Com o anúncio da pré-candidatura do deputado federal Túlio Gadêlha (PDT) à Prefeitura do Recife, nesta quarta-feira (29), o cenário de dissolução da Frente Popular pode acabar trazendo dificuldades aos planos do PSB em dar continuidade à gestão, através do projeto político encabeçado pelo deputado federal João Campos. Essa seria a primeira vez que a frente de esquerda com PDT, PT e PSB sairia dividida no primeiro turno, abrindo possibilidade de um segundo turno sem o socialista.
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No entanto, o desafio dos postulantes será sobre a condução do discurso de mudança estando no mesmo espectro político. Tanto Marília quanto Túlio são críticos à gestão do prefeito Geraldo Julio, mas seus partidos integram a administração desde o primeiro mandato do socialista. “Isso é uma questão delicada com a qual os partidos têm que lidar em processos eleitorais: justificar para o eleitor os rompimentos e as formações de alianças. Acho que será uma saia justa em alguns debates mais qualificados, além de que as redes sociais permitem o resgate de imagens antigas, mostrando momentos que contradizem os discursos”, avalia a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa.
Até a realização das convenções partidárias, que ocorreria de 20 de julho a 5 de agosto, mas com o adiamento das eleições para novembro serão realizadas no período de 31 de agosto a 16 de setembro, muitas peças no tabuleiro eleitoral serão alteradas. De acordo com o cientista político Ernani Carvalho, é preciso que estas candidaturas sejam concretizadas. “ O jogo político tem se movimento com efervescência elevada, mas ainda nos bastidores. Essa será uma eleição completamente atípica, onde vamos ter pouco ou quase nenhuma propaganda eleitoral corpo a corpo”, declara Carvalho.
Enquanto o bloco de oposição ainda não define se sairá com uma chapa unificada ou com múltiplas candidaturas, não só o nome de Marília, mas do próprio Túlio Gadêlha, encontram resistências dentro do partido.
O presidente estadual do PT, deputado estadual Doriel Barros, afirma que desde o início tem se manifestado a favor da Frente Popular com objetivo de manter a esquerda unida para estas eleições, já visando o pleito de 2022."A divisão da esquerda em Recife, garante a direita no segundo turno. E a direita, inclusive, tem manifestado o desejo por estas candidaturas porque divide os votos do mesmo campo”, comentou.
Para Marília Arraes, que conta com o apoio do diretório nacional, o Recife precisa de candidaturas que enriqueçam o debate sobre o futuro, portanto, nenhuma voz pode ser “sufocada”. “Qualquer candidatura que venha enriquecer isto, apresentando propostas que possam de fato entender e resolver os problemas da cidade, é bem vinda. Diferentemente de outros, acredito que quanto mais candidaturas houver, mais rico será o debate e mais dimensão teremos sobre o que queremos para o Recife”, declarou a parlamentar, ressaltando que a candidatura de Túlio Gadelha é muito oportuna.
No PDT, o presidente estadual do partido, o deputado federal Wolney Queiroz, reconheceu ser legítimo a colocação de Gadêlha na disputa majoritária, mas que a decisão “não consta que tenha partido de uma deliberação do diretório, isso é algo que vamos precisar aprofundar”. Houve queixa formal de alguns membros do partido sobre a decisão da candidatura própria. O vice-presidente municipal Fabio Fiorenzano e a pré-candidatura a vereadora, Isabella de Roldão, foram um destes nomes que receberam com surpresa o anuncio feito por Túlio.
Ex-secretária de Habitação da Prefeitura do Recife, Isabella ressaltou estar surpresa com a candidatura de Túlio e lembrou que, em março, o deputado federal pediu que o partido entregasse os cargos que tinha na Prefeitura do Recife. "Ele deu um prazo e eu me prendi naquilo. Inclusive, por esse prazo não ter sido atendido, eu entendi que essa questão estava resolvida”.
Ao deixar a pasta para poder disputar as eleições, afirmou ter passado "14 meses frente a uma Secretaria importante e quatro anos na Câmara dos Vereadores" e não ter participado de construções de projeto político para a cidade. "Vários fatores que me deixam impactada com essa situação. Uma candidatura majoritária passa por uma construção de um programa de governo para uma cidade. Ele é debatido e construído dentro do partido e desconheço que tenha havido algum processo de construção nesse sentido”.
No entanto, Túlio Gadêlha descartou a possibilidade de tirar seu nome no páreo,afirmando que tem o aval do presidenciável Ciro Gomes. “A gente dialoga com outros partidos para tentar ampliar essa aliança, mas como eu havia dito, nós temos aqui dentro do PDT hoje uma equipe quase completa para a composição do secretariado, temos vários nomes aqui que poderíamos escolher para compor uma chapa caso não avancemos nessa construção de um leque de alianças e que por isso nós apresentaremos de uma forma de outra uma candidatura nesse primeiro turno”, declarou.
Lembrete
O vice-líder do governo na Casa de José Mariano, Rinaldo Júnior (PSB), afirmou enxergar a candidatura majoritária do PDT com bons olhos e fez observações com relação aos cargos do PDT na gestão Geraldo Julio. "É uma candidatura no campo democrático da esquerda. Agora, o PDT tem uma aliança com o PSB. Inclusive, ocupa espaços e obrigatoriamente tem que desembarcar do governo", declara.
"Antes de tudo, ele tem que se resolver internamente com o partido. Mas tem todo o direito de disputar uma eleição e nós do campo da esquerda, progressista e democrático, não podemos permitir que uma candidatura de direita se instaure na cidade. Temos um inimigo em comum, que é a extrema direita que está sendo instaurada aos poucos no Recife".
O deputado federal João Campos e o presidente estadual do partido, Sileno Guedes foram procurados pela reportagem, mas não responderam as solicitações.
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