Será realizada na próxima sexta-feira, 3 de março, uma audiência pública com o tema “Preparar o Recife para as chuvas” na Câmara Municipal. A discussão acontece a menos de um mês da quadra chuvosa na Região Metropolitana, que tem início em abril, segundo a Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac).
O requerimento que possibilitou a audiência foi proposto pela vereadora Liana Cirne (PT), que defende a participação de moradores de áreas de risco e da área técnica responsável pelo preparação da capital para as chuvas.
“A gente precisa mapear as pessoas que estão em área de risco, ouvindo a comunidade. O técnico tem um saber e a comunidade, que vive lá, tem outro. Um saber não exclui o outro. Pelo contrário, a gente soma os saberes para buscar soluções eficientes", disse Liana.
"Esse é o propósito da nossa audiência pública: juntar quem tem conhecimento teórico e técnico e quem vive o drama na realidade e colocar todo mundo para discutir para pautar ações de prevenção”, completou a vereadora.
A vereadora também solicitou à Prefeitura do Recife uma vistoria técnica urgente no bairro de Coqueiral para indicação de ações de prevenção de danos, a realização de vistoria técnica urgente na Comunidade Sapo Nu e na barreira localizada nas imediações da rua Químico Alfeu Rabelo, 7A bairro de Ibura de Baixo.
A audiência acontece na sede da Câmara, no plenarinho da Casa de José Mariano, na Rua Princesa Isabel, 410, na Boa Vista, Centro do Recife, entre as 14h e 17h, e é aberta ao público.
Ela tem como mote a emergência urbana vivida em Pernambuco em 2022, quando 134 pessoas morreram em decorrência das chuvas - a maioria soterradas por deslizamentos de barreira no Grande Recife. Só na capital pernambucana, foram 51 vítimas.
O problema, contudo, não é restrito apenas ao Recife. Na última semana, até o momento, há 54 mortos no litoral de São Paulo pelos fortes temporais. Em 6 fevereiro, o jovem Israel Campelo, de 19 anos, não resistiu a um deslizamento em Águas Compridas, em Olinda.
A primeira morte do ano em Pernambuco pela desordem nas cidades e falta de habitação segura fez mais um alerta ao poder público: é urgente a atuação de um comitê de crise que alerte, previna e suporte a população durante as chuvas enquanto uma grande reforma urbana não é feita.
Contudo, há pouco mais de uma semana, o JC mostrou que o Governo de Pernambuco e as prefeituras das cidades mais afetadas não colocaram em prática um plano efetivo para o inverno de 2023 - que, segundo a Apac, deve ser tão severo quanto o último.
Medidas emergenciais podem - e precisam - ser colocadas em prática até abril, para que novos “Israel” não apareçam nas manchetes dos jornais como vítima das chuvas - quando, na verdade, são vítimas do descaso.
Entre essas, estão a criação de uma rede de abrigos emergenciais para acolher desabrigados e desalojados; a implementação de sistema de sirenes que avisem, por sinais sonoros nas áreas de risco, que há possibilidade de fortes chuvas, como foi feito em Petrópolis, no Rio de Janeiro; de simulações de evacuação nas comunidades em perigo; e ações de conscientização com os moradores.
Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), esclareceu que a sua gestão está buscando colocar os projetos de melhorias em prática, mas que esse investimento é a longo prazo.
"Temos visto que a pauta de mudança climática, que antes era colocada lá atrás como algo do futuro, estamos vivendo no presente. Então, diante disso, estruturamos desde o ano passado um conjunto de investimento e preparação da infraestrutura da cidade para esses fenômenos atípicos como esses que vêm ocorrendo. E quando vamos estudar esse tipo de ocorrência, vemos que não é nada que você resolve de forma integral num curto prazo", contou o prefeito.
"Temos mais de 9 mil pontos de risco na cidade do Recife. Todos os pontos de risco 3 e 4 temos capacidade hoje de execução de projeto. Isso foi um conjunto de projetos que começamos a desenvolver com o governo do Estado, na época com Paulo Câmara. E o que conseguimos fazer, que será o maior passo estruturante da nossa cidade relativo a isso, foi a capacitação de uma operação de crédito de mais de R$ 1,6 bilhão do Banco Interamericano de Desenvolvimento", revelou João Campos.
De acordo com o prefeito do Recife, a operação de melhoria será dividida em três eixos. "O primeiro eixo será para a proteção das encostas, sendo investido algo próximo a R$ 600 milhões. O outro eixo é de urbanização integrada, que pega as áreas sujeitas a alagamento, áreas mais baixas na cidade e que você consegue fazer a urbanização."
"Desde a drenagem, o saneamento básico e melhorias habitacionais. E o terceiro eixo é um específico de drenagem da cidade, onde a bacia do Rio Tejipió vai ter disponibilidade de aporte próximo aos R$ 300 milhões para implementar uma solução mais robusta, pois é o principal desafio de drenagem da cidade está no entorno da bacia do Rio Tejipió", contou João Campos.