Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se reuniram na tarde deste domingo (19) em frente à sede do Comando Militar do Nordeste, às margens da BR 232, Km 12, bairro do Curado, Zona Oeste do Recife. Os manifestantes pediam a reabertura do comércio, intervenção militar, fechamento do Congresso, do STF (Supremo Tribunal Federal) e a decretação do Ato Institucional n.º 5 (AI-5). Organizado pelas redes sociais, por paginas pró-governo federal, o ato contou com a adesão de centenas de pessoas.
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Realizada em uma data simbólica, já que neste domingo também é comemorado o dia do Exército, a reunião de pessoas fere o decreto estadual assinado pelo governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), que proíbe aglomerações durante este período de quarentena. No decreto estadual, assinado no último dia 23 de março, ficaram proibidas reuniões com mais de 10 pessoas. Na época o governador justificou que "a melhor estratégia no combate à disseminação do vírus, neste momento, é o isolamento social".
De cima de um carro de som, foi reproduzida uma mensagem enviada pela deputada federal, eleita pelo estado de São Paulo, Carla Zambelli (PSL). No áudio, a parlamentar parabeniza as pessoas que estiveram presentes no ato e alega que "ele (Bolsonaro) cansou de ser chantageado, nós (bolsonaristas) cansamos de tentar fazer a coisa certa e sermos barrados por pessoas que não querem deixar o poder e que não querem deixar o presidente governar", afirmou Zambelli. "Governadores de todo o Brasil se juntaram contra o presidente", argumentou a deputada que continuou a fala dizendo que se o PL 149 for sancionado, o dinheiro vai para a corrupção, e não, para o combate à covid-19.
O Jornal do Commercio entrou em contato com alguns dos responsáveis pelas páginas que divulgaram o ato na capital pernambucana mas nenhum deles quis se pronunciar. Todos alegaram "questão de segurança", já que quando foi convocada uma carreata nos dias 29 e 30 de março eles tiveram que se apresentar à Polícia Civil para prestar esclarecimentos.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a aglomeração de manifestantes teve inicio às 11h e foi finalizada no final da tarde. A Polícia Militar (PM-PE) também esteve no local, mas não divulgou o número de pessoas que participaram do ato.
Bolsonaro participou de um dos atos realizados pelo Brasil. O presidente discursou para uma multidão em Brasília, na tarde deste domingo. O chefe do Executivo falou para centenas de pessoas que se concentravam em frente ao Quartel General do Exército, no Plano Piloto da Capital Federal, e também estavam pedindo intervenção militar e o fechamento do Congresso Nacional.
"Temos um novo Brasil pela frente. Patriotas têm que acreditar e fazer sua parte para colocar o Brasil no destaque que ele merece. E acabar com essa patifaria. É o povo no poder. Para garantir a nossa democracia e aquilo que há de mais sagrado em nós, que é a nossa liberdade. Esses políticos têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro", afirmou o presidente.
Governadores do Nordeste se pronunciaram contra as convocações do presidente e pediram união para combater o novo coronavírus. Paulo Câmara (PSB) escreveu em sua conta no Twitter esta grave crise ameaça a vida da população. "Precisamos da união de propósitos e de instituições fortes. Falsos conflitos e manifestações inconsequentes são uma lamentável agressão ao país. Vamos vencer na Democracia, com diálogo, responsabilidade e respeito, não com bravatas", disse o governador de Pernambuco.
Já o chefe do Executivo maranhense, Flávio Dino (PCdoB), lembrou que desde a redemocratização, as Forças Armadas tem mantido o respeito à Constituição. Dino disse não acreditar que essa postura irá mudar "por conta das inconsequências e delírios de Bolsonaro, um ex-tenente de mau comportamento".
Camilo Santana (PT), governador do Ceará, classificou os atos como "inaceitáveis e repugnantes". Assim como Flávio Dino, o líder cearense disse que não se curvará a esse tipo de ameaça à democracia.
O ministro Gilmar Mendes, do STF, defendeu que a crise do coronavírus só vai ser superada com responsabilidade política, união de todos e solidariedade. Para o membro da Corte Suprema do Brasil, "invocar o AI-5 e a volta da Ditadura é rasgar o compromisso com a Constituição e com a ordem democrática", finalizou.