ATROPELAMENTO

"Só quero vê-la e pedir perdão", diz motorista que atropelou advogada em ato no Recife

O homem, que dirigia um carro Jeep Renegade, furou o bloqueio do protesto no último sábado e acabou atingindo e arrastando a advogada. Ele fugiu do local e não prestou socorro à vítima

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Vanessa Moura

Publicado em 04/10/2021 às 12:24 | Atualizado em 04/10/2021 às 13:32
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O administrador Luciano Matias Soares atropelou uma advogada, no último sábado (02), após uma manifestação pacífica contra o governo Bolsonaro que acontecia no Centro do Recife. Luciano dirigia um carro Jeep Renegade quando furou o bloqueio do protesto e acabou atingindo e arrastando a mulher. Após o acidente, ele fugiu sem prestar socorro à vítima e agora está sendo investigado por tentativa de homicídio.

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Em entrevista à repórter Juliana Oliveira, da TV Jornal, Luciano revelou estar "profundamente abalado e preocupado com a vítima". "Eu não estou me eximindo da minha culpa. Eu tô mal de verdade, principalmente, pelo que eu fiz, pela menina. Eu entrei em um desespero tão grande, pedi pra uma amiga minha ir lá no local para ver o que tinha acontecido, porque sabia que eu não podia ir lá. Estou super abalado, o que mais quero é que ela se recupere. Quero vê-la, pedir perdão por tudo que aconteceu", disse. 

Horas antes do acidente, o administrador explicou que havia ido tomar a vacina contra a covid-19 na Universidade Católica De Pernambuco (Unicap). Depois, ele teria ido buscar dois chips no trabalho de um amigo, em Afogados, e na hora do retorno passou pela área do protesto. 

"Quando estava voltando de Afogados passei ali no Cais Santa Rita e vi um protesto. Neste momento, diminui a velocidade do carro, quando cheguei próximo, vi a multidão passar por mim e fiquei parado. Não só eu, como outros carros e motoqueiros. Em seguida, abri o vidro e perguntei a um rapaz que tava em pé se eles iam ocupar a via inteira, ele disse que não e pediu para eu aguardar um pouquinho. Nesse aguardar, fui pegando um pouco a direita e foi quando tudo aconteceu", revelou.

Após o atropelamento, Luciano seguiu em frente e não parou para socorrer a vítima. De acordo com ele, a reação se deu por conta do medo. "Essa moça veio no meu carro, começou a hostilizar, todo mundo me hostilizando, aquela confusão, aflição, foi tudo muito rápido, meu carro é automático, eu não tive aquele pensamento de parar. Eu segui com o carro e depois freei, aí ela caiu do carro, porque ela estava pendurada. Quando virei o volante, achei que não ia pegar nela, mas pegou. Não tinha condições nenhuma de voltar para socorrer. Minha vontade foi voltar mas eu não tive essa chance, as pessoas estavam querendo entrar no carro", contou.

A versão dele foi contestada por pelo menos seis testemunhas que compareceram ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) afirmando que ele acelerou o carro em cima dos manifestantes, segundo a advogada da vítima, Priscilla Rocha.

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O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, já encaminhou ofícios solicitando as imagens das câmeras de segurança instaladas na Avenida Martins de Barros, na área central do Recife, e proximidades. O objetivo é esclarecer os detalhes do atropelamento.

O inquérito ficará sob comando da 1ª Delegacia de Homicídios do DHPP. A expectativa é de que as primeiras imagens que mostrem o atropelamento e fuga do motorista sejam entregues já nesta segunda-feira (04) para perícia. Testemunhas do caso também devem ser ouvidas. A polícia não confirmou se foi pedida a prisão do suspeito à Justiça.

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Depois do atropelamento, o motorista registrou um boletim de ocorrência de dado/depredação na Central de Plantões da Capital. Ele, que já foi candidato a vereador pela Frente Popular do Recife em 2012, argumenta que não fugiu da culpa, mas apenas do local. 

