O projeto Cirandar, um laboratório de educação e design circular em Olinda que transforma resíduos em móveis, ganhou o desafio nacional “Saneamento do Futuro: Rio Sem Plásticos”, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
A iniciativa é realizada pela Casa Criatura, que tem sede em Olinda, em co-criação com a Ao Vento, e visa a diminuição da quantidade de plástico nos corpos hídricos de Olinda e do Recife, que possuem vasta hidrografia com mais de 100 riachos urbanos e três bacias hidrográficas.
“No âmbito local, percebemos que estamos diante de desafios críticos no saneamento básico e na gestão dessas sobras. Em Pernambuco, apenas 30,8% da população tem acesso ao esgoto e 81,7% à água tratada. O descarte inadequado de resíduos na Região Metropolitana do Recife compromete a saúde, desencadeando doenças como a dengue. Isso também contribui para inundações e poluição de recursos hídricos, agravando o impacto ambiental”, explicou o idealizador da Casa Criatura, Isac Filho.
O Cirandar atua de forma colaborativa com catadores, instituições e comunidades escolares para transformar o material em objetos utilitários e pontos de coleta. A ação está centrada na participação ativa da comunidade na prototipação dos artefatos, com o envolvimento de catadores, instituições e da rede educacional para a conscientizar sobre a preservação do meio ambiente.
“É de grande importância reforçar que esse projeto também tem impacto cultural, ao incentivar novos hábitos e potencial de replicação, e impacto econômico relevante como oportunidade de mercado e modelo para indústrias locais ao aproveitar matéria-prima plástica abundante”, completou, Juliana Rabello, também idealizadora da Casa Criatura.
O foco do laboratório, que terá turmas abertas a partir de meados de fevereiro, reside na criação de artefatos reciclados de código aberto (open source), cuja variedade inclui a criação de mesas, cadeiras e lixeiras, entre outros utilitários.
“Esses itens buscam incentivar o senso de pertencimento e uma abordagem mais responsável ao meio ambiente, com a participação ativa da comunidade escolar e população local na construção do material que será utilizado por elas”, pontua Jessica Lobo, da iniciativa co-criadora Ao Vento, responsável pela captação de recursos, sistematização e documentação das atividades que serão executadas.
A iniciativa também é apoiada pela Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis (Cooncecipe), em Olinda, e a Global Innovation Gathering (GIG), uma parceira internacional que reúne makerspaces, centros de inovação, hackerspaces e centros comunitários para a transformação positiva dos lugares por meio de iniciativas tecnológicas e de código aberto.
A solução proposta pelo Cirandar está alinhada com as políticas públicas que incentivam a reciclagem e a reutilização de resíduos sólidos no Brasil, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e o Fundo de Apoio para Ações Voltadas à Reciclagem (Favorecicle).
PROBLEMA NACIONAL
De acordo com dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o Brasil é o quarto maior produtor de plástico do mundo. Cada brasileiro produz cerca de 1kg de lixo plástico por semana. Das 11,3 milhões de toneladas de lixo plástico produzidas, somente 145 mil toneladas são recicladas, ou seja, 1,3% do lixo plástico gerado no Brasil é reciclado.
Não o bastante, 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartadas de forma irregular. E mais: 7,7 milhões de toneladas ficam em aterros sanitários. Um volume em torno de 1 milhão de toneladas não é recolhida no País.