Avenida Cruz Cabugá: tudo de ruim em estrutura e mobilidade concentrado na via que liga Recife a Olinda
Via que liga o Recife a Olinda já foi alvo de diferentes projetos urbanísticos e de mobilidade - que fracassaram, como o alargamento do corredor para melhorar fluxo do Sistema BRT. Enquanto isso, prédios desocupados assinam o caráter de abandono, trazendo insegurança
Vira e mexe, a Avenida Cruz Cabugá, no centro da capital pernambucana, volta a ocupar o noticiário. A via de cerca de 2,4 quilômetros que liga o centro da capital pernambucana à cidade de Olinda já foi alvo de diferentes projetos urbanísticos e de mobilidade - que fracassaram. O caso mais recente foi o anúncio no último mês do desinteresse das empresas na licitação que previa o alargamento do corredor para melhorar o trânsito do transporte público. Prédios desocupados em sua extensão também assinam o caráter de abandono, trazendo insegurança para a via. Uma conta que é paga por quem precisa utilizá-la para se deslocar pela cidade.
Na Cabugá, estão concentrados importantes comércios, concessionárias, armazéns e edificações, como o Cemitério dos Ingleses, o Hospital de Santo Amaro - a Santa Casa de Misericórdia -,, o Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), uma das saídas do Shopping Tacaruna e o antigo prédio da vice-governadoria do Estado, que, de tão ignorado, se destaca na paisagem com suas janelas quebradas e mato alto.
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O influencer Victor Borges, que passa pelo local com frequência, disse que há anos não vê serviços de preservação no espaço. "A situação daqui é precária. Esse prédio está há quatro ou cinco anos abandonado. Várias pessoas se escondem nele, deixando a população à mercê", afirmou. Por nota, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Administração (SAD), informou que já foi iniciada a “fase interna da licitação” do imóvel, com o objetivo de contratar os projetos de reforma do prédio, e que, após a execução dos serviços, “o Governo indicará a destinação do patrimônio”.
Outro exemplo é o Mercado de Santo Amaro, que está com a maioria dos 82 boxes desocupada, com pouco movimento e comerciantes que pelejam para conseguir manter as contas em dia. No teto, há frestas por onde passa água de chuva. Animais de rua percorrem o ambiente. Já os banheiros estão sem tampas sanitárias ou torneiras.
"A gente está trabalhando em uma dificuldade imensa, e na esquina está cheio de lixo. o estacionamento aqui tá ruim. Ninguém vem aqui nesse Mercado. Não tem divulgação, a gente não recebe uma qualificação para servir os fregueses. Há muito box fechado também. A prefeitura não dá incentivo a gente para nada. Aqui tem uma pessoa que varre durante o dia, mas só isso", disse o comerciante Eduardo José, de 58 anos, que trabalha há 3 anos no equipamento com manutenção de eletrodomésticos.
Cheias de buracos, as calçadas da Avenida - como de forma geral na cidade - também não garantem a acessibilidade e necessitam de reparos, principalmente em frente aos terrenos da área militar. A legislação municipal adota que a manutenção delas é de responsabilidade do imóvel, exceto em áreas públicas como frentes d´água, canteiros centrais, praças e parques, que são responsabilidade da gestão da cidade - uma questão polêmica, já que muitos especialistas discordam do teor da determinação.
Há quatro anos, foi na área militar da Cabugá que a Prefeitura do Recife buscou autorizar a construção de edifícios de até 21 andares na antiga vila operária, moradia de integrantes da corporação, através do Plano Específico Santo Amaro Norte, com o aval da própria Marinha. Contudo, por não apresentar estudos de impacto ambiental na área, foi embargado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE).
No último mês de julho, foi entregue pela Prefeitura do Recife um redesenho urbano no entorno da Praça Carlos Pinto, com novas travessias de pedestres e peças de urbanismo tático, que beneficiaram principalmente quem se desloca a pé até o shopping e ao HCP. De acordo com as notificações da CTTU, registrou-se uma redução de 41% de sinistros de trânsito com vítimas após as intervenções. Ainda
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foram implementadas no local novas vagas de Zona Azul, que eram uma demanda da população.
Em 2019, segundo a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), o corredor foi “totalmente recapeado” e neste ano recebeu “serviços de levantamento de tampão”. O taxista Doval confirmou que o serviço de fato melhorou o tráfego na avenida, apesar de considerar que há “um ciclo vicioso” entre consertá-la com “remendos” e, no “período de chuvas, já precisar de novos reparos”.
Entretanto, as necessárias alterações da via para melhor atender o Sistema BRT pernambucano ainda não foram implementadas - e nem têm data para serem. A avenida precisaria ser alargada para que uma de suas faixas fosse destinada a corredores exclusivos, porque a ausência deles, como trouxe a coluna Mobilidade, do JC, faz com que os ônibus percam 20% do tempo das viagens. Mas a licitação que previa iniciar essa obra, no entanto, fracassou em setembro por falta de interesse de empresas.
Insegurança
A falta de policiamento é uma reclamação constante na área. O taxista Doval Campelo, 46, que trabalha em ponto na Cabugá há mais de 6 anos, revelou já ter presenciado muitos assaltos. “Sempre vejo, principalmente na parada de ônibus. Puxam celular e relógio dos passageiros”, disse. A informação embasa o medo da doméstica Angélica Alves, que costuma aguardar pelo transporte público na avenida. "Tenho medo de ser assaltada aqui, porque acontece com frequência. A gente anda com insegurança. Às vezes, ficamos no posto para nos sentirmos mais seguros, e ficamos prendendo a bolsa. Quando há muitas mulheres, andamos uma perto da outra para não sermos assaltadas", disse.
A comerciante Maria de Fátima Souza, 65, uma das que foram transferidas das barracas das calçadas para organizados fiteiros na Praça Carlos Pinto, teve o box arrombado há pouco menos de 2 anos. “Abriram meu fiteiro e levaram ventilador, maços de cigarro e isqueiros. Um prejuízo”, contou. Sobre as denúncias, a Polícia Militar de Pernambuco informou que, para garantir a segurança na Cabugá, conta com lançamento de guarnições táticas diuturnamente, além do Transporte Seguro, Grupo de Apoio Tático Itinerante (GATI), motopatrulheiros, a operação BRT nas estações, guarnições de GATI, extra, e operação Telun II.
Mesmo com os problemas citados por quem convive na praça pública, o taxista Adeilson Barros, 53, que trabalha em frente ao equipamento há mais de 20 anos, disse que o ordenamento na área melhorou nos últimos tempos. “Antigamente aqui era pior, uma bagunça, cheio de barraca, os carros passavam pelo maior problema para sair do shopping. A praça estava abandonada, sem luz, e o pessoal entrava para defecar e usar drogas. Ela melhorou após a reforma do Tacaruna”, relatou.