Painéis de Lula Cardoso Ayres no antigo terminal do Aeroporto do Recife amargam o abandono junto ao equipamento
Obras de arte do artista pernambucano também integram discussões sobre novos usos do prédio histórico da Zona Sul do Recife
Esta reportagem é vinculada a: "Novos usos para o sucateado antigo terminal do Aeroporto do Recife e praça de Burle Marx no centro das discussões". Clique para ler antes.
Jóias da arte vanguardista pintadas nas paredes do antigo terminal do Aeroporto do Recife são mantidas em meio às teias de aranha, ao escuro e ao abandono que o equipamento se encontra. Desde 2004, quando o novo terminal foi inaugurado, os coloridos painéis “Folclore" e "Ciclo Econômico", do artista pernambucano Lula Cardoso Ayres (1910-1987), não têm mais olhares sobre eles, e são uma das pautas das discussões entre poderes público e privado que circundam o prédio - hoje administrado pela Aena Brasil, mesma empresa que gere o novo aeroporto.
Reportagem do JC deste domingo mostrou o estado do antigo terminal - pior que nunca. Há poucos meses, tapumes foram postos por toda sua estrutura, proibindo o acesso ao local por causa dos frequentes furtos da cobertura, mas a decadência é aparente mesmo de longe. Enquanto isso, a Aena diz que o "espaço deve ganhar novos usos", sem dar mais detalhes, levantando temor de urbanistas sobre ainda maior descaracterização do conjunto formado pelo prédio e pele a Praça Ministro Salgado Filho, de Burle Marx.
Apesar de estarem no prédio concedido à empresa, as obras não pertencem a ela. São tombadas pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e, portanto, de propriedade pública, mas cabe à Aena a preservação delas enquanto lá estiverem.
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Por nota, a empresa informou ter colocado uma proteção ao redor das paredes para mantê-los protegidos, impedindo que sejam visualizados, e que as “decisões referentes ao destino das obras estão sendo alinhadas em conjunto com as autoridades competentes", como a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).
Por não poder adentrar o edifício, a reportagem do JC pediu para que a Aena enviasse fotos recentes dos murais, mas recebeu como resposta que também não tem acesso, e que não seria possível enviá-las.
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Por nota, a Fundarpe diz já ter notificado a Aena “inúmeras vezes” sobre o cuidado com as obras, e que desde setembro de 2020 “vem intensificando as cobranças para que a referida empresa, responsável pela conservação das peças”, promova ações emergenciais “de preservação e proteção dessas obras”.
Ainda, a Fundarpe relatou que durante audiência no último dia 23 de setembro no Ministério Público Federal (MPF), que tratou projeto do antigo prédio do aeroporto juntamente com representantes do Iphan e das secretarias Municipais de Turismo e Política Urbana do Recife, “reiterou a importância de uma intervenção urgente para a conservação das referidas obras”.