''Eu não matei ninguém, foi acidente'', diz réu por triplo homicídio na Tamarineira
Após quatro anos, João Victor Ribeiro, 29, foi interrogado no tribunal do júri popular, pediu perdão e admitiu estar errado
Após quase quatro anos e meio, João Victor Ribeiro de Oliveira Leal, 29, foi interrogado no tribunal do júri popular, nesta quinta-feira (17), no caso em que provocou a colisão matando três pessoas e deixando duas feridas no bairro da Tamarineira, Zona Norte do Recife, em novembro de 2017.
- Sobrevivente da colisão na Tamarineira cobra pena máxima e diz que acusado tem de pedir perdão a Deus
- Lições do julgamento da "Tragédia da Tamarineira", colisão provocada por um motorista bêbado que deixou três mortos no Recife
- Novas lições do julgamento da "Tragédia da Tamarineira": fingimos que educamos nossos jovens condutores
Diante do júri e da vítima Miguel Arruda da Motta Silveira Filho, o réu decidiu pedir perdão e admitiu estar errado. "Não tenho nem coragem de levantar a cabeça porque sei que estou errado. Errei, causei um dano enorme, inconsertável, e nada vai apagar isso. Sei que ninguém nunca ficará confortável com isso, mas eu não matei ninguém, foi acidente, admito ser o motorista, não tenho motivo nenhum para mentir, estou na cadeia há cinco anos e precisei treinar a mente para estar aqui e falar sem me emocionar. Estou sendo acusado até de ser mentiroso por chorar e pedir perdão à sociedade, às famílias, a Deus, aos jurados e à plateia. Não fiz com intenção de matar ninguém, se tivesse consciência, aquele carro teria ido parar num poste, numa árvore, em um caminhão, para bater ali e morrer para acabar com o sofrimento de uma vida trágica que eu vinha levando. Peço perdão, me perdoe, não sabia o que estava fazendo", disse João Victor.
Sobre o dia da colisão, João disse não lembrar do momento exato em que atingiu o carro da família de Miguel com o Ford Fusion de seu pai. Ele passou o dia bebendo com os amigos Artur Donato e Matheus Peixoto, em Olinda, e seguiu para um bar em Casa Forte. Por volta das 19h, ele diz que a única lembrança é de encher um copo com uísque e acordar algemado.
"Depois que comi uns pães de alho, acordei preso, na algema, em uma cadeira de rodas, entrando num hospital e, quando eu vi, olhei para a frente, um mundo de gente e meu pai me olhando."
Após o interrogatório de João, deverá começar, ainda nesta quinta-feira (17), o debate entre defesa e Ministério Público. Em seguida, o Conselho de Sentença deve se reunir e decidir se o réu é culpado.
ACUSAÇÃO
Responsável pela colisão, João Victor Ribeiro de Oliveira, 29, está preso desde 2017. O réu é acusado por triplo homicídio doloso duplamente qualificado e por dupla tentativa de homicídio. A perícia do Instituto de Criminalística revelou que João Victor trafegava a uma velocidade de 108 km/h. O máximo permitido na via, entretanto, era de 60 km/h. Ele ainda avançou o sinal vermelho. O teste de alcoolemia realizado no motorista registrou nível de 1,03 miligrama de álcool por litro de ar, três vezes superior ao limite permitido por lei.
A vítima, Miguel Arruda da Motta Silveira Filho, perdeu no acidente a esposa Maria Emília Guimarães da Mota Silveira e o filho Miguel Arruda da Mota Silveira Neto. Além disso, a filha, Marcela Arruda da Mota Silveira, ficou com sequelas devido ao trágico acidente no cruzamento da Rua Cônego Barata com a Estrada do Arraial, no bairro da Tamarineira. A babá das crianças que também estava no carro, Roseane Maria de Brito Souza, também morreu com a colisão.