Em colaboração com Dyandhra Monteiro, da TV Jornal
O artista plástico Leopoldo Nóbrega revelou sua criação mais esperada do ano: o Galo da Madrugada, símbolo do Carnaval do Recife. A alegoria "Galo Gigante da Paz", como é chamada a de 2024, foi apresentada para a imprensa na manhã desta quarta-feira (31) no galpão de confecção do Galo, localizado no Arruda, Zona Norte da cidade - onde ele, aos poucos, ganha vida.
Predominantemente branca, a majestade terá também cinco tonsrepresentando cada continente: amarelo (Ásia), preto (África), vermelho, (América), azul (Europa) e verde (Oceania).O destaque fica para a crista do Galo que, pela primeira vez, será um black power grisalho, homenageando os idosos.
As mil penas do rabo do Galo trarão a palavra “Paz” escrita em 16 idiomas distintos. Dessas, 250 penas estão sendo confeccionadas em oficinas realizadas em parceria com a Associação Nacional de Idosos (ANATI) para pessoas de 60 anos ou mais. Nelas, serão ministradas técnicas de pintura para escrita de palavras de gentileza no manto sagrado.
Os pés dele ganharão grafites em torno da temática de paz e combate a todos os tipos de preconceito e violência de gênero, além de racismo e QR Code para que os foliões possam acessar as plataformas municipais onde podem realizar denúncias. No Chão, também como no ano precedente, mensagens alusivas à temática de paz e harmonia em um Carnaval que também é palco de reflexão e democracia.
O corpo encantado do galo, por sua vez, ganha uma espécie de body branco em uma releitura de renascença cenográfica realizada manualmente pelo Ateliê Arte Plenna e inspirada na produção de Pesqueira. Para a obra, as rendas estão sendo confeccionadas em eletrodutos (conduítes) e cujas amarrações serão realizadas com material de garrafas PET.
Os desenhos foram criados pelo próprio Leopoldo, que decidiu aplicar, na altura do coração do Gigante, uma réplica de sombrinha de frevo. As asas do galináceo mais amado da folia trarão ‘tatuagens’ do símbolo pela paz, em voga desde a década de 70, mesma década de fundação do Galo da Madrugada.
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Galo da Madrugada de 2024 evoca a paz para o Carnaval do Recife. Veja imagem
Sobre os ‘ombros’, a indumentária irá reverenciar os povos indígenas e seus raros mantos tupinambás, vestimentas feitas em Arte Plumária, cujo exemplar mais famoso foi subtraído e levado para a Dinamarca desde o século XVII e será devolvido ao Brasil em 2024. Serão empregadas 1000 ‘penas’ feitas das lonas plásticas de 1,10 m X 40 cm na técnica Arte Plumária Upcycle. As peças podem trazer suas cores originais ou ainda ganhar intervenções de grafitagem e apliques de tintas.
Nas pernas, a artesania das ‘varandas’, apliques feitos em tecido com técnica de macramê, será realizada pelas artesãs da Cooperativa Coopertextil, de Caraibeiras, terra dos Pankararus. O bico do galo, por sua vez, ganha um tom que evoca as formações étnicas dos mamelucos, além de trazer uma maquiagem com a paleta que permeia a obra.
A obra começará a ser montada na Ponte Duarte Coelho no próximo sábado (3). Ele só estará imponente na ponte, contudo, na na quarta-feira (7), às 20h, onde esperará pelo desfile do maior bloco de rua do mundo, que acontece no Sábado de Zé Pereira (10). De lá, só sai na Quarta-Feira de Cinzas, anunciando o fim da festa.
"É muito importante a gente fazer com que o Carnaval traga essa potência de reverberação. O Galo da Madrugada como obra de arte poder projetar de forma gigante todos esses valores, sentidos e conceitos", disse Leopoldo.
SUSTENTABILIDADE
Pesando oito toneladas e com 28 metros de altura, a escultura ratifica seu compromisso com a preservação do meio ambiente e a inovação de procedimentos artísticos para a promoção da sustentabilidade, por meio da adoção do upcycling.
Este ano, mais de 90% do material que vestirá a estrutura é fruto de descarte de materiais e reaproveitamento de resíduos tecnológicos, como dois mil metros de lonas de materiais publicitários, além de 10 mil CDs e DVDs, frutos de doação. Os interessados em contribuir para a obra monumental podem fazer doações de CDs e DVDs em horário comercial nos dias úteis na Unidade de Tecnologia na Educação para a Cidadania (UTEC) do Largo Dom Luiz ou nas dependências da Escola de Samba Galeria do Ritmo, no Morro da Conceição.
"Virar a chave na ótica da reutilização é uma mensagem muito importante, porque faz com que a gente reduza o impacto na natureza e com que as pessoas possam perceber a importância desse beneficiamento criativo e dessas mãos habilidosas do artesanato envolvidas nessa obra gigante", afirmou Nóbrega.