Nesta segunda-feira (16), um dia depois da realização das eleições municipais, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) insinuou, sem indícios ou provas, que o sistema de apurações realizado no Brasil deixa dúvidas sobre o resultado. Ontem, após o atraso na divulgação dos dados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aliados do presidente também sugeriram, sem provas, que as urnas eletrônicas não seriam seguras. A declaração de Bolsonaro acontece em meio a avaliações negativas de seu papel como cabo eleitoral no pleito deste ano: apenas 7 dos 45 candidatos apoiados publicamente pelo presidente conseguiram se eleger.
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Bolsonaro foi questionado por um eleitor sobre o pleito municipal e respondeu que: "Nós temos que ter um sistema de apuração que não deixa dúvidas. É só isso. Tem que ser confiável e rápido, não deixar margem para suposições". Em março, ele também questionou o sistema ao afirmar que, as eleições de 2018, que o elegeram como presidente, foram fraudadas. Nenhuma das declarações foi acompanhada de provas.
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No Brasil, não existe histórico de fraudes no sistema de urna eletrônica. Ainda assim, o presidente defende a volta do voto impresso. "Se não tivermos uma forma confiável de apurar as eleições, as dúvidas sempre vão permanecer e nós devemos atender a população", afirmou. Através das redes sociais, Bolsonaro afirmou que: "Para 2022 a certeza de que, nas urnas, consolidaremos nossa democracia com um sistema eleitoral aperfeiçoado".
Mesmo com apoio do presidente, Wal do Açaí, Deilson Bolsonaro, Clau de Luca e Sonaira Fernandes não são eleitos
Dos 45 candidatos a vereador que apareceram no "horário eleitoral gratuito" de Jair Bolsonaro, apenas sete conquistaram uma vaga no legislativo de suas cidades. Entre os derrotados, estão quatro que tiveram um empenho extra do presidente, como a sua ex-assessora Wal do Açaí (Republicanos), em Angra dos Reis; Deilson Bolsonaro, em Boa Vista; e Clau de Luca (PRTB) e Sonaira Fernandes (Republicanos), em São Paulo.
O quarteto, com os respectivos números, foi mencionado em uma publicação na véspera da votação. A postagem foi apagada no domingo (15) quando as urnas indicavam o fracasso dos apadrinhados. Eles também foram mencionados diversas vezes nas transmissões ao vivo.
Ao pedir votos, o presidente chegou a dizer que era "apaixonado" por Sonaira e Clau. A primeira trabalhou no gabinete de Eduardo Bolsonaro, a segunda se aproximou do presidente nas eleições e é ativa nas redes sociais. "Olha pessoal, tem que eleger essas vereadoras aqui, se não vai pegar mal pra mim pra caramba. Não eleger prefeito é normal, porque a barra é pesada e lá não temos como ajudá-lo", disse Bolsonaro, em uma "live". O apelo não foi suficiente. Sonaira teve 17.868 votos, e Clau de 5.788.
Bolsonaro também mostrou apoio para sua ex-assessora Walderice Santos da Conceição, a Wal do Açaí. Ela concorreu ao cargo de vereadora em Angra dos Reis (RJ) com o nome de Wal Bolsonaro, mas só conquistou 266 eleitores. Durante a campanha, Bolsonaro voltou a negar que Wal tenha sido sua "funcionária fantasma". Ela se demitiu após reportagem da Folha de S.Paulo, em 2018, apontar que ela trabalhava vendendo açaí, enquanto era nomeada no gabinete do então deputado federal.
Entre treze candidatos a prefeito que tiveram votos pedidos por Bolsonaro, apenas dois passaram ao segundo turno: Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio, e Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza. O ex-senador Mão Santa (DEM) foi reeleito prefeito em Parnaíba, no Piauí, e Gustavo Nunes (PSL) conquistou a prefeitura em Ipatinga, em Minas Gerais.
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Bolsonaro também se empenhou para pedir voto para coronel Fernanda candidata ao Senado no Mato Grosso, em uma eleição suplementar. A vaga foi aberta com a cassação do mandato da juíza Selma Arruda, no ano passado. O empresário Carlos Fávero (PSD) venceu com 26% dos votos válidos e terá mandato até 2026. Ele já ocupava o cargo interinamente por ter sido um dos mais votados na eleição de 2018.
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