estiver circulando na região, tem acesso fácil às áreas mais rasas. Também há um aprofundamento da costa naquele local, o que facilita a aproximação dos animais”.

O local já tinha placas alertando sobre o perigo de entrar no mar e nadar, mas quase sempre eram ignoradas pela população.

Recomendações continuam

Mesmo onde o banho de mar não está proibido, é de suma importância que a população se atente às placas indicativas e ao perigo de tomar banho em águas profundas. Um exemplo de outra região onde o alerta para tubarões está ligado é em frente ao Edifício Acaiaca, na Avenida Boa Viagem, Zona Sul do Recife, que contabiliza 7 incidentes.

"Os tubarões não estão em busca de seres humanos; são características da região que facilitam que eles passem pela área. No Acaiaca, há uma fissura no arrecife que gera uma corrente de retorno grande, e inclusive é um dos pontos que teve maior número de ataques inclusive contra surfistas que entravam nessa corrente para pegar ondas", disse Jonas Rodrigues.

Casos na Igrejinha

No último domingo (25), Everton Guimarães Reis, 32 anos, foi mordido por um tubarão na coxa esquerda por volta das 12h na Praia de Piedade. Ele foi internado no Hospital da Restauração (HR), onde passou por cirurgia, e segue em estado estável e consciente na enfermaria da unidade até a tarde desta sexta-feira (30). Caso aconteceu exatamente duas semanas depois do incidente que provocou a morte do auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, 51 anos, atacado pelo animal no mesmo ponto da Praia de Piedade.

Além do ataque que vitimou o auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, 51 anos, no dia 10/7, a última vítima de tubarões em frente à Igrejinha de Piedade foi José Ernesto Ferreira da Silva, de apenas 18 anos, em junho de 2018. Ele teve parte da perna e da genitália arrancados em uma mordida de tubarão. Menos de 12h depois, o jovem faleceu no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife. No dia 15 de abril, no mesmo local, o potiguar Pablo Diego Inácio de Melo, de 30 anos, também foi atacado. Este, por sua vez, teve mais sorte e sobreviveu. Ainda assim, Pablo Diego perdeu parte do braço direito e teve a perna direita amputada.

Antes do início da contabilização dos incidentes, houve outros casos de ataque no local. Em 1947, por exemplo, o padre Serafim de Oliveira morreu, aos 25 anos, após ser mordido por um tubarão também em frente à Igrejinha. Depois do acontecimento, o local ficou conhecido como "Convento Maldito".

INCIDENTES EM PERNAMBUCO

Até hoje, foram registrados 68 ataques de tubarão em Pernambuco desde 1992 (incluindo o mais recente, do último domingo): 63 ataques no continente, sendo 27 no Recife, 25 em Jaboatão dos Guararapes, seis no Cabo de Santo Agostinho, quatro em Olinda, um em Paulista e outro em Goiana. Em Fernando de Noronha, quatro pessoas foram vítimas dos tubarões. Há, ainda, dois casos em análise pelo Cemit em Noronha, que ainda não foram oficialmente incluídos no relatório.

Do total de vítimas, 26 não resistiram aos ferimentos, e 41 sobreviveram - muitas sofreram amputações. Além da Igreja de Piedade (19,35%), o ponto onde mais foram registrados incidentes no continente foi no Acaiaca (11,29%), na Praia de Boa Viagem. Em Fernando de Noronha, cada um dos quatro ataques aconteceu em localidades diferentes.

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