Três dias após o incêndio em abrigo no Recife, na madrugada da sexta (14), que deixou quatro mortos (uma cuidadora e três crianças) e 13 feridos, a Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco (SDS-PE) fará uma perícia complementar para esta segunda-feira (17).
A nova vistoria no Lar Paulo de Tarso, no Ipsep, Zona Sul do Recife, tem como objetivo esclarecer a causa da tragédia. Entre as crianças feridas, seis permanecem estão internadas no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central da cidade, e continuam na unidade de terapia intensiva (UTI), com quadro de saúde grave.
A SDS-PE ressalta que o local do incêndio já foi periciado por uma equipe do Instituto de Criminalística (IC) na última sexta-feira (14).
"Desde então, (o Lar Paulo de Tarso) está devidamente isolado, aguardando uma perícia complementar, com foco nas imagens das câmeras de segurança do local, a ser realizada na manhã da segunda-feira (17)", informa, em nota, a SDS-PE.
As crianças feridas durante o incêndio apresentarem lesões graves nos pulmões, decorrentes de queimadura inalatória. Passaram muito tempo expostos à fumaça do incêndio, o que causa complicações severas.
O comprometimento, decorrente da inalação da fumaça, vai desde queimaduras nas vias aéreas ao desenvolvimento de doenças como pneumonia.
A queimadura inalatória ocorre pela presença de gases, como monóxido de carbono, e outras pequenas partículas que são arrastadas pela fumaça até aos pulmões. Dessa forma, desenvolvem-se irritação dos tecidos e inflamação.
"Esse tipo de queimadura por inalação evolui com diminuição da oxigenação. Se não houver um suporte de oxigenação adequado, os pacientes evoluem com hipoxia e posteriormente aparecem todas as complicações que podem advir dessa falta de oxigênio", explica a médica pediatra Alexsandra Costa, do HR.
Uma condição preocupa a pediatra. "A queimadura inalatória é extremamente grave, pois desnuda todo o epitélio respiratório, diminui a oxigenação para o cérebro e demais órgãos nobres do corpo. Dessa maneira, o estado de saúde pode se tornar ainda mais crítico porque esse quadro favorece complicações por infecção respiratória bacteriana."
Pelos pulmões altamente comprometidos por causa da queimadura inalatória, as crianças correm risco de morrer, de acordo com Alexsandra.
"As que estão intubadas têm risco maior, embora estejam adequadamente conduzidas (assistidas pelas equipes de saúde). As demais precisam ser vigiadas de perto; uma vigilância perene porque, diante de qualquer sinal de alarme, de que estejam evoluindo de forma mais grave, devem ser tomados cuidados imediatos mais complexos."
Em nota neste domingo (16), a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) informou o quadro de saúde atualizado das vítimas do incêndio no Lar Paulo de Tarso.
Veja abaixo:
Hospital da Restauração
As seis crianças que ficaram internadas no hospital continuam na unidade de terapia intensiva (UTI), com quadro de saúde grave e estáveis.
Hospital e Maternidade Brites de Albuquerque
As duas crianças seguem em UTI; estão clínica e hemodinamicamente estáveis.
A paciente adulta evolui bem, porém permanece sob observação clínica.
Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip)
As duas crianças apresentaram boa evolução do quadro clínico e seguem sob cuidados da equipe médica.
Hospital Maria Lucinda
Na unidade, estão internadas duas crianças que seguem evoluindo bem.