"Eu não fugi, eu fugi do local por causa da emoção das pessoas, não tinha condições de eu voltar. Eu me sinto injustiçado porque não é do meu caráter, eu não sou esse monstro que estão tentando rotular. Se eu pudesse voltar para sábado eu não teria feito esse caminho. Teria feito tudo diferente. Mas foi tudo muito rápido", completou. 

Questões políticas

Ao JC, o advogado Sérgio Gonçalves, que defende Luciano, disse que seu cliente não atropelou a advogada por razões políticas, e que, inclusive, Lucia seria simpático às reivindicações do ato contra Bolsonaro. "Ele foi relacionado como um aliado de Bolsonaro porque ele foi candidato a vereador pelo PSC em 2012, quando nem o nome Bolsonaro era falado. Já tenho em mãos e possivelmente nas redes sociais deve ter também ele informando que votou e vota no PT. Tenho também documentos que mostram ele com a camisa e a bandeira do PT. Inclusive ele falou nas entrevistas de ontem que é votante do presidente Lula, ou seja, esse fato da data de ontem não foi um ato político. Não podemos direcioná-lo como se fosse um atentado aos manifestantes", afirmou.

ESTADO DE SAÚDE

A advogada de 28 anos atropelada no último sábado (2) durante dispersão do protesto pacífico contra o governo do presidente Jair Bolsonaro tem estado de saúde estável e encontra-se em observação, segundo comunicado transmitido pela Comissão de Advocacia Popular (CAP). Devido ao rompimento no ligamento do tornozelo, ela precisou passar por cirurgir e teve 10 pinos implantados em seu pé, o que demandará prolongada recuperação.

A vítima teria convulsionado após o atropelamento, que ocorreu no sábado por volta das 12h30. Além da cirurgia no pé, ela levou pontos na cabeça. Nesta segunda-feira (4), e mulher ainda está em observação e em recuperação no Real Hospital Português, na Avenida Governador Agamenon Magalhães.

Entenda o caso

Uma mulher que havia participado de uma manifestação pacífica contra o presidente da República, Jair Bolsonaro, no Recife, foi atropelada, no início da tarde deste sábado, no Centro da cidade. Segundo a vereadora Dani Portela (PSOL), ela foi arrastada por cerca de 50 metros. Testemunhas contaram que o motorista teria avançado em direção ao grupo de manifestantes que a mulher fazia parte. O acidente aconteceu por volta das 12h30 na Avenida Martins de Barros, no bairro de Santo Antônio. A mulher foi socorrida pelo Samu para um hospital particular da capital pernambucana.

O motorista trafegava pela Avenida Martins de Barros. Ao parar no semáforo antes do cruzamento com a Ponte Maurício de Nassau teria se deparado com o grupo de manifestantes. Uma das versões é que ele não quis parar para esperar as pessoas atravessarem a via. A vítima se segurou no capô do carro. Quando o condutor freou bruscamente, logo depois da estação do BRT, ao lado do Armazém do Campo, a mulher caiu no chão. O motorista, então, passou por cima dela e fugiu sem prestar socorro.

ACOMPANHAMENTO

O presidente da OAB-PE, Bruno Baptista, e a vice-presidente da entidade, Ingrid Zanella, estiveram no no Hospital Português para prestar solidariedade à advogada. Eles estiveram junto com representantes das comissões de Advocacia Popular, Mulher Advogada e Direitos Humanos. O presidente conversou por telefone com o secretário de Defesa Social, Humberto Freire, que garantiu apuração célere e rigorosa do caso.

Bruno considerou o atropelamento "bárbaro". "As nossas comissões de direitos humanos, prerrogativas, mulher advogada e advocacia popular estão acompanhando de perto o caso. Também falamos diretamente com o secretário de defesa social, que se comprometeu uma rápida apuração. A nossa principal preocupação é com o estado de saúde da nossa colega e também com uma rápida apuração, porque isso não pode ficar impune", concluiu. 

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