Após caminhada de 702 km, pais da menina Beatriz protestam em frente ao Palácio Campo das Princesas, no Recife
Com cartazes e gritos de justiça, o grupo concluiu a caminhada de 702 km da cidade do Sertão, até a capital Recife, para tentar reunião com o governador do Estado, Paulo Câmara
Nesta terça-feira (28) por volta das 13h, familiares e amigos da menina Beatriz Angélica Mota, morta com 42 facadas, em dezembro de 2015, chegaram ao Palácio do Campo das Princesas. Com cartazes e gritos de justiça, o grupo concluiu a caminhada de 23 dias e mais de 700 km, da cidade do Sertão até a capital Recife, para pedir ações sobre o caso da filha, que após seis anos continua sem resolução. Os pais da menina conseguiram entrar no edifício para se reunir com governador Paulo Câmara por volta das 15h53.
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Com mais perguntas que respostas, os pais da menina querem uma reunião com o governador para insistir que o caso seja federalizado ou que o Estado aceite a colaboração de uma equipe de peritos norte-americanos. Para a família, diante de denúncias de irregularidades nas investigações, o ideal é que a Polícia Federal assuma o caso.
A família esperava ser recebida de imediato, assim que chegasse ao Campo das Princesas, mas o grupo foi informado sobre restrições na quantidade de pessoas que podem entrar para a reunião, o que gerou impasse. Segundo o pai de Beatriz, inicialmente, a gestão estadual estaria permitindo a entrada de apenas três pessoas. No entanto, a família desejava que cerca de 11 pessoas, que fizeram parte da caminhada, participassem da reunião.
Maria Lúcia Mota, mãe de Beatriz, disse que não iria ao encontro do governador sem que a lista das 11 pessoas fosse aprovada. "Querem excluir o povo das reuniões, mas sem o povo eu não entro. Eles [comissão] têm que ouvir o que o governador vai responder, do contrário eu não vou. É essa a condição, pelo povo de Pernambuco”, enfatizou a mulher em um autofalante. Por fim, toda a comissão da família entrou para o momento com Paulo Câmara.
Lúcia também criticou as investigações acerca do homicídio de sua filha. "Já fiz inúmeras denúncias e eles [o governo] não fazem nada, não têm condições, estruturas e se acovardam. Eles poderiam aceitar nossa ajuda, mas não querem", disse.
Apoio
Durante parte do trajeto até o Recife, os pais de Beatriz, Sandro Romildo e Lucinha Mota, receberam o apoio e companhia de Mirtes Renata, mãe do menino Miguel, de 5 anos, que morreu ao cair do nono andar de um prédio de luxo na área central do Recife após ser deixado sozinho dentro de um elevador pela patroa da mãe. "Quando aconteceu o caso de Miguel, a Lucinha me deu muita força e apoio. Então, nada mais justo que eu estar dando força a ela. Vim em caminhada com ela e vou até o fim com ela por esse pedido de justiça. Eu sei a dor que ela sente e a luta que ela está passando”, afirmou Mirtes Renata durante o ato em frente ao Palácio.
Além de Mirtes, familiares do soldado Joanilson da Silva, da PM da Bahia, morto por engano em ação da Polícia Civil de Pernambuco, também estão ao lado de Sandro e Lucinha na caminhada.
O caso
No dia 10 de dezembro de 2015, em Petrolina, Beatriz Mota, de 7 anos, foi assassinada com 42 facadas em uma sala desativada do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde estudava, quando acontecia a formatura da irmã mais velha.
Beatriz havia se afastado para beber água e não voltou mais. O corpo dela foi encontrado 30 minutos após.
Atualmente, uma força-tarefa de delegados acompanha o caso. O inquérito, com 24 volumes, foi remetido ao Ministério Público no começo deste mês. Há, ao todo, 442 depoimentos, 900 horas de imagens e 15 mil chamadas telefônicas analisadas.
Em 2017, polícia divulgou a imagem de um suspeito que possivelmente entrou no colégio durante a festa. Uma câmera flagrou o rapaz do lado de fora, mas nenhuma imagem do lado de dentro teria registrado. Foi oferecida recompensa de R$ 10 mil, mas o criminoso não foi encontrado.
Testemunhas contaram à polícia, na época, que o suspeito teria sido visto tentando se aproximar de outras crianças antes de chegar até Beatriz. Mas ninguém desconfiou.