Líder do PSB na Câmara dos Deputados, o deputado federal Alessandro Molon (RJ), anunciou neste domingo (17), que irá iniciar a coleta de assinaturas para criação da “CPI do Queiroz”, que conta com apoio da bancada de Oposição. A iniciativa ocorre após as denúncias feitas à Folha de São Paulo pelo suplente do senador Flávio Bolsonaro, o empresário Paulo Marinho (PSDB), sobre o vazamento vindo da Polícia Federal (PF) a respeito das investigações contra Fabrício Queiroz - então assessor do senador - na Operação Furna da Onça.
"As denúncias feitas por Paulo Marinho são gravíssimas. Mostram que membros da Polícia Federal contribuíram para obstruir a Justiça, de forma a influenciar o resultado das eleições de 2018, beneficiando Bolsonaro. Não por acaso o Presidente da República insiste tanto em escolher o chefe da Polícia Federal diretamente: quer continuar garantindo a impunidade para sua família e para si mesmo. Tudo isso precisa ser investigado para que Bolsonaro responda por seus crimes”, declarou Molon.
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Para ser criada, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) precisa coletar 170 assinaturas - desse total, o colegiado poderá contar com 130 parlamentares que aglutinam o bloco de oposição formado pelo PT, PSB, PDT, Rede e PSOL. A busca neste momento é para obter o apoio de, no mínimo, mais 40 deputados. Na visão do deputado federal Danilo Cabral (PSB-PE), mesmo com o funcionamento da Câmara Federal através de sessões remotas, não haverá dificuldade em discutir a questão. “O Congresso não pode deixar de abrir investigação. Os fatos não envolvem só a gestão administrativa de Bolsonaro, mas pode ferir, caso os fatos venham a ser comprovados, a própria legitimidade do processo eleitoral”, declara Cabral.
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O PSB é um dos autores do pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro - outros partidos como Rede, PDT e o PSL também protocolaram o mesmo pedido - , e a denúncia feita pelo suplente do senador Flávio Bolsonaro seria mais um agravante para que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acate os pedidos na Casa.
“Esse é um quebra-cabeça que vai se montado aos poucos e mostra de forma objetiva as razões que fazem com que o presidente venha querendo de forma direta se apropriar da superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. E as denúncias são formuladas por pessoas que estavam dentro do núcleo de governo e de campanha”, ressalta Danilo Cabral, relembrando que o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, foi quem acusou o presidente da República de tentar intervir politicamente na PF, levando, assim, à sua saída do ministério.
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Para o deputado federal Paulo Pimenta (PT), as acusações do empresário e pré-candidato a prefeito pelo Rio de Janeiro, Paulo Marinho, levam a crer que o informante da PF seria o delegado Alexandre Ramagem - indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. “A operação Furna da Onça é uma continuação da operação Cadeia Velha. A operação Cadeia Velha foi coordenada pelo delegado da PF, Alexandre Ramagem Rodrigues. Ramagem se torna segurança da família de Jair Bolsonaro na campanha, Chefe da Abin e depois indicado delegado-geral da PF”, dispara o parlamentar em seu perfil no Twitter.
O senador pernambucano Humberto Costa (PT) também corrobora as suspeitas de que teria sido Alexandre Ramagem quem antecipou informações sobre as investigações contra Queiroz. “Segundo Paulo Marinho, Flávio foi informado da operação da Polícia Federal que investigava o esquema de “rachadinha” com Queiroz”, explica Costa.
De acordo com a nota divulgada pela assessoria de imprensa do senador Flávio Bolsonaro, neste domingo, às denúncias feitas por Paulo Marinho possuem caráter político eleitoral. Presidente do PSDB no Rio de Janeiro, o suplente do senador almeja lançar sua candidatura a prefeito da capital carioca.
“O desespero de Paulo Marinho causa um pouco de pena. Preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão. Trocou a família Bolsonaro por Dória e Witzel, parece ter sido tomado pela ambição”, inicia o documento. “É fácil de entender esse tipo de ataque ao lembrar que ele, Paulo Marinho, tem interesse em me prejudicar, já que seria meu substituto no Senado. Ele sabe que jamais teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão”, dispara Flávio, questionando o fato das acusações serem feitas “às vésperas das eleições municipais” e não “à época em que ele diz terem acontecido os fatos, dois anos atrás?”
Após vencer a eleição para o Senado pelo PSL do Rio de Janeiro, Flavio Bolsonaro teria sido aconselhado pelo delegado-informante a demitir Fabrício Queiroz e a filha dele, que trabalhava no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, em Brasília. O presidente estava concorrendo ao segundo turno das eleições, também pelo PSL. O partido, cujo presidente nacional é o deputado federal Luciano Bivar, foi procurado pela reportagem para comentar o fato, mas até o momento não obtivemos resposta.
Atualmente, o senador Flávio Bolsonaro e o seu irmão, o vereador Carlos Bolsonaro, estão filiados ao Republicanos. Mas, de acordo com o presidente estadual da legenda em Pernambuco, o deputado Silvio Costa Filho, a migração foi feita por causa do processo eleitoral, que não viabilizou a tempo das eleições a criação do partido Aliança pelo Brasil. “Eles ingressaram no partido por conta do processo eleitoral, mas eles são do partido Aliança pelo Brasil. Eles não são do Republicanos”, declarou.
Sobre as novas denúncias contra o senador Flávio Bolsonaro, o deputado as considera graves e diz que, naturalmente, precisam ser investigadas mediante a apresentação de provas. “Acho importante que tudo que foi apontado seja esclarecido pelo senador e pelo próprio suplente. Sou contra qualquer tipo de interferência na Polícia Federal, considerando importante a autonomia das instituições, o respeito a elas é fundamental para o País”, afirmou Silvio Costa Filho.