GRANDE RECIFE

Com interdição do mar após ataques de tubarão, comerciantes da praia na Igrejinha de Piedade pedem atenção do poder público

Após ataques de tubarão, Cemit e Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes anunciaram a proibição do banho de mar em um trecho de 2,2 km da Igrejinha de Piedade até o Barramares Hotel. Vice-prefeito garante que serão discutidas medidas que ajudem os comerciantes

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Katarina Moraes, Vanessa Moura

Publicado em 27/07/2021 às 13:16 | Atualizado em 27/07/2021 às 13:49
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Quando ouviu os gritos de socorro vindos da água nesse domingo (25), a comerciante Marli Alves de Santana, de 59 anos, respirou fundo. Ela sabia que, com mais um ataque de tubarão na área da Igrejinha de Piedade, na praia de mesmo nome, onde trabalha há 30 anos, o movimento de pessoas cairia ainda mais. Isso em meio à pandemia da covid-19, que já traz dificuldades financeiras para o setor há mais de um ano. Nesta terça-feira (27), foi anunciada a proibição do banho de mar em um trecho de 2,2 km até o Barramares Hotel, mas a ajuda aos vendedores do local ainda será discutida nesta quarta-feira (28).

O auxílio emergencial municipal é referente à situação de emergência de saúde pública, e, segundo o vice-prefeito de Jaboatão, Luiz Medeiros, será de R$ 180, pago durante três meses. A reunião discutirá, também, medidas para evitar que o público deixe que frequentar o comércio da Igrejinha. “Teremos uma reunião amanhã com eles justamente para tratar do auxílio emergencial da pandemia, e vamos tratar [também] desse assunto, desses ataques, orientando-os, inclusive, com o apoio do Cemit para, em conjunto, não diminuir a quantidade de pessoas que utilizam esse trecho”, disse.

Antes da Igrejinha se tornar o local com mais incidentes com tubarões, hoje somando 14 dos 68 ataques registrados no Estado desde 1992, Marli chegava a vender dez grades de cerveja ainda durante a manhã. Agora, mal vende duas. “Com o início dos ataques, o movimento já começou a cair. Com o primeiro desse mês, piorou. Agora, piorou de vez. Aqui nessa praia não tem mais condições de trabalhar. Às vezes, saio de casa pensando se vou levar o pão para casa hoje. Minha renda é essa aqui, a gente depende da praia”, afirmou ela, que trabalha com mais dois funcionários.

Barraqueiro no local há 20 anos, José Ivan, que tem 8 funcionários nos finais de semana e feriado, teme ter a renda ainda mais reduzida após a medida de interdição. “Estávamos sem poder trabalhar por conta da pandemia, e quando o movimento estava começando a reagir, de repente veio o primeiro ataque, depois o segundo, e agora a interdição do banho. Fica complicado saber como vai ficar a nossa situação", desabafou. Ele também explica que, na área, há cerca de 10 bares, e que não há possibilidade de cada comerciante procurar um outro ponto da praia, porque todos já estão ocupados.

Ambos os comerciantes estavam presentes nos dois últimos ataques que aconteceram nos dias 11 e 25 de julho. "Parecia filme de terror", contou Marli. "Nesse último, eu estava lá na frente, inclusive, o rapaz estava bebendo aqui", relatou Ivan. As vítimas de mordidas de tubarão foram Marcelo Costa Santos, 51 anos, que não resistiu aos ferimentos na mão e na coxa e morreu, e Heverton Guimarães Reis, que está internado no Hospital da Restauração (HR) se recuperando de mordidas na parte posterior da coxa esquerda e glúteos.

A partir dos dois incidentes, que acontecera em um período de 15 dias de distância, a Secretaria de Defesa Social (SDS), por meio do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), se reuniu nessa segunda-feira (26) com a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes e com especialistas da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) para discutir quais ações deveriam ser tomadas para evitar novos casos.

O resultado da discussão foi divulgado em coletiva de imprensa nesta terça (27), com a proibição do banho de mar na área. O prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira, assinou o decreto municipal que torna a medida - inédita no litoral pernambucano - válida. Para implementá-la, cerca de 80 fiscais da prefeitura estiveram no local nesta manhã para orientar os banhistas. Helicópteros e balsas também integram a ação. A caminhada pela areia e o comércio de praia estão liberados.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
A interdição ficará em vigor por tempo indeterminado - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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A interdição ficará em vigor por tempo indeterminado - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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A interdição ficará em vigor por tempo indeterminado - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Como parte da ação, dez banheiros químicos e dez chuveiros foram instalados no trecho, para atender a demanda da área. Isso porque verificou-se que nos últimos ataques ocorridos naquela área, as vítimas entraram na água para urinar ou para tirar a areia do corpo.

"Nosso intuito é impedir que as pessoas adentrem na praia. Se acontecer, os bombeiros e a polícia vão retirar essas pessoas e tomar as pessoas cabíveis. Uma das justificativas das últimas ocorrências é que as pessoas entravam no mar para se banhar ou fazer suas necessidades, então a prefeitura resolveu ampliar a quantidade de banheiros químicos e instalar chuveiros a partir de hoje para que pessoas que frequentam essa área possam usar os equipamentos e não entrem no mar", disse o vice-prefeito.

O Coronel Valdir Oliveira, presidente do Comitê de Monitoramento de Incidentes com Tubarões do Estado (Cemit), garante que a fiscalização por parte do Corpo de Bombeiros será mais rígida em caso de descumprimento das regras. "Nossa intenção é conscientizar a população, desde que sejam aceitadas as medidas de segurança. As pessoas serão orientadas a não entrar na água e a sair da água caso já estejam dentro, se mesmo assim insistirem, serão detidas e encaminhadas à delegacia pelo crime de desacato", informou.

Ainda segundo ele, é necessário que a população atue de forma conjunta às forças de segurança, obedecendo e respeitando todas as medidas preventivas. "Os últimos ataques que aconteceram por aqui foram em pessoas que desobedeceram as medidas de segurança que adotamos. Esse último caso, por exemplo, temos relato de que a vítima já tinha sido retirada duas vezes do mar pelo corpo de bombeiros, e da terceira vez, quando ia ser retirado, ele foi atacado", completou o coronel.

Na areia, banhistas e frequentadores da praia aprovaram a interdição. "É triste, né? Viajar quatro horas e saber que não posso tomar um banho de mar é ruim, mas é pela segurança, então tudo bem. Agora é só banho de rio, mesmo", revelou Deilton Cesar Santana, que veio de Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste, para curtir uma praia nesta terça.

A paulista Marcia Maria da Silva também decidiu não arriscar. Ela veio turistar em Pernambuco e, após os dois ataques de tubarão deste mês, optou por ficar só olhando. "Estou hospedada aqui mesmo em Jaboatão, vim a passeio e até fiquei sabendo desse primeiro ataque que teve esse mês, mas mesmo assim vim na teimosia querendo nadar. Depois desse segundo ataque, eu recuei e vi que é perigoso mesmo, né? Vou ficar só olhando mesmo".

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