INCIDENTE

Após dois ataques de tubarão em 15 dias, trecho de praia é interditado em Piedade, em Jaboatão dos Guararapes

No último domingo (25), o despachante Heverton Guimarães Reis, 32, foi mordido por um animal marinho. Ele está internado no HR

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Raphael Guerra

Publicado em 27/07/2021 às 7:34 | Atualizado em 27/07/2021 às 8:25
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Após dois incidentes com tubarão na altura da igrejinha de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, em um espaço de 15 dias - um deles com morte -, uma medida dura e inédita será anunciada nesta terça-feira (27). Trata-se da interdição por tempo indeterminado do trecho da praia onde ocorreram os casos. É a primeira vez que a ação será adotada no litoral pernambucano para evitar incidentes com tubarão. 

Os detalhes foram definidos em reunião na sede da Secretaria de Defesa Social do Estado, nessa segunda-feira (26), um dia após o ataque sofrido pelo despachante Heverton Guimarães Reis, 32, estava com água na altura da cintura. A interdição do trecho perigoso leva em consideração a recomendação feita pelo pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco e especialista no assunto, Jonas Rodrigues, em laudo técnico entregue ao Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit). A recomendação foi publicada em primeira mão pela coluna Ronda JC

O prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira, assinou o decreto municipal determinando a interdição já a partir desta terça-feira. O banho de mar, portanto, está proibido. No texto, destacou-se que 14 incidentes já ocorreram no trecho citado. 

"Fica interditado por período indeterminado, para banho de mar, o trecho de praia do Município do Jaboatão dos Guararapes compreendido entre as seguintes coordenadas: – 8.17546, -34.91389 (“Igrejinha de Piedade”) e -8.15585, -34.90775 (“Barramares Hotel”), enquanto durarem os estudos e pesquisas relacionados aos últimos ataques de tubarão na área, tendo em conta sua grave reincidência histórica", diz trecho do decreto. 

A fiscalização da área será realizada pela Guarda Civil Municipal, com apoio do Corpo de Bombeiros e Polícia Militar. Lembrando que há um decreto estadual que prevê a detenção do banhista que não sair do mar, em área de risco, quando abordado

Na reunião, nessa segunda-feira, também houve a recomendação à prefeitura para que um banheiro e um chuveirão sejam colocados naquela altura da praia. Outras medidas serão anunciadas hoje pela manhã.

A ideia de colocar o banheiro e o chuveirão é justamente para tentar evitar que os banhistas entrem no mar e se arrisquem. Verificou-se que nos últimos ataques ocorrido naquela área (dois deles em 2018) as vítimas entraram na água para urinar ou para tirar a areia do corpo. Foi o caso, por exemplo, do auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, 51 anos. Depois de jogar bola, ele foi tirar areia das pernas no mar. Acabou mordido pelo tubarão e faleceu no dia 10 de julho

artes jc
tubarão - artes jc

Também foi recomendado pelo Cemit o aumento de bandeirolas indicando risco de incidentes com tubarão na área. Caberá à prefeitura a aplicação da medida. 

Participaram da reunião o presidente do Cemit, coronel Valdy Oliveira; o vice-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Luiz Medeiros; o secretário de Turismo do município, André Trajano; o vice-diretor do Instituto de Medicina Legal do Recife, Mauro Catunda; o subcomandante do Grupamento de Bombeiros Marítimo (GBMar), major Leonardo Mendonça; o secretário da Diretoria de Planejamento Operacional da Polícia Militar, major André Freire; o coordenador médico do Samu Metropolitano, Leonardo Gomes; o gestor de política costeira da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Sidney Vieira; o engenheiro de pesca e analista ambiental da CPRH Alberto Lopes; e o engenheiro de pesca e doutor pela UFRPE Jonas Rodrigues.

POR QUE O RISCO MAIOR NA ALTURA DA IGREJINHA?

Existe uma geografia favorável às investidas naquele ponto. Quem explica a razão para que quase 20% de todos os ataques de tubarão no Estado tenha sido no local - segundo o Cemit - é a especialista em tubarões, oceanóloga e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Rosângela Lessa. "Naquele ponto há uma abertura nos arrecifes que faz com que as águas do raso e das áreas mais fundas se relacionem. Se o tubarão estiver circulando na região, tem acesso fácil às áreas mais rasas. Também há a um aprofundamento da costa naquele local, o que facilita a aproximação dos animais”, afirmou em entrevista ao JC após o ataque do dia 10 de julho.

SAÚDE

Heverton Guimarães Reis segue internado no Hospital da Restauração (HR), na área central do Recife. Mordido na parte posterior da coxa esquerda e glúteos, ele precisou passar por cirurgia ainda no domingo. Ontem, já foi encaminhado para a enfermaria, onde segue estável, consciente e orientado. Ainda não há previsão de alta. Por causa da pandemia da covid-19, visitas estão ainda restritas.

Heverton foi mordido pelo tubarão por volta de 12h20, segundo o Corpo de Bombeiros. Aquela teria sido a segunda entrada dele no mar. Testemunhas contaram que a vítima foi alertada para não entrar na água. A orientação foi dada por barraqueiros, que lembraram o ataque ocorrido no último dia 10, e também por bombeiros que trabalhavam no local. Mesmo assim, o despachante arriscou e entrou no mar. Por pouco, não perdeu a vida.

O local tem várias placas alertando sobre o perigo de entrar no mar e nadar. Mas quase sempre são ignoradas pela população. Dos 68 ataques em Pernambuco (incluindo quatro no Arquipélago de Fernando de Noronha) desde o ano de 1992, 14 foram na altura da igrejinha de Piedade.

 

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