Após menos de um mês como ministro da Saúde, Nelson Teich pediu a exoneração do cargo nesta sexta-feira (15). O pedido de exoneração pode ter sido motivado pela pressão vinda, do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), para indicar o uso da cloroquina em pacientes com covid-19, além das divergências sobre medidas de isolamento social.
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Teich foi chamado para uma reunião no Palácio do Planalto nesta manhã. Ele esteve com Bolsonaro e depois voltou para o prédio do Ministério da Saúde. A demissão foi anunciada logo depois pela assessoria do Ministério da Saúde.
"O ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu exoneração nesta manhã. Uma coletiva de imprensa será marcada nesta tarde", dizia a nota à imprensa.
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Logo após o anúncio, tanto Teich quanto Mandetta, outro ex-ministro da Saúde, estavam nos assuntos mais comentados no Twitter. A notícia pegou de surpresa muitos políticos do cenário nacional e regional. Veja a opinião de alguns parlamentares e autoridades sobre a demissão de Teich:
O ex-ministro de Saúde, antecessor de Nelson, Luiz Henrique Mandetta, não citou o nome do ministro, mas pediu orações e forças ao SUS (Sistema Único de Saúde) e à ciência.
O ex-candidato à presidência da República Ciro Gomes (PDT) chamou de "irresponsabilidade assassina" a gestão do governo Bolsonaro diante da crise do coronavírus.
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), Felipe Santa Cruz afirmou que, com anúncio de demissão, Bolsonaro está "semeando a morte e o descrédito".
Através de nota, o senador Jarbas Vasconcelos (MDB) endureceu o tom contra o presidente e disse que ele "precisa de juízo" e exigiu respeito do chefe do Executivo nacional. "O presidente precisa de juízo. O país tá sem rumo e sem comando. Pela segunda vez um ministro da Saúde sai porque decidiu respeitar a ciência e as diretrizes da Organização Mundial da Saúde. Estamos vivendo um gravíssimo problema e o Presidente transforma todos os assuntos em rinha política. Basta! Tenha respeito e pare de desdenhar do povo hoje entregue a própria sorte. Deixe as pessoas sérias trabalharem pelo país", disparou o parlamentar.
Em entrevista à Globonews, o senador Humberto Costa (PT) - que foi ministro da Saúde no governo Lula (PT) - afirmou que Bolsonaro tem a intenção de impor sua visão sobre a ciência e "são poucas as pessoas qualificadas que vão aceitar se submeter a isso". "Pelo que o presidente da República quer, ele não quer um ministro da Saúde, ele quer ser o ministro da Saúde, quer impor a sua visão sobre ciência, sobre política de saúde e eu acho que são poucas as pessoas qualificadas que vão aceitar se submeter a isso. Eu acho que esse e um grave problema. Se entrasse alguém que tivesse autonomia para trabalhar, para tocar as medidas corretas nesse enfrentamento, eu acho que teria jeito. Mas como está, eu creio que nós estamos sem política para enfrentar a pandemia, sem Ministério da Saúde e, acima de tudo, sem presidente da República", disse.
Tadeu Alencar, deputado do PSB-PE, afirmou que quem deveria sair do governo é o próprio Bolsonaro, não os ministros. "A saída do ministro Teich demonstra que ninguém com o mínimo de senso médico e humanitário aceita receber ordens de um presidente irresponsável que está fomentando a pandemia e o caos. Quem tem que sair, está claro, é Bolsonaro. O prazo de validade dele venceu, de vez", declarou.
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) afirmou que, diante das demissões, o presidente Jair Bolsonaro "segue apostando no caos e jogando com a vida dos brasileiros".
O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede Sustentabilidade), destacou o perigo de um país sem o ministro da Saúde enquanto aumenta o número de mortes causadas pelo coronavírus.
O deputado federal pernambucano João Campos (PSB) afirmou que a saída de Teich se deu por conta dos desentendimentos com o presidente.
Para a deputada federal Marília Arraes (PT), as demissões dos dois últimos ministros da Saúde se deram devido à "irresponsabilidade" do presidente.
O presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e Prefeito de Campinas-SP, Jonas Donizette, afirmou que o enfrentamento da pandemia estava exigindo esforços além do combate ao vírus.
O deputado federal por Pernambuco Augusto Coutinho (Solidariedade) alegou que demissão do ministro expõe "situação triste e vexatória" para o país.
Danilo Cabral, deputado pernambucano do PSB, defendeu no Twitter que a crise do país seja corrigida com o impeachment do presidente. "Saída do Ministro Nelson Teich aprofunda a crise política, econômica e, sobretudo, da saúde. Brasil segue completamente desgovernado, Bolsonaro. Só tem um remédio para barrar sua insanidade: #ImpeachmentdoBolsonaroURGENTE".
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), lamentou a saída do ministro Nelson Teich do cargo e disse que o "barco está à deriva", em alusão ao país.
Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) usou sua conta no Twitter para criticar Bolsonaro, antigo aliado, pela demissão de Teich.
Waldez Góes, governador do Amapá, lamentou a saída de Teich do Ministério da Saúde e afirmou que, cada vez mais, "recai sobre governadores e prefeitos a responsabilidade de tomar medidas para achatar a curva da covid-19".
O deputado federal Felipe Carreras (PSB) questionou em seu Twitter: "Será que os dois ministros (Mandetta e Teich) estavam errados e só Bolsonaro certo?".