"Eu não tinha sido alertado", diz sobrevivente do recente ataque de tubarão em Piedade
Última vítima mordida por tubarão no Estado recebeu alta do Hospital da Restauração (HR), no Centro do Recife, nessa quinta-feira (5)
Com informações da repórter Dyandhra Monteiro, da TV Jornal
Diferentemente do que haviam dito testemunhas, o despachante Everton Guimarães Reis, 32 anos, contou em entrevista à TV Jornal nesta sexta-feira (6) que não havia sido alertado pelo Corpo de Bombeiros a sair do mar antes de ser atacado por tubarão. "No momento [do incidente], acho que estavam vindo dar algum alerta e pedir para eu recuar mais um pouco, mas eu não tinha sido alertado ainda", afirmou. Na região onde foi mordido no dia 25 de julho, na Igrejinha de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, onde tinham placas e bandeirolas indicando o perigo de ataques.
Mesmo assim, a vítima, que foi mordida na a coxa esquerda, agradece ao trabalho dos bombeiros. "Tenho que agradecer a eles, porque foram cruciais naquele momento, se não tivessem feito o estancamento. poderia ter sido de mal a pior", completou.
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O barraqueiro Adenildo de Andrade, 18 anos, contou à reportagem do JC à época que bombeiros que estavam no posto pediram para que a vítima ficasse no raso. “Ele chegou a ir um pouco para o fundo e os bombeiros pediram para ele vir para o raso”, relatou. Comerciantes da área também disseram ter alertado.
Everton foi socorrido para o Hospital da Restauração (HR), no Centro do Recife, onde ficou internado até receber alta nessa quinta-feira (5). "[O trabalho do hospital] foi muito bom, porque estavam dedicados ao caso e ao ferimento e estavam 24h em cima. É um processo delicado e demorado, os médicos disseram que seriam 4 a 5 meses de recuperação, com curativo, medicamento", contou.
Ele relatou, ainda, o momento do incidente. "Não vi e nem senti que [o tubarão] estava chegando perto. Só vi na hora do ataque, quando percebi a mordida. No momento, quando a adrenalina do seu corpo está muito alta, você não sente dor. Mas de 30 a 40 segundos depois, quando você está na areia e livre do ataque, é quando vem a dor, quando você está ciente do que aconteceu", disse.
Com a esposa desempregada e sem renda atualmente, o despachante passa por dificuldades financeiras para pagar o tratamento. “Minha esposa está desempregada e eu também, porque despachante trabalha por conta própria. Estamos sem renda financeira, e os curativos são muito caros. Estamos precisando de materiais para curativo e de locomoção para ser acompanhado pelos médicos no hospital”, revelou. Quem tiver interesse em ajudá-los. pode entrar em contato pelo número (81) 98326-0312 ou fazer transferências pelo Pix 070.701.824 -22.
Pai de um menino de 13 anos, Everton viverá o Dia dos Pais, neste domingo (8), de uma forma diferente, após "ressurgir". "Vou olhar de outra forma, ficar um pouco mais próximo. Depois desse ataque, ressurgi, foi a segunda chance que Deus me deu. Tem que comemorar outra data de aniversário", afirmou.
O CASO
No domingo, 25 de julho, Everton Guimarães Reis, 32 anos, foi mordido por um tubarão na coxa esquerda por volta das 12h na Praia de Piedade. Caso aconteceu exatamente duas semanas depois do incidente que provocou a morte do auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, 51 anos, atacado pelo animal no mesmo ponto da Praia de Piedade.
Além do ataque que vitimou o auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, 51 anos, no dia 10/7, a última vítima de tubarões em frente à Igrejinha de Piedade foi José Ernesto Ferreira da Silva, de apenas 18 anos, em junho de 2018. Ele teve parte da perna e da genitália arrancados em uma mordida de tubarão. Menos de 12h depois, o jovem faleceu no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife. No dia 15 de abril, no mesmo local, o potiguar Pablo Diego Inácio de Melo, de 30 anos, também foi atacado. Este, por sua vez, teve mais sorte e sobreviveu. Ainda assim, Pablo Diego perdeu parte do braço direito e teve a perna direita amputada.
Antes do início da contabilização dos incidentes, houve outros casos de ataque no local. Em 1947, por exemplo, o padre Serafim de Oliveira morreu, aos 25 anos, após ser mordido por um tubarão também em frente à Igrejinha. Depois do acontecimento, o local ficou conhecido como "Convento Maldito".
INCIDENTES EM PERNAMBUCO
Até hoje, foram registrados 68 ataques de tubarão em Pernambuco desde 1992 (incluindo o mais recente, do último domingo): 63 ataques no continente, sendo 27 no Recife, 25 em Jaboatão dos Guararapes, seis no Cabo de Santo Agostinho, quatro em Olinda, um em Paulista e outro em Goiana. Em Fernando de Noronha, quatro pessoas foram vítimas dos tubarões. Há, ainda, dois casos em análise pelo Cemit em Noronha, que ainda não foram oficialmente incluídos no relatório.
Do total de vítimas, 26 não resistiram aos ferimentos, e 41 sobreviveram - muitas sofreram amputações. Além da Igreja de Piedade (19,35%), o ponto onde mais foram registrados incidentes no continente foi no Acaiaca (11,29%), na Praia de Boa Viagem. Em Fernando de Noronha, cada um dos quatro ataques aconteceu em localidades diferentes.