URBANISMO

Superintendente do Iphan contraria análise técnica e aprova restaurante zeppelin no Marco Zero do Recife

Projeto havia sido rejeitado com unanimidade pelos técnicos do órgão, que alegam que o empreendimento trará descaracterização ao patrimônio histórico

Cadastrado por

Katarina Moraes

Publicado em 04/03/2024 às 10:45 | Atualizado em 04/03/2024 às 16:09
Restaurante ficará sobre a cobertura do prédio do centro da imagem, no Marco Zero do Recife - Portal da Copa/ME/Divulgação

O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Pernambuco, Jacques Ribemboim, aprovou a construção de um restaurante zeppelin na cobertura de prédios tombados no Bairro do Recife. O projeto havia sido rejeitado com unanimidade pelos técnicos do órgão, que alegam que o empreendimento trará descaracterização ao patrimônio histórico.

No parecer, Ribemboim justificou a decisão pelo caráter econômico do projeto. "Deste modo, trata-se de um investimento privado de interesse público, reforçando a vocação do bairro do Recife como um importante cluster turístico e cultural, com geração de renda e emprego", escreveu. 

"As instalações previstas no projeto do REC Cultural de loja, café/lanchonete e o restaurante no formato de Zeppelin configuram a intenção do particular em obter suporte, ainda que parcial, aos encargos financeiros do investimento e às despesas operacionais e de manutenção", continuou.

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Agora, o Iphan tem um período de 60 meses para revisar o projeto e eventualmente revalidar a autorização dada.

ESPECIALISTAS CONTRARIAM DECISÃO

A coordenadora do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) em Pernambuco, a arquiteta e urbanista Natália Vieira, refutou a tese do superintendente, apontando que novos empreendimentos no bairro são bem vindos, mas que precisam respeitar o patrimônio, como outros já implantados. "Insulto à inteligência da população pernambucana", disparou.

"Toda a argumentação realizada é no sentido de viabilizar a dinamização econômica do bairro e permitir o investimento da iniciativa privada. Nada disso está sendo questionado pelos especialistas e técnicos. O que está sendo questionado são as características do projeto. Outros projetos do bairro citados no parecer, como o Paço do Frevo e a Caixa Econômica Cultural, partem da valorização da edificação de valor patrimonial, o que não é o caso desse projeto", apontou.

Também se posicionaram contra o projeto as mais altas entidades de arquitetura e patrimônio do Estado,  como o Conselho de Arquitetos e Urbanistas em Pernambuco (CAU-PE), o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Conselho Estadual de Preservação e Patrimônio Cultural (CEPPC-PE) e o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-PE).

PROJETO NEGADO COM UNANIMIDADE

O empreendimento pretende conectar a cobertura dos prédios de nº 23 da Av. Rio Branco, no Marco Zero, ao de trás, o de n° 58 da Av. Marquês de Olinda, por meio de uma estrutura que remonta à viagem do dirigível à capital pernambucana em 1930.

Além do restaurante, estão previstos espaços para a exibição pública de quadros e esculturas de renomados artistas pernambucanos, sendo prevista a instalação de uma "lojinha do museu" a fim de buscar a autossustentabilidade do projeto, bem como auditório, biblioteca, laboratório e sala de aula. A restauração dos imóveis também está prevista.

Iphan argumentou que construção descaracterizaria imóvel - REPRODUÇÃO

Contudo, por estar inscrito em uma área tombada nacionalmente pela sua importância histórica e cultural, precisava passar pela aprovação do Iphan. Tal processo teve início ainda em setembro de 2023, mas teve a primeira negativa pelo Iphan ainda em outubro do último ano, quando técnicos apontaram duas vezes que a construção contrariava as leis de tombamento e desconfiguraria a paisagem do principal cartão postal da cidade.

Em janeiro, a Secretaria de Política Urbana e Licenciamento do Recife (Sepul), apresentou um ofício sendo favorável ao projeto, que é particular, desde que atendesse algumas orientações, como ser construído de forma "temporária". Então, a ideia foi novamente protocolada junto a esse ofício; mas o corpo técnico do Iphan, de forma unânime, foi mais uma vez contra.

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