Ainda não se sabe ao certo se o Carnaval de 2022 acontecerá, tudo depende da situação da pandemia da covid-19. Antecipadamente, alguns blocos do Recife e de Olinda já estão se organizando para o período momesco, com ensaios e oficinas em ambientes privados e sem acesso do público, seguindo protocolos de segurança sanitária e com a esperança de que sairão às ruas no próximo ano.
No Recife, a prefeitura anunciou, no dia 22 de setembro, a criação da Comissão Interna do Carnaval, formada por diversas secretarias do município. O grupo ficará responsável por deliberações e ações administrativas relacionadas ao Carnaval 2022.
"Nosso papel é deixar o Recife apto e preparado para ter um carnaval. Mais uma vez, a decisão final será das autoridades sanitárias. Inclusive, a Secretaria Municipal de Saúde vai fazer parte da comissão. Os trabalhos se iniciam, toda parte estrutural e organizacional", disse o prefeito João Campos (PSB).
Questionada sobre a viabilidade do Carnaval em 2022, a Prefeitura do Recife respondeu que os espaços culturais públicos municipais obedecem às regras sanitárias definidas pelas autoridades sanitárias e oficializadas pelo governo estadual. A capital também informou que com os cancelamentos das programações carnavalescas na cidade, foi criado o AME Carnaval do Recife - Auxílio Municipal Emergencial, que destinou R$ 4 milhões para as quase 1000 atrações e agremiações que se apresentaram no ciclo cultural do Carnaval de Recife em 2020.
"As tratativas sobre o Carnaval 2022, neste momento, no Recife, serão conduzidas pela comissão recém-formada, da qual faz parte a Secretaria de Saúde, realizando o monitoramento permanente do quadro sanitário e das recomendações", disse a prefeitura, em nota.
Com nove anos de história, o Bloco Samba Soul Delas, um grupo percussivo feminino, de Olinda, teve que se adaptar à dura realidade que a pandemia trouxe para o Carnaval. O ensaio foi dividido em dois grupos, o primeiro com os integrantes da percussão e as vocalistas, em ambiente privado (sem os integrantes da bateria). O segundo momento, em outro local, é dedicado às oficinas de instrumentos para os novos integrantes, que estão aprendendo a tocar os instrumentos. Para participar, tem que ter ao menos uma dose da vacina contra a covid-19, além de usar máscaras e álcool em gel e manter distanciamento.
"Mesmo que não haja o Carnaval de rua em 2022, o trabalho deve continuar. Nós precisamos ter a nossa folia, usar glitter. Eu acredito que vá acontecer ao menos em espaços fechados", disse Roberta Pessoa, presidente do Samba Soul Delas.
Em Olinda, são 700 organizações, entre blocos, agremiações, orquestras de frevo e artistas locais registrados pela Secretaria de Patrimônio, Cultura e Turismo. Em julho, foi montada uma comissão por parte da prefeitura para discutir a viabilidade do Carnaval em 2022. "Os grupos percussivos estão realizando oficinas em espaços privados e foram orientados a seguir as regras de distanciamento e cuidados sanitários", disse Olinda, em comunicado oficial.
Entre as tradicionais agremiações carnavalescas, está o Maracatu Nação Pernambuco, que atua há mais de 30 anos na festa de Momo. O grupo foi participante da primeira edição do Abril Pro Rock, em 1993, e ajudou a difundir o ritmo do maracatu entre os novos músicos pernambucanos.
Com dois tipos de trabalhos, um nos desfiles nas ruas, e outro, em apresentações musicais nos palcos, a solução que o Maracatu Nação Pernambuco resolveu adotar para preparar as apresentações do carnaval de 2022 foi dividir os integrantes em grupos. Em setembro, os primeiros que retornaram aos ensaios foram os dançarinos. Para este mês de outubro, está previsto o retorno dos cantores e percussionistas. Todos os ensaios acontecem em um casarão localizado na Praça do Carmo, em Olinda.
"Estou tentando imaginar que teremos uma vacinação decente até fevereiro de 2022. Assim, podemos fazer um Carnaval bom e alegre, um encontro bonito para compensar o que não tivemos em 2021", disse Amélia Veloso, diretora geral e coreógrafa do Maracatu Nação Pernambuco.
Com um desfile de 100 componentes e mais de 18 músicos, o tradicional Bloco das Flores comemorou o seu centenário no Carnaval de 2020. Para o ano de 2022, ainda não há a certeza para que aconteça o tradicional desfile. "O que predomina no nosso bloco são as senhoras maiores de 60 anos, mesmo com a vacinação, estamos evitando os encontros. A presidenta do bloco tem 80 anos, a família não quer que ela saia, estamos evitando os ensaios por precaução", disse Jaci Lins, vice-presidente do Bloco das Flores, com 101 de fundação.
O primeiro bloco lírico de Pernambuco desfila nas ruas do Recife desde a década de 20, em um cordão envolto de mulheres. "Os blocos líricos são uma bandeira do Carnaval do Recife, as pessoas dizem que um dos carros-chefe são blocos líricos", disse Jaci. Segundo a organizadora, o bloco tem permanece com a tradição de borrifar perfume e jogar bombons em seus desfiles, nas apresentações tradicionais são distribuídas rosas.